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#BLACKLIVESMATTER | Contra a aliança com o Partido Democrata, um setor do BLM Califórnia rompe com a rede global

"Se aliar com o Partido Democrata é se unir contra nós mesmos". Publicamos uma declaração emitida por um setor do Black Lives Matter da Califórnia, que cortou as relações políticas com a Black Lives Matter Global Network (BLMGN), a rede global que articula o movimento contra a violência estatal e o racismo.

segunda-feira 8 de fevereiro de 2021 | Edição do dia

Abaixo, publicamos um comunicado emitido pelo grupo formalmente conhecido como Black Lives Matter - Inland Empire (BLM IE), Califórnia, anunciando seu rompimento com a Black Lives Matter Global Network (BLMGN, que articula todo o movimento globalmente). O grupo agora se chama The Black Power Collective. Mais de 10 regionais do BLM já romperam com a direção burocrática imposta pelas táticas do Partido Democrata.

O Left Voice, diário virtual norte-americano da mesma rede do Esquerda Diário, publicou esta declaração apesar das eventuais diferenças políticas, como parte do compromisso de ser um espaço de discussão e debate entre os elementos revolucionários do movimento Black Lives Matter que lutam contra as táticas de cooptação do Partido Democrata e seus aliados.

Esta declaração deve ser um ponto de partida para discussão e debate com todos os membros do movimento BLM. É um passo positivo importante para o movimento pela vida de negros e latinos, porque denuncia a natureza do Partido Democrata como instrumento de opressão capitalista e racista, porque rejeita a ideia de que a libertação pode ser alcançada por meio de formas de “capitalismo negro”, além de que toca na necessidade do movimento ter uma abordagem internacionalista e anti-imperialista.

Para nossa comunidade,

Recentemente, um conjunto de grupos regionais do BLM conhecido como "BLM 10" expressou suas preocupações e sua oposição à Rede Global. Essas preocupações, juntamente com a conduta flagrante exibida pela Rede Global no aniversário do Dr. Martin Luther King, nos levaram a concluir que permanecer em silêncio seria um ato de traição. Embora as questões levantadas sejam bem conhecidas em nosso círculo há anos, isso levantou muitas polêmicas e preocupações para nós localmente. Gostaríamos que a comunidade soubesse que tudo o que está descrito no comunicado emitido pelo BLM 10 é válido. Também entramos em contato com o BLM 10 e nos oferecemos para assinar o manifesto em apoio. Esperamos poder fornecer informações e esclarecimentos sobre a história de nossa seção, nosso relacionamento com a rede global e nossos compromissos futuros.

Quando o BLM IE começou, éramos originalmente conhecidos como Black and Brown Underground (BBU). Em 2015, uma pessoa chamada Patrisse Cullors se aproximou de nós e nos ofereceu a oportunidade de ingressar na Rede Global e nos organizar como uma seção do Black Lives Matter. Depois de ouvir sua proposta, acreditamos que nosso trabalho, direcionamento e princípios se alinhavam e concordamos em fazer parte da rede; renomeando-nos no processo como Black Lives Matter Inland Empire. Disseram-nos que a organização à qual ingressamos era descentralizada e sem liderança, mas rapidamente ficamos desiludidos. A Rede Global é uma organização dogmática de cima para baixo que promove certas seções que optam por se alinhar com sua liderança e marginalizar aquelas que não o fazem. Para nós, localmente, essa seção foi Los Angeles.

Durante anos, a liderança da regional de Los Angeles alinhou-se à rede Global e ao One United Bank para prevalecer sobre outras regionais, principalmente a nossa. Acreditamos que, ao fazer isso, eles receberam doações e fundos substanciais, embora continuamente solicitassem doações da comunidade. A Seção de Los Angeles, juntamente com a Rede Global, têm tentado constantemente suprimir outros grupos e têm trabalhado para minar um movimento de base capitalizando o trabalho não-remunerado, suprimindo qualquer tentativa interna de democracia, mercantilizando a morte de afro-descendentes e lucrando com a dor e sofrimento infligidos às comunidades afrodescendentes pelas quais lutamos. Apesar do ostracismo, da falta de apoio financeiro e dos maus-tratos da Rede Global e da Seção de Los Angeles, mantivemos nossa compostura enquanto trabalhamos para o benefício de nossa comunidade e das vítimas da violência estatal.

Claramente, não temos as mesmas crenças ou senso ético. Não sentimos mais, como no início, que nossa política se alinha. Como resultado, anunciamos que não estamos mais associados ou conectados à Rede BLM Global. Na tentativa de nos distanciar, decidimos mudar o nome de parte de nossa organização para The Black Power Collective durante a reestruturação.

O uso do nome BLM, que acreditávamos ter como objetivo unificar nossa luta, foi mercantilizado e degradado. Agora é usado para vender produtos, comprar ofertas de livros, ofertas de televisão e conferências. Não temos interesse nessas atividades e nos opomos ao movimento para substituir o "capitalismo branco" pelo "capitalismo negro". Ficou claro que a rede Global e certas figuras organizaram nossas lutas com o único propósito de explorar nosso trabalho.

Além disso, a questão que mais nos preocupa é a relação entre a Rede Global e o Partido Democrata. Isso é hipócrita na melhor das hipóteses, já que o Partido Democrata historicamente rejeitou e ignorou as demandas do BLM e deixou claro que eles são pró-polícia, pró-prisão e comprometidos com o capitalismo. Do apoio de Obama à polícia e sua traição à Erica Garner, à negação de justiça da "Top Cop" Kamala Harris para Matrice Richardson, até mesmo voltando lá ao Projeto de Lei contra o crime de 1994, escrito por Joe Biden, junto com a Lei da Reforma do Litígio de Prisioneiros, que eliminou os direitos humanos básicos de inúmeras pessoas negras - o Partido Democrata criou literalmente as condições que levaram à formação desse movimento. Mesmo agora, o Partido Democrata continua a apoiar o imperialismo, matando chefes de estado africanos, bombardeando a Somália, abusando de imigrantes (incluindo aqueles da diáspora negra) e espalhando os militares americanos em países africanos e em todo o mundo. Este é um jogo que é uma ameaça tanto aqui como internacionalmente. Aliar-nos a eles é nos aliarmos contra nós mesmos.

A declaração do BLM10 aponta a falta de transparência financeira e as decisões de poder por parte de Patrisse Cullors e outros. As ações tomadas pela Rede Global demonstraram que a Rede Global é essencialmente um comitê diretor que atua no melhor interesse de várias facções dentro do Partido Democrata. Além disso, a criação do Comitê de Ação Política Black Lives Matter é uma violação do nosso acordo coletivo. Esse acordo era composto de duas regras: 1. Não trabalhamos com a polícia, 2. Não apoiamos políticos. Esperávamos que essas regras protegessem nossa luta de ser corrompida pelo setor sem-fins-lucrativos ou absorvida pelo Partido Democrata. No entanto, agora parece que o mesmo destino do qual muitos grupos ativistas foram vítimas antes de nós é o mesmo destino que a Rede Global BLM está destinada. Eles não apenas se alinharam com um partido político, eles usaram os recursos adquiridos de um levante de massas durante a pandemia para criar o acima mencionado CAP BLM.

Acreditamos que todas as finanças devem ser claras e transparentes para a comunidade negra. Também acreditamos que eles devem ser controlados por setores que aderem a uma estrutura democrática, juntamente com controle e fiscalização comunitários. Os líderes que se autodeclaram líderes não podem mais servirem ou serem vistos como líderes. Não podemos aceitar figuras carismáticas que se imponham como ditadores, nem podemos apoiar cultos de personalidade. No espírito de Audre Lordre e Ella Baker, acreditamos que "... as ferramentas do mestre nunca desmontarão a casa do mestre" e que "... pessoas fortes não precisam de líderes fortes." Para isso, é fundamental que lutemos com nossas próprias ferramentas e trabalhemos para construir um povo mais forte.

Também gostaríamos de abordar os rumores violentos dirigidos a um membro do nosso grupo que foi maliciosamente acusado de ser um membro da polícia. Essas acusações difamatórias vieram de um líder do BLM LA e um testa de ferro da Rede Global. Essas acusações nada mais foram do que uma tentativa de se esquivar da responsabilidade pela forma como os membros da liderança nacional trataram as vítimas da brutalidade policial e é uma violação de suas próprias políticas. O assédio e as tentativas de silenciar as seções menores e as pessoas que se atrevem a falar devem acabar.

Vamos ser claros, não somos os autores da discórdia dentro do nosso movimento. Malcolm X nos encorajou a lidar com nossas diferenças a portas fechadas, mas todas as tentativas disso falharam. Essa corrupção floresceu em parte por causa do nosso silêncio e por isso devemos nos desculpar.

“Não esconda nada das massas de nosso povo. Não diga mentiras. Exponha mentiras sempre que elas forem contadas. Não esconda dificuldades, erros, falhas. Não reivindique vitórias fáceis...” -Amilcar Cabal




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