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UNIFICAR JUVENTUDE COM A CLASSE TRABALHADORA | Contra a Reforma da Previdência e os ataques à educação, precisamos construir uma saída antiburocrática

Frente aos avanços dos ataques do governo Bolsonaro, é preciso recolocar fortemente a necessidade de unificarmos a revolta dos estudantes contra os cortes na educação e o escandaloso projeto "Futura-se" de Weintraub com a luta contra a nefasta Reforma da Previdência.

segunda-feira 22 de julho de 2019 | Edição do dia

Desde o dia 10 de Junho, a quase duas semanas, a Câmara de Deputados aprovou em 1º turno a Reforma da Previdência, depois de meses de muitas disputas internas, e muita propaganda de que a reforma seria o grande estimulo a economia brasileira e a salvação para retomar a geração de empregos. Entre a criação da idade mínima para 65 e 62 anos (para homens e mulheres, respectivamente), o aumento do tempo de contribuição para 40 anos aos que querem receber valores integrais de aposentadoria, e uma série de outras medias, o ataque já é brutal por si só contra a classe trabalhadora. Mas é também a própria mudança no discurso do governo e de diversos veículos de mídia que mostram que a Reforma da Previdência não é suficiente aos olhos dos capitalistas para recuperar a economia.

Após arrancar a previdência dos trabalhadores, mais ajustes são necessários para sanar a crise capitalista

Dias após a aprovação da reforma, o giro de discurso foi rápido, com diversas mídias colocando que a reforma por si não era estímulo a curto prazo na economia, fazendo defesas ferrenhas das privatizações e de avançar mais ainda na implementação de ataques previstos na reforma trabalhista de Michel Temer, e arrancar ainda mais direitos trabalhistas. Junto com isso, Paulo Guedes e Bolsonaro ensaiam uma jogada demagógica, mas que também desvela a incapacidade da reforma em gerar os empregos que Bolsonaro prometeu com ela. O próprio presidente declarou em entrevista que a reforma seria uma “quimioterapia” para os problemas do país, deixando escapar o quão nociva e paliativa seria a medida em si para a economia.

Guedes falou durante toda a última semana em liberar parte dos valores de FGTS, uma “injeção econômica”, forma clara de jogar com a aprovação do governo após a aprovação de um ataque importante, buscando fazer com que as massa trabalhadoras atacadas com a reforma sentissem uma melhora material nas suas condições de vida com a liberação do dinheiro. Mas essa medida também é vista por diversos analistas como uma medida limitada em si mesma, e está bem claro que os saques ao FGTS não darão conta de "animar a economia". Nesta semana também se abriu uma espera de que Bolsonaro ira assinar uma nova MP (Medida Provisória) para liberação de parcela de agosto do 13º e do INSS. As medidas de Guedes e Bolsonaro para “aquecer a economia” mostram a falácia de seu próprio discurso construído ao longo de todo o ano sobre a Reforma da Previdência, e apontam o caminho para novos ataques, intensificando agora a entrega de direitos e a precarização das vidas em nome dos lucros dos capitalistas (estrangeiros e nacionais).

O desenrolar da política nacional pós aprovação da reforma vai desvelando cada vez mais o como a Reforma sozinha não é suficiente para saciar a ganância dos capitalistas e do projeto golpista, de entregar cada vez mais nossos recursos ao imperialismo, como quer Paulo Guedes com seu absurdo plano de privatizações de 132 estatais, que significa a entrega do país ao imperialismo com o maior plano de privatizações da história.

Da mesma forma está na mesa também o acordo entre União Europeia e Mercosul, um avanço claro na pressão das potencias imperialistas pela aprovação de mais ajustes no Brasil, e de uma “reeprimarização” da economia Brasileira, a grande “fazenda do mundo”, permitindo a entrada de diversos produtos europeus sem impostos no Brasil, e o avanço de empresas europeias na produção nacional, caso aprovado o acordo.

A aprovação da reforma apontou para o governo o caminho: seguir aprofundando os ataques neoliberais na economia em nome do imperialismo. Não existe outro caminho para os capitalistas e sua sede de lucros para sanar a crise que não seja garantir cada vez mais recursos para a sangria trilhonária da Dívida Pública, enchendo o bolso de banqueiros internacionais, e avançando cada vez na entrada do capital estrangeiro no Brasil, na base de postos de trabalho cada vez mais precários e insalubres.

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Bolsonaro de olhos abertos contra os estudantes: um setor chave para os ataques do governo

Por outro lado, a aprovação da reforma também deixou o governo mais confortável para voltar forças outra vez contra um setor social importante, que até agora nesses 6 meses de governo se mostrou como principal oposição ao projeto do governo. Esse setor são os estudantes, que saíram às ruas nos dias 15 e 30 de maio, contra os cortes de Bolsonaro e Weintraub nas universidades federais, e mostraram que é sim possível desatar uma força capaz de derrotar estes ataques.

Todavia, devido a separação das bandeiras contra os cortes na educação levantada pelos estudantes, especialmente das universidades e institutos federais, da luta contra a Reforma da Previdência que encontrava insatisfação entre trabalhadores, mas que estava controlada pela poderosa burocracia sindical, o movimento só pode ir até um limite. E a resposta de Bolsonaro aos estudantes veio também a apenas dias da aprovação da Reforma da Previdência, com Weintraub, cabeça do MEC, apresentando o projeto Future-se, um conjunto de medidas ilegais e ultra neoliberais contra as universidades e institutos federais, atacando brutalmente os orçamentos para educação, a autonomia universitária e a pesquisa, abrindo cada vez mais espaço para aprisionar a pesquisa nas universidades brasileiras aos interesses de grupos privados e empresas estrangeiras.

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O projeto Future-se de Weintraub quer nos levar para um futuro de completa degradação do ensino público superior, estabelecendo medidas como o limite de gastos com pessoal nas universidades, cortando salários de professores e trabalhadores, entregando na mão de organizações sociais (leia-se empresas privadas) o poder de gestão de recursos e patrimônios das universidades e institutos federais. Além disso, Weintraub quer a criação de um fundo de investimento de US$ 102 bilhões para especulação na bolsa de valores, bancado com recursos públicos.

É evidente que um ataque deste tamanho busca responder ao tamanho da força que Bolsonaro sabe que tem a sua frente com o movimento estudantil, ainda mais se este avança para o que foi impedido por suas direções e pelas centrais sindicais, que é se unificar com a classe trabalhadora, e por isso mesmo é fundamental agora, para sabermos como nos enfrentar com cada ataque que vem pela frente, e nas batalhas ainda por se dar contra a Reforma, difundirmos balanços claros as lições corretas das lutas que travamos até agora nos das 15 e 30 de Maio, e na paralisação nacional do dia 14 de junho.

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Unificar a luta contra os ataques à educação e a luta contra a reforma da previdência por uma saída independente

Como colocado antes, a força demonstrada pelos estudantes nos dias 15 e 30 de maio foi fundamental para mostrar a todos que é possível vencer os ataques de Bolsonaro. Mas para isso é preciso entender o que se passou com a enorme energia demonstrada pela juventude que saiu às ruas nesses dois dias, e o como se deu a aprovação da reforma da previdência.

Desde anunciado os cortes de Weintraub às federais, e que ele e Bolsonaro avançaram com um discurso demagógico, de que era necessário esperar pela Reforma da previdência para ter de volta o dinheiro das universidades, nós do Esquerda Diário e da juventude marxista Faísca – Anticapitalista e Revolucionária, discutíamos a importância de unificarmos as pautas, somar a força da luta dos estudantes contra os cortes à luta contra a Reforma da Previdência. Batalhamos em cada universidade e local de trabalho onde estamos por uma unificação de nossas fileiras, e para que a força dos estudantes servisse de motor para incendiar a luta dos trabalhadores.

No entanto, nos deparamos a nossa frente com direções burocráticas e com suas intenções completamente opostas aos interesses dos estudantes e trabalhadores. As direções de UNE, CUT e CTB (todas dirigidas por PT e PCdoB), junto a outras centrais sindicais fizeram tudo o que podiam para manterem separados os estudantes e os trabalhadores, e para que as lutas não se unificassem. Isso por que, desde o início do ano esses dois partidos dividem suas tarefas entre seus governadores, dirigentes sindicais e dirigentes estudantis, enquanto negociam nossos direitos com Rodrigo Maia, o Congresso e o Governo. O PCdoB por exemplo, desde o início do ano se apoiou em Rodrigo Maia, votando no principal articulador da Reforma para a presidência da Câmara de Deputados. Junto a isso, seus governadores, junto aos governadores do PT no Nordeste, assinaram uma carta semanas antes da aprovação da Reforma, defendendo que fosse aprovada e que, pior ainda, já incluíssem seus Estados e Municípios, para lavar suas mãos de ter de pautar esse ataque brutal eles mesmos. Estes mesmos governadores, com Welington Dias (PT-Piauí) encabeçando, agora batalham para que no Senado consigam incluir na reforma seus estados.

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E enquanto isso, nas cúpulas das centrais sindicais, como a CUT e a CTB, negociavam contra a MP do imposto sindical obrigatório de Bolsonaro, com toda a disposição de entregar nossas aposentadorias como moeda de troca. Para essa centrais, qualquer força das ruas deveria ser usada para “desidratar” a reforma de Bolsonaro, e não impor qualquer tipo de derrota ao governo. O mais criminoso dessa política está no fato de que enquanto negociam nossas vidas e nosso futuro com essa reforma para manter seus privilégios acabam por fortalecer o próprio governo que com a aprovação em primeiro turno lança mão de muitos mais ataques.

As direções sindicais e estudantis não só não organizaram qualquer tipo de plano de lutas contra a reforma e os cortes, como permitiram a votação em primeiro turno da Câmara acontecer em completa paz. No dia 10, em que foi votada a reforma, se iniciava em Brasília, a poucos quilômetros do antro reacionário presidido por Rodrigo Maia, o 57º Congresso da UNE, um espaço que reuniu milhares de estudantes de todo o país, mas que, às ordens de sua majoritária encabeçada pelo próprio PCdoB, não mudou em nada sua programação em meio a aprovação desse ataque central do governo.

Veja nosso balanço do Congresso da UNE: Entre os que preparam nossa derrota e os desafios de um movimento estudantil que pode vencer

A UNE inclusive assinou um manifesto, divulgado hoje, contra o projeto Future-se, de Weintraub, em que fala muito timidamente sobre a Reforma da Previdência, mas que mantém sua linha política de separa estudantes e trabalhadores a partir do momento em que não coloca como eixo do dia de mobilização convocado para 13 de agosto a luta contra a Reforma da Previdência que pra juventude que amarga taxas de desemprego galopantes e um cenário cada vez mais provável de nova recessão econômica como política do Estado significará toda uma geração perdida.

Nós da Juventude Faísca fizemos uma homenagem a Thiago Dias, jovem trabalhador que morreu durante a nova "jornada de trabalho" dos aplicativos de entrega, trabalhando pra Rappi. Contra esse projeto neoliberal que nos arranca o direito ao futuro e à vida é preciso dizer o que Thiago representa: Nos querem completamente desalentados, para que nos sujeitamos a literalmente trabalhar até morrer, sem direito a aposentadoria e em condições cada vez mais precárias por um lado. Ao mesmo tempo que essa extrema direita busca elitizar ainda mais as universidades e entregá-las pras mãos dos tubarões do ensino para especularem com a verba dessas instituições, o ensino superior cada vez mais como um nicho mercadológico e a serviço do enriquecimento dos capitalistas.

Por isso é fundamental agora, frente aos avanços dos ataques do governo Bolsonaro, recolocar fortemente a necessidade de unificarmos a revolta dos estudantes contra os cortes e o projeto de Weintraub com a luta contra essa reforma nefasta e para que tiremos lições profundas da política das burocracias desses partidos canalizando essa disposição de luta e força social da juventude para se aliar aos trabalhadores e adotar uma estratégia pra vencer.

Desde o CONUNE discutimos também a necessidade de construir uma força anti-burocrática, capaz de superar essas direções que mantiveram as lutas em separado e que nos traíram com suas negociações. Fizemos, durante o Congresso da UNE, um chamado ao PSOL, PCR e PCB, forças de oposição à atual majoritária da entidade, um chamado por uma plenária unificada da oposição para debatermos quais as tarefas hoje para uma alternativa independente.

Declaramos, enquanto Faísca, nosso voto crítico à chapa unificada da oposição, mas seguimos agora apontando para o debate que vemos como central: Conformar, no retorno às universidades e às aulas, em cada universidade, polos de uma oposição anti-burocrática, que se apresente enquanto alternativa as direções de PT e PCdoB, baseados na construção de plenárias regionais das forças de oposição, espaços onde todos os estudantes que vejam que é necessário construir uma alternativa a essas burocracias possam debater e encontrar caminhos para se organizar. É a partir de espaços como este, que levantaremos com muita força a necessidade de uma oposição que esteja norteada por um programa anticapitalista, que aponte uma saída onde não sejamos nós que paguemos pela crise que os próprios capitalistas criaram, com nossas vidas e nosso futuro, e que se coloque a denunciar estas burocracias que hoje imperam nas entidades estudantis e nos sindicatos, como a UNE, a CUT e a CTB, que negociaram e entregaram nossos futuros com a aprovação da Reforma da Previdência, mas que também exija delas, e seja um forte ponto de pressão, para a existência de um plano de lutas real contra todos os ataques aos estudantes e trabalhadores.

Essas plenárias devem servir para a construção de um dia 13 que aponte o caminho para conseguirmos impor uma derrota a esse projeto que deixa a juventude em uma encruzilhada, e por isso estamos batalhando pela conformação deste polo burocrático e para que eles sirvam para organizar os estudantes a partir de seus locais de estudo para se enfrentar contra todos os ataques, mas se pautando pela necessidade unificar juventude aos trabalhadores única força social capaz de garantir que sejam os capitalistas que paguem pela crise, por isso é fundamental a não separação da luta da previdência e a luta da educação.

Nós da Faísca levantamos um programa que aponta claramente que são os capitalistas os que devem pagar por essa crise e não nós. Por iss batalhamos por um programa que defenda a universidade e o ensino superior público contra o projeto da extrema-direita, mas que questione também o caráter de classe da produção de conhecimento dessas instituições. Ampliando as cotas etnico-raciais rumo ao fim do vestibular pra que toda juventude possa estudar, e para que tenhamos vagas e qualidade no ensino ele deve deixar de estar atrelado aos interesses das empresas e do lucro. Somente com a estatização de todas as universidades particulares e com um ensino voltado aos interesses dos trabalhadores e do conjunto da população.

Contra esse projeto neoliberal assassino para nossas vidas e para resolver o absurdo do desemprego no país é preciso questionar o pagamento da fraude da dívida pública, uma espécie de bolsa-banqueiro para os grandes capitalistas do imperialismo e cujo pagamento segue sendo a principal justificativa para o conjunto dos ataques. Devemos levantar seu não pagamento para que não tenhamos nossa economia constrangida por interesses internos, e também que todas as horas de trabalho sejam dividas entre os empregados e desempregados, diminuindo a jornada de trabalho de 8 para 6 horas sem redução salarial ou perda de direitos.

Acreditamos que com a força dessa aliança entre estudantes e trabalhadores podemos vencer e impor que sejam eles, os capitalistas, que paguem pela crise.

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