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II CONGRESSO DO MRT | Congresso do MRT: é preciso colocar as ideias marxistas à frente

Durante os dias 17, 18 e 19 de março ocorreu em São Paulo o I Congresso do MRT. Uma das resoluções votadas foi a de impulsionar uma importante ofensiva ideológica, que coloque as ideias marxistas e revolucionárias à frente. O Esquerda Diário conversou com Iuri Tonelo e Simone Ishibashi sobre a nova revista Ideias de Esquerda, que será lançada em meados de abril, e as demais iniciativas teóricas do MRT.

terça-feira 21 de março de 2017 | Edição do dia

Quais os desafios teóricos principais que vocês debateram no Congresso do MRT frente à atual situação política nacional e internacional?

Iuri: Nós debatemos no Congresso como um todo a necessidade de pensar as distintas formas políticas e ideológicas de rearmar a classe trabalhadora e a juventude para encarar uma nova situação internacional e nacional, marcada por elementos de crise orgânica, entendida – entre outros traços - como uma crise das formas de hegemonia da classe dominante. Como resultado dessa crise, ocorre em diversos países do mundo uma separação das massas com os partidos e políticos tradicionais, gerando uma série de novos fenômenos. A ascensão de Trump à presidência dos Estados Unidos de um lado, ou o surgimento do neorreformismo como o do Syriza e PODEMOS na Europa de outro, ou fenômenos nacionais como golpe institucional, exigem que se dê um combate decidido também no campo das ideias. Para isso votamos novos instrumentos de debate teórico político, com o lançamento da revista Ideias de Esquerda e de um canal de vídeos com discussões teóricas e de formação marxista.

Simone: Exatamente. Nesse contexto internacional e nacional o Congresso debateu a necessidade de nos rearmarmos com o que há de melhor da tradição teórica marxista revolucionária, para dessa maneira contribuir para a superação da brecha existente hoje entre a teoria marxista e a prática militante. Não pode ser que nessa situação os debates teóricos caibam fundamentalmente aos acadêmicos. A análise marxista de novos fenômenos como a ascensão de Trump à presidência norte-americana, ou as vias para a necessária crítica teórico-política das mediações reformistas e neorreformistas da classe trabalhadora e da juventude também em nosso país, precisam ser encaradas desde um ponto de vista vivo, ou em outras palavras, militante. No centenário da revolução russa essa perspectiva é de suma importância. Queremos com isso abrir espaço para uma nova camada de jovens intelectuais marxistas, que queiram interpretar mas também transformar o mundo. Trata-se de um projeto apaixonante, que é de suma importância.

A revista Ideias de Esquerda que vocês lançarão vem então para contribuir para isso? Vocês podem citar alguns temas que ela tratará no seu primeiro número?

Iuri: Sim, claro. A revista Ideias de Esquerda é uma iniciativa que busca recompor, como disse Simone, a relação entre a teoria marxista e os principais desafios que se colocam em nossos dias. Esperamos que ela seja lida, difundida, criticada e apropriada por todos os que estão abertos a se colocar nessa perspectiva. Existem muitos debates que ainda estão por serem feitos desde uma ótica teórica revolucionária, e que nós buscaremos contribuir com a revista Ideias de Esquerda. Hoje, por exemplo, vivemos uma transformação da política nacional extremamente importante. O PT, que durante três décadas foi a grande mediação da classe trabalhadora, está passando por uma crise “histórica” da qual não se sabe o resultado. É fundamental um debate teórico sobre isso. Assim, o primeiro número da revista Ideias de Esquerda trará um dossiê dedicado ao balanço do PT, da atuação das correntes da esquerda em seu interior, e do processo das Diretas Já. Também analisaremos a Constituinte de 1988, que segue sendo defendida como uma grande conquista por setores da esquerda, mas que foi tutelada pela ditadura militar. Fazer esse balanço é fundamental para não recair nos erros de que se pode dar uma resposta “pelo alto" à crise política, econômica e social que assola o país.

Simone: Além de dossiês temáticos como o dedicado ao balanço do PT, a revista tratará ainda de temas diversos como economia, debates internacionais, sobre a questão negra e de mulheres, cultura, e entrevistas com intelectuais relevantes. Para citar apenas uma questão que abordaremos nesse primeiro número não poderíamos deixar de aprofundar a reflexão teórica sobre a eleição de Donald Trump, e suas implicações para a situação internacional de conjunto. Bem como qual a resposta que os marxistas revolucionários devem dar frente a isso. Essa questão é muito importante, pois a ascensão de Donald Trump marca um cisma fundamental com a política de dominação imperialista das últimas décadas, marcada pela globalização e o neoliberalismo. Trump e seu discurso protecionista, xenófobo e machista tende a aprofundar um fenômeno mundial, que é a resistência das mulheres, negros e imigrantes. Isso exige, como é evidente, que o marxismo ofereça resposta a esses fenômenos e possa ser parte ativa em seu apoio, mas é preciso também elaborar uma estratégia de independência de classe, que impeça que esses movimentos progressistas terminem sendo capitalizados por alas “anti-Trump em geral”, cuja ampla gama de opositores engloba também setores da própria burguesia imperialista.

E onde poderemos ter acesso à revista Ideias de Esquerda?

Iuri: A Revista será acessada no interior do portal Esquerda Diário, sendo a expressão teórica e de debates do portal. A princípio será uma revista eletrônica, o que facilita o acesso, e já é uma tendência importante desse tipo de publicação. Várias revistas internacionais utilizam esse meio, e nós avaliamos que seria adequado para dar a ofensividade que buscamos na difusão das nossas ideias.

Simone: Sim. Nós partimos de uma experiência extremamente importante com o trabalho pela internet que é o próprio o Esquerda Diário, que já atingiu a marca de 700 mil acessos. É certo que a revista Ideias de Esquerda terá outra linguagem e formato, adequados para o debate teórico, e será disponibilizada em uma versão diagramada. Mas estamos muito entusiasmados com o alcance que ela pode ter via internet.

Vocês também farão um canal de vídeo. Podem nos contar um pouco sobre o objetivo?

Simone: Claro. O canal de vídeos se destina a que todos também possam acessar discussões sobre a teoria marxista, de onde estiverem. Trataremos tanto de temas teóricos clássicos, como conceitos presentes nas obras de Marx, Lênin, Trotsky e Rosa Luxemburgo, como de temas da atualidade internacional e nacional, abordados a partir de uma perspectiva marxista. Todos sabem da importância que Lênin dava ao cinema, como um instrumento de comunicação revolucionário e de grande impacto nas massas. Em certo sentido a internet ocupa esse espaço hoje. Temos muita ambição e segurança de que as ideias revolucionárias podem impactar os corações e mentes de trabalhadores, jovens, mulheres e negros que buscam uma alternativa à miséria capitalista. E esse é um instrumento que permite um alcance importante.

Iuri: É uma via de difundir as ideias marxistas revolucionárias para amplos setores. Nós sabemos que muitas vezes a classe trabalhadora não pode se dedicar com muito tempo a estudar obras mais complexas do marxismo. Que o embrutecimento imposto pelo capitalismo consome a vida dos trabalhadores. Mas que se não podem ler textos por conta disso, muitas vezes podem assistir a um vídeo, usando a tela do celular. Então os vídeos se destinam também a responder a essa necessidade dos trabalhadores, de poderem assisti-los enquanto vão ao trabalho, repassar aos seus amigos, enfim de se apropriar desse conteúdo de uma maneira mais dinâmica. Queremos com esse canal promover verdadeiras escolas de formação marxista revolucionária, que seja acessível tanto na linguagem como no formato, podendo assim ser uma ferramenta eficaz, que contribua para que os trabalhadores possam se preparar para novamente tomar o céu de assalto. Como fizeram as operárias e operários russos há exatos 100 anos.


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