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ANÁLISE NACIONAL | Como fica o Centrão após decisão de Fachin?

Arthur Lira (PP), presidente da Câmara, então investigado por esquema de corrupção, mostrou-se feliz depois de sua absolvição concedida pelo STF. No entanto, insatisfeito pela não suspeição de Moro a partir de decisão de Fachin, ocorrida hoje. O Centrão foi beneficiado pelo STF com o golpe de 2016 e agora, com Bolsonaro, reestabeleceu seu velho fisiologismo corrupto e golpista com a falência do projeto lavajatista.

terça-feira 9 de março de 2021 | Edição do dia

Foto: Cleia Viana/Câmara dos Deputados
Crédito Foto: Nelson Jr./SCO/STF

"Minha maior dúvida é se a decisão monocrática foi para absolver Lula ou Moro. Lula pode até merecer absolvição. Moro, jamais", escreveu Arthur Lira (PP), presidente da Câmara e apoiador de Bolsonaro.

Ainda que a posição do Centrão, ator tão volátil dentro do regime do golpe, não esteja clara até o fim, o que este tweet revela em primeiro lugar é que o Centrão odeia Sergio Moro e a Lava-jato. Mas posição do Centrão em relação a decisão de Fachin é ambígua.

Se, por um lado, foram eles um dos grandes pilares do golpe institucional de 2016, com o eloquente discurso "anticorrupção" que assegurou o caminho para estabelecer um governo ultra corrupto como de Temer (MDB), por outro, sofreram alguns revezes pela Lava-Jato.

Outra coisa que o tweet mostra é um aceno do Centrão em relação a Lula e o PT. O anti-lavajatismo é um ponto de unificação entre Lira, o Centrão, o PT e um setor do STF, composto por Gilmar Mendes, Lewandowski e Kássio Nunes. Obviamente que cada setor destes é anti-lavajatista por questão de seus interesses específicos, o Centrão o é por conta dos seus interesses de casta dentro do regime.

Cabe lembrar que um dos lemes da campanha política de Bolsonaro, foi ser contra o "toma lá da cá", isto é, o velho presidencialismo de coalização que tanto beneficiou os partidos tradicionais de direita que compõem o Centrão, inclusive sob gestões do PT, que privilegiaram interesses do agronegócio e da bancada evangélica. O discurso lavajatista foi uma das alavancas do antipetismo, que Bolsonaro estimulou pra ascender a extrema direita, liderado pela figura de Sérgio Moro que, de juiz, logo se incorporou ao governo enquanto ministro.

Contudo, a custosa manutenção de disputas políticas entre STF e Congresso por um lado, Bolsonaro e sua base de extrema de direita, por outro, levaram a mudanças de seu governo instável. Em meio a denúncias de interferências na Polícia Federal pelo presidente, Moro sai do governo e anuncia a ruptura da ala dita "anticorrupção", enquanto Bolsonaro ameniza o tom com STF e reestabelece relações com o Congresso, se aproximando do Centrão.

Hoje, com presidentes na Câmara e Senado apoiados por Bolsonaro, o Centrão reestabelece seu velho fisiologismo. Inclusive, há poucos dias atrás Arthur Lira era acusado de receber R$ 1,6 milhão de propina pela construtora Queiroz Galvão e de ser beneficiado com R$ 2,6 milhões de supostas "oficiais" doações eleitorais realizadas pela UTC Engenharia. O caso fazia parte de um esquema chamado "quadrilhão do PP" apresentado 2017 para investigação e arquivado em 2 de março pelo STF, absolvendo Lira, um dos investigados pela PGR.

Ontem, dia 8, o STF, por decisão de Edson Fachin, anulou três processos que corriam contra Lula, porém, como é discutido mais detidamente aqui, impediu que Moro ganhasse suspeição, pois a votação da suspeição do ex-juiz seria feita hoje, blindando o juiz e legitimando os últimos resquícios da falência da Lava-jato, encerrada em Curitiba no dia 3 de fevereiro pelo MPF.

Os anseios do Centrão foram alcançados por meio de largos acordos com Bolsonaro e com o vitorioso resultados que teve nas eleições de 2020, na qual reestabeleceram poder dirigindo prefeituras de cidades e estados, além das eleições ganhas na Câmara e no Senado. Todos esses movimentos do regime político comprovam que a Lava-Jato e o discurso contra corrupção era tão somente uma farsa para o empreendimento de uma nova rodadas de reformas mais duras contra os trabalhadores, para além daquelas promovidas pelos governos do PT.

Essa é mais uma mostra do regime golpista que se forjou ao longo dos anos, que aprovou as reformas trabalhista e da previdência, a PEC do teto de gastos, que avança na terceirização e precarização do trabalho.

Sem confiar no autoritarismo judiciário e contra todo o regime do qual Bolsonaro, os militares e o centrão (impunemente) faz parte, somente uma resposta independente dos trabalhadores organizados é que pode dar uma saída.




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