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CAPITALISTAS LUCRAM MAIS COM A PANDEMIA | Com preços de insumos até cinco vezes maior, reconversão sob controle operário é urgente

Enquanto vemos até trabalhadores da saúde sem máscaras e testes, os produtores de insumos estão lucrando como nunca, vendendo suas mercadorias por mais de 500% mais caros. Temos que dizer que nossas vidas valem mais do que os lucros deles!

quinta-feira 30 de abril de 2020 | Edição do dia

Os preços dos insumos usados no tratamento da pandemia do coronavírus, como máscaras, testes e respiradores dispararam por causa da grande procura, que levou à escassez de produtos de uma hora para outra no mercado. Uma máscara N95, por exemplo, aquela que parece com um bico de pato e cujo uso é recomendado a profissionais da saúde, anteriormente custava R$ 5. Hoje, a unidade não sai por menos de R$ 28.

A história se repete com a máscara cirúrgica, cujo preço não chegava a R$ 1, e agora varia entre R$ 4 e R$ 5 a unidade. Além disso, os vendedores exigem pagamento à vista e muitas vezes antecipado. "É máscara para cá e dinheiro para lá", diz Aldevânio Francisco Morato, presidente da Federação Brasileira de Hospitais, ilustrando bem o tom das negociações com os fornecedores. A sua entidade representa 4.200 hospitais nos País, entre privados e filantrópicos. O que Aldevânio não revela é que a situação em muitos hospitais é a de falta de EPIs (equipamentos de proteção individual, como as máscaras) para muitos profissionais da saúde, que estão constantemente expostos ao vírus. Principalmente na rede pública, que não conta com os lucros exorbitantes dos empresários da saúde, e, pelo contrário amargou inúmeros cortes com todos os governos.

Antes da pandemia, segundo o empresário, os hospitais conseguiam parcelar o pagamento dos equipamentos de proteção individual (EPIs) em 30, 60 e até 90 dias. Hoje, como os fornecedores tradicionais não têm o produto, é preciso buscar outros. E quem dita as regras são eles, com exigência de pagamento à vista, por exemplo. "Além do preço extremamente abusivo, não temos de quem comprar."

Presidente do Conselho de Secretários Municipais de Saúde, Geraldo Reple, de São Bernardo do Campo (SP) indica que os hospitais públicos sofrem ainda mais escassez diante da alta dos preços. Além das máscaras, ele cita o caso dos respiradores. "Os poucos que existem, antes da pandemia custavam R$ 60 mil e hoje o preço é de R$ 200 mil."

Para equipar os quatro hospitais do município, um deles com uma ala reservada para covid-19, o secretário diz que está gastando muito mais. Anteriormente, os hospitais públicos locais utilizavam entre 4 mil e 5 mil máscaras cirúrgicas por mês. Hoje é essa quantidade por dia. São Bernardo do Campo é a terceira maior cidade do Estado de São Paulo com mais óbitos por causa do novo coronavírus. O secretário ressalta que o grande problema é a falta de testes, outro insumo que subiu de preço e a oferta é insuficiente, sendo que os governos tem lavado as mãos e feito com que o Brasil seja o país com a maior subnotificação de casos em todo o mundo.

Reple conta que os sete municípios do ABC paulista se uniram para comprar 1 milhão de exames. Foi feita a licitação e quem ganhou foi um fornecedor chinês. Cada teste saía por R$ 4. Na hora de fechar o negócio, o preço pulou para quase R$ 200, o que inviabilizou a compra.

"As pessoas estão perdendo a crítica, estão gananciosas", afirma Reple, como se a essência do capitalismo não fosse exatamente o lucro dos empresários acima de qualquer escrúpulo ou consideração moral. Resultado: o município depende hoje de testes enviados pelo governo federal – que, como sabemos, não está fazendo nada -, compra quando o preço está razoável e tenta fazer a testagem por meio de exames em laboratórios.

Medicamentos

Tanto Morato como Reple dizem que não observaram aumentos nos preços dos medicamentos. Neste caso, a pressão de preços foi sentida pelos laboratórios. "Recebemos denúncias de aumentos de até 900% no preço dos insumos usados para a produção da hidroxicloroquina (remédio em testes) e estamos investigando", afirma Fernando Capez, diretor da Fundação Procon-SP, que comanda a Secretaria Especial de Defesa do Consumidor, criada em São Paulo este mês. Esses mesmos laboratórios, no entanto, são das empresas que mais lucram, fazendo das vidas humanas uma mercadoria.

Reconversão, estatização e quebra das patentes são a única forma de garantir acesso

Essa situação absurda mostra em primeiro lugar a urgente necessidade de reconversão de todas as indústrias necessárias para a produção dos insumos para o combate do coronavírus. É totalmente viável que indústrias sejam adaptadas para a produção de máscaras, respiradores, insumos hospitalares como luvas, aventais, álcool gel e os insumos para os remédios que estão sendo utilizados no combate à pandemia. Essa medida precisa ser tomada com urgência, colocando os trabalhadores dessas indústrias, que são os mais afetados pela pandemia e os mais interessados em salvar vidas, e não lucros, para controlar a produção.
Além disso, vemos como os capitalistas se aproveitam de seus “direitos de propriedade” não apenas na fabricação, mas na patente de produtos. Todos os remédios e equipamentos utilizados no combate à pandemia precisam ter suas patentes quebradas, para que sejam produzidos e vendidos a preço de custo. As empresas que venderem acima do preço devem ser expropriadas sob controle dos trabalhadores.
Além disso, os hospitais privados também devem ser declarados de utilidade pública e centralizados sob o SUS, com controle dos trabalhadores, garantindo assim leitos para os que necessitam. São medidas assim, que colocam as nossas vidas acima dos lucros, que poderão garantir o combate efetivo à pandemia e aos urubus que querem lucrar com nossas mortes.




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