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CORONAVÍRUS | Com mais casos que a média nacional e gaúcha, Caxias do Sul (RS) irá retornar as atividades sob ameaça de demissões

Barões da indústria e do comércio caxiense querem o retorno das atividades a todo custo. Apoiados no discurso de Bolsonaro de que "o vírus está passando" a sede de lucro capitalista é imposto sob ameaça de haver muitas demissões nos próximos meses. A intenção da patronal e do Prefeito Flávio Cassina (PTB) é voltar pelo menos 50% das atividades industriais quarta-feira, numa cidade que apresenta um índice de infecção de coronavírus acima da média gaúcha e nacional.

terça-feira 14 de abril de 2020 | Edição do dia

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A história de Caxias do Sul, cidade localizada na superestimada “serra gaúcha”, é permeada por uma visão positivista que legitimou seu papel na produção industrial nacional. A “pérola das colônias” durante o período de industrialização do Rio Grande do Sul, manteve seu status industrial, sendo considerada até hoje um importante polo metal-mecânico do sul do país. Prezou-se, desde o início da historiografia regional, enaltecer o papel do industrial, do patrão, em detrimento do operário – e esta postura moldou a perspectiva de (des)valorização dos sujeitos históricos, sustentada até hoje pela burguesia local.

A atual administração pública da cidade é um reflexo da sua construção histórica, sendo que grandes industriais e comerciantes manipulam sua gestão por cima e por baixo dos panos. O prefeito Flávio Cassina (PTB) – que recentemente assumiu o cargo depois do processo de impeachment contra o ex-prefeito Daniel Guerra (Republicanos) – assina a continuidade histórica do descaso com os trabalhadores, principalmente nos primeiros meses de sua administração, que condizem com o período de crise do coronavírus.

Ainda no dia 2 de abril, foi assinado um decreto que possibilitou a retomada gradual da produção industrial da cidade, garantindo que até 25% desta entrasse em normalidade. Diante disto, as grandes empresas locais, como Randon e Marcopolo, aos poucos, voltaram a ocupar seus pavilhões com metalúrgicos. Todavia, um quarto das atividades não é suficiente para a sede de lucro dos capitalistas caxienses, e também desagradou o Simecs (Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Caxias do Sul), que por meio do seu porta-voz, Paulo Spanholi, afirmou que o percentual de retomada é pouco para empresas que trabalham em ritmo de célula ou linha de montagem.

O discurso do presidente do Simecs se assemelha ao do próprio prefeito Cassina, que em entrevista ao programa Atualidade da Rádio Gaúcha na manhã desta segunda-feira (13), afirmou representar os interesses dos seus “pares”, como a CIC (Câmara de Indústria, Comércio e Serviços), CDL (Câmara de Dirigentes Lojistas), Sindilojas e Sindigêneros, e que estes estariam sendo duramente penalizados pelas políticas de contenção do vírus a nível estadual – “estamos caminhando no fio da navalha!”. Defendeu ainda o afrouxamento das restrições aos comerciantes e a retomada de ao menos 50% da produção nas indústrias caxienses, uma vez que a situação supostamente estaria controlada no município.

O discurso dos representantes da burguesia contrasta com os dados anunciados pela Secretaria Municipal da Saúde (SMS) no domingo (12), constatando que Caxias apresenta taxa de incidência de casos de COVID-19 maior que a do Estado e do país - são 6,7 casos para cada 100 mil habitantes, enquanto a média do Rio Grande do Sul é de 5,4 para cada 100 mil pessoas e, no Brasil, de 5,7 para 100 mil habitantes. Até o momento foram contabilizados 34 casos positivos e 28 aguardando resultados, mas a estimativa é que a cidade alcance a marca dos 51 mil casos até agosto, segundo projeção feita pela Vigilância Epidemiológica da Secretaria Municipal da Saúde. Também é importante ressaltar que inúmeros casos são subnotificados devido à insuficiência de testes, o que impossibilita um estudo aprofundado e preciso sobre a doença e seu percurso.

É nesse contexto que também as empresas como Marcopolo estão ávidas por aplicar a MP da morte de Bolsonaro, pagando metade dos salários aos trabalhadores que ainda não foram chamados. Tudo isso corrobora para uma das mais importantes reflexões que devemos fazer atualmente: nossas vidas valem menos que o lucro desses empresários? Com certeza não! Por isso é de extrema importância que nós, trabalhadores, nos organizemos e exijamos aos sindicatos (a maioria dirigidos pelo PT e PCdoB em Caxias) uma postura crítica à todos os ataques desferidos contra nós! Que os sindicatos saiam da paralisia e cumpram o papel de organizadores da classe trabalhadora! É preciso levantar uma forte campanha pela vida da nossa classe nesse momento, exigindo mais testes para que possamos contabilizar o real número de casos, localizá-los e isolá-los racionalmente; a proibição imediata das demissões durante a pandemia; o pagamento integral dos salários a todos os trabalhadores mesmo com a redução da jornada de trabalho; licença remunerada para todos que compõem o grupo de risco.

Cabe aqui também refletir o caráter revolucionário do contexto da pandemia. Conforme levantou Lênin, “há décadas em que nada acontece e há semanas em que décadas acontecem”. Não seria este o momento de assumirmos a produção, passando a suprir as demandas mais necessárias, como respiradores, equipamentos de proteção individual e produção massiva de testes? Como seria se a produção não estivesse em função do lucro dos capitalistas, mas a serviço da classe trabalhadora? Quem sabe, as respostas à estas questões dadas pela nossa classe e com independência, garanta o protagonismo dos operários na história oficial da cidade em um futuro não tão distante.




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