×

GÊNERO E SEXUALIDADE | Com dezenas de empresas, Reitoria da USP se alia a ONU em suposto combate à violência de gênero

Há algumas semanas o reitor da Universidade de São Paulo Marco Antônio Zago chamou alguns setores da universidade, entre eles o presidente e o ex-presidente do Centro Acadêmico da FMUSP, um representante do grêmio da Poli, entre outros, para debater o “combate a violência contra a mulher na USP”. Nenhuma trabalhadora foi convocada, nem mesmo os grupos feministas que atuam dentro da universidade receberam o convite, somente algumas pessoas escolhidas pelo reitor. Agora o reitor oficializou a participação da universidade num programa da ONU através de um comunicado enviado a toda comunidade USP.

Odete AssisMestranda em Literatura Brasileira na UFMG

terça-feira 23 de junho de 2015 | 00:01

A ideia da reunião era apresentar o mais novo trunfo do reitor para responder as graves denúncias de violência dentro da USP. A criação de um “escritório de equilíbrio de gênero”, denominado USP Mulheres, ligado a Onu Mulheres e o projeto He for She. Dentro desse projeto existe um programa denominado “Impacto 10x10x10”, 10 países, 10 empresas, 10 universidades. Uma parceria que visa dentro de um prazo estabelecido cumprir as metas e objetivos propostos com o financiamento de grandes empresas privadas como a Unilever e Accor. O reitor Zago assinaria um documento no qual a USP assumiria, no prazo de 2 ou 3 anos, compromissos “viáveis e verificáveis” no combate a violência as mulheres na USP.

No comunicado enviado aos alunos o reitor Marco Antonio Zago, destaca que “Além das missões tradicionais das Universidades, relacionadas com ensino, pesquisa e extensão, a USP deve ter um papel significativo para promover o progresso social da região. A educação universitária representa uma oportunidade especial para contribuir para a mudança de comportamento, como a erradicação da violência e todos os tipos de discriminação”, Entretanto é preciso avaliar qual o papel que a universidade vem cumprindo em relação aos casos de violência e discriminação e a quem serviria um órgão da ONU atuando dentro da universidade.

Um agente direto do imperialismo atuando dentro da universidade

Ao implantar esse projeto o reitor visa abrir espaço para que a ONU e diversas empresas privadas, ligadas aos interesses do grande capital, entrem na universidade e em troca tenta recuperar a imagem da USP, que ficou abalada após os escândalos de estupros na conceituada Faculdade de Medicina e em diversos outras faculdades.

Acontece que a ONU é um órgão direto da política imperialista que por via do assistencialismo visa mascarar toda a opressão e exploração que os países que a coordenam e as grandes empresas que a financiam impõem aos outros países do globo.

O USP Mulheres vem para que a universidade “limpe sua barra” diante dos casos de violência, sem que faça algo verdadeiramente efetivo no combate a violência.

Enquanto recusa a tomar medidas simples como, por exemplo, ampliar a iluminação dentro do campus, aumentar o número de circulares e abrir a universidade para população nos fins de semana. É claramente uma política da reitoria que visa cooptar setores do movimento dentro da USP, com a ajuda de um agente direto do imperialismo como é a ONU.

Os limites da campanha He for She

Ano passado o discurso de Emma Watson causou muita polêmica entre os movimentos feministas. O que a princípio parecia algo extremamente progressista, uma atriz tão famosa quanto ela se pronunciando a favor da igualdade de gênero, logo mostrou seus limites. A campanha He for She visa acabar com as desigualdades de gênero e para isso quer que homens jovens e adultos se engajem nessa luta. O que não é nenhum problema, afinal sabemos a luta contra a opressão as mulheres não é uma luta só das mulheres, mas sim de todos, homens e mulheres.

O problema é que a campanha é exclusivamente voltada para os homens, tentando fazer com que eles enxerguem que a opressão as mulheres também os afeta e que quase como um gesto de bondade e também preocupação com eles mesmos tomem pra si a luta pela igualdade de gênero.

Lutar por iguais direitos e iguais salários é uma demanda histórica do movimento de mulheres. Entretanto essa luta não está desvinculada de uma luta contra esse sistema, que mantém as desigualdades e se apropria da exploração e da opressão para garantir seus lucros. A ONU pode fazer uma campanha falando sobre a igualdade de gênero e se colocando na defesa dos direitos das mulheres. Entretanto esse órgão é financiado por grandes empresas que lucram bilhões de reais por ano em cima da opressão a milhares de mulheres pelo mundo, em cima dos salários menores e da exploração de milhões. E através da repressão, como ocorre no Haiti através da MINUSTAH liderada pelas tropas brasileiras, em que denúncias de estupros de mulheres haitianas por parte das tropas é uma constante. Como agente direto do imperialismo a ONU jamais pode levar de forma consequente a luta pela igualdade de gênero até o final, pois isso vai contra os interesses do sistema vigente, contra os interesses dos grandes capitalistas e imperialistas.

Erguer um forte movimento de combate a violência contra a mulher dentro da USP

Nesse sentido o programa USP mulheres é mais uma tentativa da reitoria da USP de manter a boa imagem da universidade pra fora, virando as costas para tudo o que acontece aqui dentro. Não podemos nos enganar com essa tentativa do reitor de cooptar o movimento dentro da universidade. É preciso que o movimento de mulheres, aliado ao movimento estudantil e de trabalhadores, aos sindicados, DCE e centros acadêmicos e a todos os setores que compõem a comunidade universitária, levantem com muita força uma forte campanha contra a violência as mulheres. Para que a reitoria seja sim responsabilizada pelos casos de violência dentro do campus, mas sem nenhuma ilusão nessa reitoria e na burocracia universitária que já provou diversas vezes ser incapaz de dar uma resposta efetiva aos casos de violência na USP.




Comentários

Deixar Comentário


Destacados del día

Últimas noticias