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Na sexta-feira 22 de janeiro mais de 50 trabalhadoras terceirizadas da limpeza da Faculdade de Odontologia da USP receberam a notícia que haveria a demissão de 20 delas. Seis já foram convocadas a assinarem o aviso prévio. Assim, sem nenhuma consideração foram simplesmente descartadas pela empresa Interativa em meio a pandemia. Mas essas mulheres decidiram resistir à investida da empresa e não aceitar nenhuma demissão.

Pão e Rosas@Pao_e_Rosas

terça-feira 26 de janeiro de 2021 | Edição do dia

A terceirização tem rosto de mulher, basta ver que de 53 trabalhadores, são 50 mulheres. A ampla maioria delas são o arrimo da família. Em sua maioria mulheres negras, carregam no corpo as marcas do trabalho pesado e da vida sofrida. Uma o marido morreu e deixou os filhos sem nenhuma assistência, pois ele não contribuiu com a previdência. Outra se desdobra para vir ao trabalho do outro lado da cidade, um trajeto de duas horas. A que trabalha há mais de 10 anos na USP como terceirizada foi linha de frente de greves contra demissões e atrasos de salário. Uma outra tem mais de 50 anos, não sabe como vai conseguir outro emprego. Aos prantos, uma dessas trabalhadoras falava repetidamente: “Por que fizeram isso comigo? Eu tenho crianças para cuidar não tenho marido. Sou pai e mãe e eles só tem a mim”.

Mas do choro inconsolável logo vinha a indignação: “Não é justo! A gente trabalhou toda a pandemia, muitas de nós pegaram a covid por causa disso. A nossa vida não importa?”

Cruzaram os braços resolutas. “Não vamos aceitar nenhuma demissão!” E não vão aceitar mesmo. Elas sabem que sem elas nada funciona. A clínica odontológica onde os estudantes realizam consultas e atendimento junto aos professores precisa estar impecável e livre de contaminação. As salas de aulas, onde centenas de estudantes aprendem sobre odontologia tem que estar em ordem. Os laboratórios, os banheiros, as salas da administração. São essas mulheres que, na pandemia, enfrentaram o vírus e fazem parte da linha de frente do combate. Invisíveis para muitos, a ausência dessas trabalhadoras, no entanto, é rapidamente sentida quando cruzam os braços.

Entenda: Empresa terceirizada INTERATIVA quer demitir dezenas de trabalhadoras da limpeza da FOUSP

João Doria (PSDB), governador de São Paulo cheio de demagogia, escolheu para ser a primeira pessoa vacinada no Brasil uma mulher negra. Ele sabe que mais da metade do corpo de enfermagem é formado por mulheres negras. Porém, a encenação de Doria está longe de ser o justo reconhecimento por essas mulheres. Isso porque durante toda a pandemia os profissionais da saúde e da limpeza trabalharam à exaustão, centenas morreram contaminados. Ao invés de realizar contratações emergências, especialmente para a limpeza, que é uma área essencial para se combater a disseminação do vírus, o governo suspendeu contratações, cancelou contratos de terceirizadas. A disputa política entre Doria e Bolsonaro em torno da vacina mostra que às custas das vidas das mulheres negras esses dois governantes estão dispostos a tudo. No entanto, não fizeram nada que pudesse mudar a situação real das trabalhadoras.

Bolsonaro, que com desdém diz “E daí?” às mortes, lançou duros ataques aos trabalhadores durante a pandemia flexibilizando direitos, socorrendo com bilhões de reais os bancos enquanto os trabalhadores sofriam com o aplicativo do governo para conseguir o acesso ao auxílio emergencial de 600 reais. Além disso, com seu negacionismo absurdo atrasou, e continua sendo um empecilho, a tomada de medidas contra a tragédia no Amazonas e no Brasil todo.

Esses dois governantes, assim como toda essa casta política e do judiciário golpista, entregaram de bandeja a vida da classe trabalhadora em nome dos lucros dos empresários. As mulheres pagaram bastante caro o menosprezo desses políticos. São maioria entre a população mais pobre que hoje sofre com a insegurança alimentar. Precisam deixar de fazer uma refeição para poder alimentar seus filhos. Carne e outras proteínas, fundamentais para fortalecer a saúde contra o coronavírus se tornaram raros. Mesmo o arroz e feijão, que é o prato básico brasileiro, aumentaram de valor durante a pandemia. Que comam macarrão, disse o representante dos empresários de supermercados.

Com esse mesmo desdém a empresa Interativa trata as trabalhadoras da Faculdade de Odontologia. Se vão conseguir outro emprego ou se passarão necessidades pouco importa. O que importa mais é o lucro da empresa . Esse sim é sagrado e intocável. E nem Doria ou Bolsonaro deixarão de dar razão aos empresários, afinal são seus fiéis representantes. E farão todos os ataques possíveis aos trabalhadores. Podem fazer uma encenação ou abusarem do discurso demagógico, mas eles não estão do lado das mulheres trabalhadoras.

Por isso, a atitude das trabalhadoras terceirizadas da Odonto diante desse ataque é tão importante. Elas começam a entender que precisam confiar nas suas próprias forças e que se permanecerem unidas são mais fortes. Cruzaram os braços porque sabem o valor do seu trabalho. O destino dessas trabalhadoras não está na mão de um governo ou de um patrão, mas na decisão consciente de lutarem juntas. E dessa luta vão tirar lições preciosas que se somarão às lições que a nossa classe acumula ao longo dos anos e que nos preparam para vencer definitivamente esse sistema que nos divide, oprime e explora.

As mulheres precisam estar organizadas para lutar e junto com a classe trabalhadora podem barrar todos os ataques e mudar tudo. Pois são as mãos dessas mulheres e homens que fazem tudo funcionar, eles movem o mundo e transformam tudo

Nós do grupo de mulheres Pão e Rosas nos colocamos ao lado dessas mulheres, que todos os dias enfrentam o patriarcado e o capitalismo. Por elas, com o punho erguido gritamos: Pelo direito ao pão, mas também às rosas!

Saiba mais: É preciso cercar de solidariedade a paralisação das terceirizadas da USP contra as demissões




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