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REPRESSÃO POLICIAL | Colômbia: sete manifestantes mortos em noite de protestos contra a violência policial

O brutal assassinato de um homem de 46 anos com uso de pistola taser terminou em uma noite de protestos contra o abuso policial em Bogotá e outras cidades, que foram reprimidas deixando ao menos sete manifestantes mortos.

Juan Andrés GallardoBuenos Aires | @juanagallardo1

quinta-feira 10 de setembro de 2020 | Edição do dia

Ao menos sete pessoas morreram pela repressão policial durante as jornadas de protestos que tiveram lugar desde a tarde de quarta-feira em Bogotá, capital da Colômbia, e outras cidades.

As manifestações estouraram depois do brutal assassinato de Javier Ordoñez, um advogado de 46 anos, que foi detido pela polícia e torturado com simultâneos choques elétricos de pistola Taser, para morrer horas depois em uma clínica.

A repressão às manifestações, que começaram a tarde e se estenderam durante toda a noite, deixou ao menos 5 manifestantes mortos na cidade de Bogotá, dois em Soacha e mais 55 feridos.

O assassinato de Ordoñez que foi filmado e depois viralizou, mostra quando a polícia do bairro de Santa Cecilia o detém, imobiliza e começa a aplicar descargas elétricas com as pistolas Taser. Ordoñez gritou "Parem por favor", "agente, eu te peço", quando estava imobilizado, não obstante a polícia seguiu torturando-o. As imagens provocaram a indignação geral e motorizaram os protestos de quarta a noite frente a Comandos de Ação Imediata (CAI) da polícia.

Os manifestantes, em sua maioria, gritaram "assassinos, assassinos" contra os policiais ao mesmo tempo que atacavam os edifícios da CAI.

A repressão e perseguição da Polícia contra os manifestantes se prolongou até altas horas da noite em Bogotá, e outras cidades como Soacha, Cali e Medellin.

Os manifestantes enfurecidos atearam fogo a vários postos da CAI, motos da polícia e também viraram e destruíram suas caminhonetes e as da promotoria.

Também filmaram e contaram aos meios de imprensa sobre as perseguições que ocorreram durante a madrugada e os ataques das forças repressivas, incluindo alguns de civis que disparavam contra os manifestantes.

Por sua vez, o diretor do diário Publimetro Colômbia, Alejandro Pino, denunciou que agentes da Polícia ameaçaram a um repórter desse jornal de "tomar seu crachá de imprensa, retê-lo e multá-lo por tomar fotos de protestos" na zona do Park Way.

A Polícia não só perseguiu e atacou aos manifestantes mas também entrou em casas particulares em busca de pessoas que haviam participado dos protestos.

O assassinato de Ordoñez e as jornadas de protestos contra a violência policial tem lugar no marco de uma nova onda de assassinatos em todo o país, que tem a marca das máfias e os narcoparamilitares. Estes grupos atuaram com total impunidade e acordo com os militares durante anos, e que ficaram parcialmente a deriva depois do acordo de incorporação ao regime político das FARC, voltaram a aparecer na cena política e criminal no último período. Cumprem tanto o papel de manter negócios de narcotráfico como de atuar com as forças repressivas e amedrontar a lutadoras e lutadores sociais, sindicais e camponeses. A isso há que agregar que o início dos protestos contra os ataques e o ajuste do governo de Duque tiveram lugar com força no fim do ano passado e a recente detenção domiciliar do ex-presidente direitista Álvaro Uribe, que piorou ainda mais o clima político.

As manifestações contra o abuso policial na Colômbia ocorrem ao mesmo tempo que os massivos protestos nos Estados Unidos contra o assassinato sistemático de negros pelas mãos de policiais brancos, como parte do racismo institucional do capitalismo estadunidense. Entretanto, esse sentimento contra a prepotência e brutalidade policial, sobretudo contra os trabalhadores, pobres negros e imigrantes, recorreu o mundo com protestos massivos ma Europa, Ásia e América.

Na América Latina as polícias gozaram de uma carta branca durante a pandemia, e a maioria dos governos da região as empoderaram para fazer cumprir o script desde quarentenas estritas até estados de exceção e emergência ou toques de recolher. Esta é a situação na própria Colômbia (onde já se haviam reprimido a manifestantes sem teto), Peru e Equador (com estados de exceção e perseguição a trabalhadores ambulantes e informais), no Chile (com os Carabineiros militarizados respaldados pelo Governo na repressão à rebelião ano passado e durante a pandemia), na Bolívia (em meio a um golpe de Estado), e o mais recente, na Argentina, com o caso do jovem Facundo Austudillo Castro desaparecido e assassinado no marco de um controle policial, e o atual "reclamo" dos agentes da província de Buenos Aires que terminou com centenas de policiais armados rodeando a residência presidencial para exigir aumentos de salários e maior aparato e impunidade para reprimir.

Essa polícia empoderada pelos próprios governos é a que está a frente de massacres como o que acaba de ocorrer na Colômbia, mas também desata em manifestações de repúdio como as que vimos na noite de quarta-feira.




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