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Cinco obras de arte feministas

Clara Mallo

Cinco obras de arte feministas

Clara Mallo

Algumas autoras vêm revisando nas últimas décadas o papel desempenhado pelas mulheres na cultura e nas artes. Esta revisão foi impulsionada pelas lutas que no plano social estavam acontecendo mais desde a década de sessenta. Neste artigo apresentamos cinco obras que questionavam o papel das mulheres na arte e na sociedade.

Esta situação influenciou o plano artístico no qual muitos artistas se somaram, desde suas práticas e disciplinas criadoras, às reivindicações que questionavam a situação de opressão que desde as origens da história vêm suportando as mulheres e que tem continuado no marco capitalista.

Será desde os anos ’60 quando as mulheres artistas, ao calor do desenvolvimento dos diferentes feminismos e distintas lutas sociais, começaram a desempenhar um papel protagonista nas diferentes experiências que se estavam desenvolvendo naqueles anos, como os happenings e o movimento Fluxus.

Muitas dessas artistas ajudaram a desenvolver uma prática artística que questionava o sistema opressivo e patriarcal dentro do capitalismo. Neste sentido, repassamos aqui algumas das obras de arte que mais impactaram e ajudaram a avançar o movimento de mulheres no campo das práticas culturais

Vagina Painting

Uma das primeiras reivindicações por parte das mulheres artistas passava precisamente por reivindicar a sua condição de mulher. Como se de uma reafirmação se tratasse, para deixar registrado o que era ser mulher e ser artista, frente ao gênio artista masculino.

Assim, podemos observar nos anos 60 uma tendência crescente entre as mulheres artistas para obras que se concentram no corpo feminino. Um corpo, em muitas ocasiões nu, para reivindicar a sexualidade feminina, eliminando toda a conotação de desejo que durante séculos tinha acompanhado o nu feminino na arte. E, portanto, uma crítica a esse papel que durante toda a história tinha acompanhado a mulher como objeto de desejo na arte. A reafirmação de ser mulher e artista é o que pretende Shigeko Kubota na action painting intitulada Vagina Painting que realizará no Perpetual Fluxfest de Nova Iorque em 1965, em que Shigeko usa apenas o seu órgão sexual para segurar um pincel com o qual ele faz uma pintura, imitando a técnica de Dripping (gotejamento) que os expressionistas abstratos americanos colocaram no topo das práticas artísticas.

Philip Golub Reclinado

Após a primeira reafirmação da mulher como artista, chegou a crítica ao conceito de gênio que havia sustentado a História da Arte até recentemente. O gênio, estereótipo de artista com certas qualidades, que claro é um homem e branco. Esta crítica ocorreu por vezes acompanhada pela ironia e jogo de mudança de papel, como podemos observar na obra de Sylvia Sleigh, Philip Golub Reclining de 1971, na qual muda os papéis tradicionais de artista e modelo. E vemos como uma artista pinta um jovem deitado como se de uma odalisca se tratasse.

Some Living American Women

Do mesmo modo que as tendências radicalizadas do feminismo que surgem na segunda onda, já não se limitam a procurar uma equiparação com o homem dentro dos quadros sociais em que se encontram, mas vão mais além, procurando questionar muitas barreiras sociais.

Obras de mulheres neste sentido há muitas, mas sem dúvida a mais difundida é Some Living American Women de Mary Beth Edelson em 1972, que procura reivindicar as mulheres artistas de sua época, incorporando-as como se dos apóstolos se tratasse. Mas que ao mesmo tempo vai mais além, questionando a sociedade marcada pela religião que tem sido a melhor portadora e conservadora das idéias patriarcais.

Dinner Party

Assimilando a consigna Black is Beautiful dos movimentos anti-racistas norte-americanos as feministas da diferença preconizaram uma nova interpretação da feminilidade. Este feminismo apresenta uma idealizada feminilidade ligada ao fato de ter sexo feminino. Salientando as características próprias deste sexo como a maternidade e, por conseguinte, supostas qualidades positivas associadas como a não violência, ressaltando a relação da mulher com a natureza por oposição ao mundo da cultura masculina e chegando a sustentar a necessidade de um mundo de mulheres não contaminado com o masculino.

As feministas da diferença argumentam que a libertação das mulheres depende da criação e do desenvolvimento de uma contracultura feminina. Esta contracultura exaltará os valores femininos e em oposição depreciar os masculinos.

Dentro desta tendência encontramos artistas como Judy Chicago e sua Dinner Party, em que uma mesa de composição triangular suportava trinta e nove pratos, cada um deles homenageando uma mulher mitológica ou histórica reconhecida por um bordado com seu nome. Destacando ainda que essas imagens mitológicas femininas foram ao longo da História utilizadas como alegorias de valores femininos. Além disso, os pratos reafirmavam a "condição feminina" já que eles continham formas abstratas que aludiam ao órgão sexual feminino.

Mirror, mirror

No final da década de 1970 começou uma transformação, uma transição da afirmação da diferença para a multiplicação das diferenças. Uma crítica ao que tinha sido dominante no feminismo até agora, ou seja, as mulheres brancas e heterossexuais. Apareceram assim múltiplas identidades, de raça, de gênero, geracionais, sexuais etc. A artista de origem africana Carrie Mae Weems trabalha em torno de temas relacionados aos estereótipos de raça e gênero, como em sua obra Mirror, mirror, de 1987, no qual aborda também o tema da beleza jogando com os estereótipos de mulher branca e mulher negra.

Traduzido de La Izquierda Diário, por Dani Alves, Outono de 2022.


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Madrid
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