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VIOLÊNCIA E DESIGUALDADE | Cidades mais violentas possuem 9 vezes mais pessoas em situação de miséria

Estudo do Ipea relaciona dados dos municípios com os maiores e menores índices de violência. 7 dos 10 municípios mais violentos estão no Rio de Janeiro e na Bahia, estados atingidos fortemente pela crise econômica.

sexta-feira 15 de junho de 2018 | Edição do dia

Imagem: Estadão

A pesquisa elaborada pelo Ipea e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública divulgado nesta sexta-feira (15) com dados de 2016 traz uma correlação direta entre a violência e a desigualdade. Os dez municípios com mais assassinatos tem nove vezes mais pobreza extrema, sete dessas estão na Bahia e Rio de Janeiro, não à toa, dois estados dos mais atingidos pela crise econômica. Sendo Rio e Salvador a 1º e a 5º cidades que mais perderam vagas de emprego, com 36,5 mil e 18,8 mil postos de trabalho respectivamente, em 2016.

Em um artigo publicado por nós, do Esquerda Diário, na última Revista Ideias de Esquerda, Marcelo Tupinambá faz uma referencia a correlação entre a crise econômica a violência no Estado do Rio: “A economia do estado cresce de maneira significativa de 2006 até 2012. O impacto na queda de roubos é já a partir de 2008 até 2012, quando chega nos menores índices dos anos 2000. Basta a crise econômica retomar em 2013, que voltam a crescer os índices de violência, com patamares agudos justamente de 2015 até 2017.” Ou seja, enquanto o estado do Rio esteve crescendo a violência diminuiu, e quando a crise veio, aumentou.

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Os dados do Atlas da Violência 2018 apontam que as 10 cidades menos violentas com mais de 100 mil habitantes possuem 0,6 % de habitantes em pobreza extrema, enquanto as 10 mais violentas possuem em torno de 5,5%, em média. Em outras palavras, há 9 vezes mais miséria nas cidades mais violentas em relação as menos. O Brasil tinha 309 munícipios com 100 mil municípios em 2016.

O estudo destacou que “Os indicadores mostram diferenças abissais entre as condições de desenvolvimento humano, começando pela taxa de mortes violentas, que, no último grupo, foi mais de dezesseis vezes maior”.

Ao G1, a diretora executiva do Fórum Brasileiro da Segurança Pública, Samira Bueno destacou que: “a edição do Atlas com dados municipais tenta jogar luz a um componente da violência letal que diz respeito às condições socioeconômicas das pessoas mais atingidas pela violência”. (...)“Basicamente mostramos que municípios com melhores níveis de desenvolvimento – e aqui falamos de habitação, educação, inserção no mercado de trabalho, dentre outros – também concentram menores índices de homicídio. Ou seja, estamos falando de pobreza, mas principalmente, estamos falando de vulnerabilidade econômica e de desigualdade”.

A crítica da autora do estudo vai também em direção a responsabilidade do estado e da inefetividade da repressão policial como política pública: "equívoco de políticas de enfrentamento da violência focadas apenas no policiamento e em estratégias repressivas”. (...) “O estado não é capaz de oferecer condições básicas de vida e cidadania para parcelas significativas da população, e justamente essas pessoas, que vivem em condições de inserção precária no mercado de trabalho, evadem da escola muito cedo, habitam em territórios sem infraestrutura são os que mais ficam vulneráveis à violência”.

“Comparando com 2015, quando 109 municípios respondiam por metade das mortes violentas no país, percebeu-se um aumento no número de municípios que respondem por essa fatia. Isso, certamente, é parte de um processo em curso, desde meados dos anos 2000, quando tem-se observado um espraiamento do crime para cidades menores”, diz o Atlas. Segundo o estudo, apenas 2% das cidades, o que corresponde a 123 municípios, concentram cerca de 50% dos crimes violentos.
A cidade de Brusque, em Santa Catarina teve a menor taxa de homicídios. Das dez cidades pacíficas, seis ficam no estado de São Paulo. Entre as capitais brasileiras, Belém é a que a mais violenta, com 77 mortes para cada 100 mil habitantes. Em seguida estão Aracaju, com 76,5, e Natal, com 70,6. São Paulo foi a mais pacífica, com 14,9 mortes para cada 100 mil. Florianópolis aparece em segundo, com 18, e Vitória em terceiro, com 23,1.

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O Atlas de 2017 escancarou também o genocídio da juventude negra. A cada 100 pessoas assassinadas no Brasil, 71 são negras. Os negros possuem chances 23,5% maiores de serem assassinados em relação a brasileiros de outras raças, já descontado o efeito da idade, escolaridade, do sexo, estado civil e bairro de residência. Nada diferente do estudo publicado no começo de junho desse ano.O Brasil havia ultrapassado à taxa de 30 assassinatos por 100 mil habitantes em 2016, sendo a taxa de homicídios de negros equivale a 2,5 vezes a de não negros.

Leia aqui o Atlas da Violência 2018 na íntegra




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