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DÓRIA E A CIDADE | Cidade Limpa não terá vez contra a resistência do pixo e do grafite

Dória com a sua política Cidade Limpa declarou guerra aos pichadores e grafiteiros ao afirmar que pixo não é arte. A resposta veio com força e com tinta sobre os muros cinzas.

Gabriela FarrabrásSão Paulo | @gabriela_eagle

quarta-feira 18 de janeiro de 2017 | Edição do dia

Na contramão da crítica artística nacional e internacional, e das galerias de arte, inclusive as mais burguesas, Dória ao assumir o cargo de prefeito declarou que grafite e pixo não são arte e que com a sua política Cidade Limpa limpará os muros de São Paulo.

O mais novo prefeito, fã da arte para consumo produzida por Romero Brito, - e das galerias que declaram um início de crise com a queda de compras por terem tido seus clientes presos pela operação Lava Jato - se orgulhou de já no dia 1 de janeiro estar “limpando” os muros com a tinta cinza, a cor oficial da cidade de São Paulo. O ataque vem pesado, já são 28 pixadores e grafiteiros presos. Essa semana começou o apagamento de uma das maiores obras de arte a céu aberto, o corredor de 5,8 km de grafites da Avenida 23 de Maio.

Talvez para não ficar tão feio o papel que Dória vem cumprindo, até para a crítica artística internacional, ele anunciou que a 23 de Maio ainda terá oito espaços destinados a grafites; mas será o prefeito, com gosto duvidoso, que decidirá quais grafiteiros são arte e por isso merecem estar nesses espaços.

Mas o pixo e o grafite sempre foram arte de resistência. Nascidos junto ao rap, dentro da cultura do hip hop, gritavam e ainda gritam contra os centros urbanos que foram pensados para serem hostis aos que vivem nela. A cidade deveria ser apenas dormitório e local de fábricas, onde se produziria o lucro dos ricos. A cidade não deveria de modo algum ser acolhedora, lugar de vivência e de expressão da juventude; porque isso não gera lucro. E esse pensamento ainda é dominante em uma sociedade capitalista, ainda mais em uma cidade que agora será comandada por um empresário, que se orgulha de ser gestor e não político.

O grafite e o pixo mesmo quando não contendo mensagens políticas já eram um grito, uma forma da juventude dizer que existia e resistia contra a cidade cinza. Sua existência como forma de arte era uma maneira política de dizer que a juventude, por fora das grandes galerias e da crítica que determina o que é ou não arte, era capaz de produzir arte, e arte foda.

Diante da declaração de guerra de Dória, não poderia ser diferente, os pichadores e grafiteiros começaram a responder ao ataque e colocaram a discussão do pixo e grafite como forma de arte sobre o holofote da grande mídia, que não pode mais ignorar o assunto. O desafio está lançado: “Vamos ver quem tem mais tinta?”, os pichadores e grafiteiros que sempre fizeram sua arte resistindo ou a política higienista do novo prefeito?




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