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PROTESTOS EM MIANMAR | China impõe mais mão dura à junta assassina de Mianmar contra os manifestantes

Depois que várias fábricas chinesas foram atacadas no fim de semana, Pequim alertou que poderia considerar "ações mais drásticas" para defender seus interesses.

Juan ChingoParis | @JuanChingoFT

quinta-feira 18 de março de 2021 | Edição do dia

No fim de semana, em eventos que permanecem obscuros, fábricas de propriedade de chineses em Yangon, a principal cidade de Mianmar, foram queimadas e saqueadas. Uma contagem realizada na última segunda-feira mostrou que 32 empresas financiadas por aquele país foram afetadas. De acordo com a embaixada chinesa, as perdas totais chegaram a quase 240 milhões de yuans (37 milhões de dólares).

A diplomacia chinesa então pediu à Junta militar que governa o pais para que restaurasse a ordem. Em poucas horas, os generais foram forçados a fazê-lo: soldados mataram dezenas de manifestantes e a lei marcial foi declarada em Hlaing Tha Yar e outros distritos de Yangon.

Os distúrbios anti-China acrescentam uma nova dimensão internacional à crise política de Mianmar. Os manifestantes estão furiosos não apenas com os governantes militares, mas também, e cada vez mais, com o apoio velado da China à junta. Sua referência inicial ao golpe como um "caso interno" é motivo para paródia após os dramáticos eventos deste fim de semana. Assim, nas redes sociais, comentários como: “Então isso não é mais um ’assunto interno [sic]’. A China agora usa palavras fortes quando seus interesses são ameaçados”.

De acordo com o site Nikkei Asia: “Os jovens deste país já rechaçam os jogos móveis mais populares desenvolvidos por empresas na China continental”. "O boicote provavelmente afetará outros produtos, como telefones celulares, mas não será fácil para o público em geral boicotar tudo o que vem da China, especialmente bens e produtos básicos normais e baratos." Por sua vez, ativistas pró-democracia também suspeitam que especialistas chineses em segurança cibernética estão ajudando o Conselho a desenvolver tecnologia de censura na Internet semelhante às do gigante asiático.

Um ótimo teste para Pequim

Os interesses da China em Mianmar são claros: eles procuram manter uma parte de seus recursos naturais e hidrovias. Pequim quer que os generais relançem os planos de uma polêmica hidrelétrica para gerar eletricidade para a China, que a população local teme que vá prejudicar o meio ambiente e forçar milhares de pessoas a se mudarem. Da mesma forma, a burocracia do PCCh está faminta pelos metais de terras raras de Mianmar, insumos necessários para as principais indústrias, como energia e transporte. A China também precisa que Mianmar continue construindo um gasoduto conectando a província chinesa de Yunnan ao porto de águas profundas de Kyaukpyu no estado de Rakhine para acessar o Oceano Índico, onde a China compete pela supremacia marítima com a Índia.

Por tudo isso, o governo chinês, em sua primeira expressão direta de preocupação com a situação, instou Mianmar a tomar medidas para "prevenir resolutamente a recorrência desses incidentes". Em uma declaração urgente no domingo, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês evitou mencionar mortes de civis, dizendo que seu país estava "muito preocupado com o impacto sobre a segurança das instituições e do pessoal chinês". Em particular, Pequim ficou alarmada com as ameaças de ativistas pró-democracia aos dois oleodutos e gasodutos apoiados pela China que percorrem quase 800 km de Mianmar. Altos funcionários do Ministério das Relações Exteriores mantiveram uma reunião virtual de emergência com funcionários do Ministério do Interior e do Ministério das Relações Exteriores de Mianmar para pressionar o regime militar a garantir a segurança dos oleodutos.

Rumo a uma intervenção direta?

A burocracia do PCCh está profundamente preocupada com a instabilidade em sua fronteira e frustrada com o fracasso dos generais em acabar com os distúrbios pós-golpe. É que, em meio à crescente reação pública em Mianmar, será mais difícil para o governo de Xi Jinping levar adiante projetos estratégicos no âmbito da Rota da Seda conectando Mianmar à China. Além disso, a segurança desses projetos está cada vez mais em questão.

No momento, como em Hong Kong, espera que a ordem seja restaurada após a repressão sangrenta sustentada pela junta. Mas se o sentimento anti-chinês crescente se tornar mais violento, a China pode se sentir compelida a fazer algo um pouco mais radical. Após os acontecimentos do fim de semana, a mídia estatal chinesa CGTN alertou que o país "não permitirá que seus interesses sejam expostos a novos ataques", acrescentando que "se as autoridades não cumprirem e o caos continuar a se espalhar, a China poderá ser forçada tomar medidas mais drásticas para proteger seus interesses."

No entanto, uma intervenção militar direta seria uma ruptura com a alardeada política chinesa de não ingerência nos assuntos políticos internos de outros países, dando um golpe de misericórdia à imagem que em de Pequim de uma superpotência asiática poderosa, mas benevolente, a principal razão por trás de sua diplomacia da vacina de COVID. Também pesa que a última vez que o país desdobrou forças de combate no exterior foi em 1978, quando a China perdeu uma breve guerra com o Vietnã. Uma memória ruim que não incentiva.

À medida que os eventos em Mianmar radicalizam e aprofudam, a China está em uma dificuldade maior de saber como responder. A seguir.




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