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OPINIÃO | Carlos França nas Relações Exteriores: um recuo que não encerra as disputas no Itamaraty

terça-feira 30 de março de 2021 | Edição do dia

O trumpista Ernesto Araújo foi retirado hoje do Palácio do Planalto pelas mãos do centrão. Ilhado pelas pressões para “destrumpizar” o governo e pelas posições majoritárias que exigem a chegada do 5G no Brasil, Ernesto tentou como um último suspiro mostrar serventia também aos capachos dos Democratas. Mas não foi dessa vez. O ministro foi deixado de lado e substituído por Carlos Alberto Franco França.

Leia também: Saída de Ernesto Araújo: Bolsonaro nas mãos do centrão.

Servidor de carreira do Ministério das Relações Exteriores, o embaixador Carlos França, que assume o cargo, trabalha no Palácio do Planalto desde o início do governo Bolsonaro. Chefiou o cerimonial de Bolsonaro e esteve próximo ao presidente desde sua posse. Fora do Brasil, França ocupou postos nas embaixadas do Brasil na Bolívia (em duas ocasiões), no Paraguai e nos Estados Unidos.

É uma figura de trajetória semi oculta, que atua pragmaticamente de forma a fugir dos holofotes, longe de professar contra a China aos quatro cantos, ou seja, a postura que o centrão e as alas “moderadoras” de Bolsonaro procuravam ao retirar Araújo. Entretanto, ainda não é exatamente o que este mesmo centrão procurava. Ao que tudo indica, o novo ministro não tem outra linha política, diferente do antigo chanceler: segue ainda sendo parte da “ala ideológica”, mas não na mesma ofensividade que Araújo. Ao que tudo indica, trata-se de um recuo por parte de Bolsonaro, mas somente um recuo.

A incerteza estava em quem ganharia o cabo de guerra: o centrão e os setores mais servis à China, ou Bolsonaro e os setores mais servis aos EUA. Tudo em torno da disputa pela entrada ou não entrada do 5G. Jamais esteve no sentido de ser um ministro menos entreguista aos ditames do capital industrial, financeiro e econômico.

Seja mais trumpista ou mais alinhado aos Democratas, o atual ministro seguirá sendo um importante elo entre Brasil e os interesses imperialistas estadunidenses, e seguirá chefiando um ministério pressionado. Cabe seguir analisando qual será sua postura em relação a essas pressões, e se o próprio governo conseguirá seguir sustentando essa linha no Itamaraty por mais muito tempo.

E enquanto mais uma fissura se esgarça e deixa tudo exposto e ainda mais vulnerável, expondo toda divisão dentro do governo e do regime fruto do golpe, se escancara ainda mais que, se houvesse a entrada em cena de um novo ator político, tudo poderia ser diferente. Esse ator político é a classe trabalhadora. Vivendo no limite com o peso das mortes pela Covid, do desemprego e da fome, segue enjaulada e sem conseguir ver novo horizonte devido às grades das grandes direções sindicais que fazem de tudo para que não haja rompimento com o pouco do “equilíbrio social” que ainda existe e que sustenta tudo.

É urgente que as centrais sindicais rompam com sua mais completa serventia ao regime político do golpe e organize os trabalhadores em cada local de trabalho para lutar contra Bolsonaro, Mourão e os militares. Somente a entrada desse ator em cena seria capaz de interromper esse curso da barbárie e colocá-los de joelhos.




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