Em troca de R$ 122,8 milhões de propina da cúpula dos transportes no Rio de Janeiro, entre 2010 e 2016, o esquema criminoso do ex-governador do Rio Sergio Cabral (PMDB) concedeu benefícios a empresas de ônibus, como a autorização para reajustes das tarifas e isenções no pagamento de IPVA dos coletivos e ICMS do diesel, revelaram as investigações do Ministério Público Federal.
segunda-feira 3 de julho de 2017 | Edição do dia
A cifra total movimentada entre 2010 e 2016 pelo esquema chegaria a R$ 500 milhões. Cabral, que deixou o governo, em favor de seu vice, Luiz Fernando Pezão (PMDB), em 2014, recebeu repasses até o mês de novembro do ano passado, quando foi preso pela Operação Calicute.
Rogério Onofre, ex-presidente do Detro que foi preso hoje em Florianópolis, Santa Catarina, recebeu R$ 44,1 milhões em propinas pagas pelas empresas.
Nove pessoas foram presas entre o domingo e esta segunda-feira. 3. Ainda há dois foragidos. São investigados os crimes de organização criminosa, lavagem de dinheiro, corrupção ativa e passiva e crime contra o sistema financeiro.
"Era um esquema tão arraigado e tão forte que permaneceu mesmo após o final do segundo mandato do governador", disse o procurador regional da República, José Augusto Vagos.
"Sempre que havia reajuste das passagens, cada membro da organização criminosa recebia um ’prêmio’. É um dos esquemas criminosos mais antigos do Estado do Rio e um dos mais maléficos, porque prejudica a população de baixa renda, que paga tarifas caras", esclareceu o procurador da República Eduardo El Hage. Não é possível afirmar que o esquema alcança integrantes da gestão Pezão, ressalvou.
Segundo El Hage, a ausência de licitação no setor do transporte rodoviário intermunicipal, o que beneficia sempre as mesmas empresas, é outro benefício conseguido pelos empresários por meio de pagamento de propina. Ele disse também que Cabral continuou recebendo seus "bônus" mesmo depois de sair do governo porque mantinha forte influência política no Estado.
Luiz Carlos Bezerra, operador financeiro de Sérgio Cabral, disse também em sua delação aos investigadores que recolhia propina na sede da empresa Flores em São João de Meriti, que tem como sócio-administrador o empresário José Carlos Reis Lavouras — sócio também de mais 13 empresas ligadas ao ramo de transporte.
Bezerra falou que os codinomes como "Jardim", Flowers" e "Garden" constantes de anotações de contabilidade feitas em agendas, apreendidas durante a deflagração da Operação Calicute, em novembro de 2016, eram referentes à Companhia Viação Flores. Lavouras também figura como membro do Conselho de Administração da Riopar Participações SA (Bilhete Único e Riocard) junto com o empresário Jacob Barata Filho (que é o presidente) e Lélis Marcos Teixeira (secretário da mesa apuradora).
O setor dos transportes é o terceiro em que são descobertos tentáculos do esquema criminoso no governo estadual liderado por Cabral. Primeiro foram encontradas irregularidades na área de obras, depois, na saúde. Em todas as investigações, o ex-governador é apontado como o cabeça da organização, e assessores, como seus operadores financeiros.
OS ALVOS DA OPERAÇÃO ’PONTO FINAL’
PRISAO PREVENTIVA
Lélis Marcos Teixeira, presidente da Fetranspor; PRESO
Rogério Onofre de Oliveira, ex-presidente do Departamento de Transportes Rodoviários do Rio (Detro); PRESO
PRISÃO TEMPORÁRIA
O esquema de Cabral com as empresas de transporte é mais uma amostra de que nosso sufoco, a retirada de nossos direitos, as tarifas altas e toda a precariedade da vida dos trabalhadores é a fonte dos milhões de lucro de empresários e de propinas aos políticos.