sábado 11 de abril de 2020 | Edição do dia
O Ministério da Saúde liberou dados que mostram que entre os hospitalizados, o novo coronavírus é mais letal para população negra. Cerca de 1 entre cada 4 hospitalizados é negro, mas quando olhamos para as mortes, são 1 a cada 3. Olhando em porcentagens, apresenta uma alta de 10 pontos percentuais entre hospitalizados e falecidos (23,1%, e 32,8%, respectivamente). No caso das pessoas brancas contaminadas e hospitalizadas, as porcentagens diminuem. São 73,9% dos hospitalizados, mas os números caem para 64,5% entre os mortos.
Os dados apresentam uma realidade que levanta o questionamento do que leva a essa alta. Segundo Denize Ornelas, diretora da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade, a diferença entre o número de hospitalizados e mortos pode ser maior ainda, já que 32% dos óbitos não tinham registro de autodeclaração.
Para ela o quadro pode ser mais grave, pois além de quase um terço dos registros de óbito ter falta de informações - o que aponta a maneira como o Ministério da Saúde tem conduzido seus planos de combate ao coronavírus - pois esta primeira leva de dados ainda aponta os primeiros casos registrados do vírus, que atingiu num primeiro momento, pessoas de mais poder aquisitivo.
As primeiras altas nos registros de casos nas periferias teve inicio no final de março e inicio de abril, no momento onde a falácia dos anuncios dos governos de que iriam testar massivamente a população ficou mais evidente, e passou a se falar mais abertamente em falta de testes. Em São Paulo, por exemplo, há quase 20 mil testes esperando resultados, enquanto pessoas perdem parentes sem estes resultados, e testes positivos aparecem para pessoas já em óbito.
A gravidade dos dados aumenta quando nos defrontamos com a realidade de que 67% dos brasileiros que dependem exclusivamente do SUS, são negros. E serão estes exatamente que vão sentir primeiro a falta de testes, de leitos de UTI e equipamentos. A subnotificação no país todo é enorme, em especial nos estados mais atingidos, como São Paulo, e mascaram a gravidade dos dados, e dos efeitos do coronavírus na classe trabalhadora.
Por isso é necessário exigirmos dos governos federais, estaduais e municipais, em primeiro lugar, testes massivos para combatermos a subnotificação consciente e intencional dos governos, e sabermos quem e quantos necessitam de tratamento. Junto, exigir a contratação imediata de médicos, para garantir o atendimento de toda a demanda, e a estatização, sob controle dos profissionais da saúde, de todo o sistema de saúde privado, colocando todos os leitos, respiradores e equipamentos a disposição do SUS. Essa é a unica maneira de evitar que os governos coloquem as vidas da população negra e dos trabalhadores na roleta russa, enquanto salvam os mercados, bancos, e capitalistas.
