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OPINIÃO | Breves aforismos materialistas sobre vida e sentido

quinta-feira 27 de agosto de 2015 | 00:00

1)O humano é invenção de si, demasiado sem sentido, sem caminhos dados ou seta que aponte.

Nos fazemos, somos criações de nós mesmos, sem mais porque do que aquele que nos damos. Buscar uma essência fora daquela que é expressão concreta das ações reais e escolhas dos seres humanos historicamente condicionados é tentar reviver a velha metafísica, essa forma de religião e misticismo dos intelectuais e filósofos.

2) Disso não decorre que “se uma essência humana não existe tudo é permitido” como pensam os superficiais e frágeis pensadores da pós-modernidade, tanto os niilistas da direita quanto os pseudo-radicais à esquerda.

O grande, o forte, aquilo que tem valor e deve ser afirmado tem uma medida: nós, como sujeito histórico coletivo.

3) O reconhecimento da pequeneza, da insignificância, do pueril que é vida humana frente ao conjunto da natureza, com seu sem número de estrelas cintilantes, a fugacidade de nosso haver, onde apenas frágeis doutrinadores podiam acreditar e fazer crer que somos o centro da existência, em nada diminui seu brilho e beleza; muito pelo contrário, lhe dá um valor imperecível.

Se não há na vida sentido algum além daquele que lhe damos, se a vida humana é pura contingência e acaso, todo seu valor, toda sua grandeza, é nossa invenção e pode ser infinita.

4)Numa sociedade dividida em classes a luta pela construção de um sentido para a existência coletiva e individual é ´parte da luta pela construção da hegemonia.

Os diferentes grupos e classes que lutam pelo poder político, econômico, social, devem ser capazes de mostrar a grandeza e valor, devem ser capazes de despertar fortes paixões para a defesa do projeto de sociedade que propõe.

Numa sociedade dividida e em luta os sentidos de nosso haver estão também em conflito.

5)A apatia, o estranhamento, o niilismo, que tomam conta das relações numa sociedade que esgotou ou está em vias de esgotar suas possibilidades de expansão e criação não é expressão de que essa entra em contradição com uma pretensa essência humana inexistente, não se dá por sua “desumanidade”, mas pela sua incapacidade de concretizar e tornar reais as capacidades de desenvolvimento por ela criadas.

A contradição cada vez mais visível para todos os grupos sociais, inclusive para a classe dominante, entre o desenvolvimento das forças produtivas, o nível alcançado pelas ciências e as artes, as possibilidades de aprofundamento e emancipação das relações sociais e a realidade concreta desse determinado sistema, os caminhos apontados para o futuro caso ele continue dominando são o fator determinante para a crise moral e subjetiva que ele passa a viver.

6) As paixões e sentimentos que vão criar o mundo novo que queremos não virão da reivindicação dos velhos ídolos, do reviver de velhos fantasmas; não precisamos dos opiáceos que inspiraram as revoluções do passado, pois nossa poesia vem das possibilidades futuras.

Não pela essência humana a-histórica lutamos, não pelos direitos do homem, não por nenhuma dessas sombras, mas pelas possibilidades concretas criadas pela história da luta dos oprimidos e explorados que apontam um sentido novo para relações fraternas e emancipadas entre os seres-humanos livremente associados.

Foto: M. C. Escher, Hand with Reflecting Sphere (1935)


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