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28 DE MAIO: Dia Internacional de Ação pela Saúde da Mulher | Brasil tem 52% na taxa de cesáreas enquanto OMS recomenda 15%

No Brasil, segundo dados oficiais, uma a cada quatro mulheres sofre violência obstétrica. Dados alarmantes que apontam mais uma manifestação de violência contra as mulheres, mais um mecanismo utilizado para retirar a autonomia e o protagonismo das mulheres com a sua sexualidade e direitos reprodutivos, sobretudo, no momento de seu parto.

Natalha Robertoestudante de Obstetrícia da USP - Leste

quinta-feira 28 de maio de 2015 | 07:45

Pode parecer que não, mas basta termos a experiência de engravidarmos ou mesmo no acompanhamento a uma gestante, para sentirmos que na realidade da maioria dos hospitais brasileiros essa prática é mais naturalizada do que se imagina. A parturiente quando entra no hospital já não tem o poder de decisão sobre o seu corpo e de seu bebê. Não importa se solicitou parto natural sem o corte prematuro do cordão umbilical e a preservação da placenta após o parto, ou mesmo até o direito a acompanhante para se sentir mais segura. Nada, nada disso é respeitado em grande parte dos hospitais brasileiros.

Mas, porque isso acontece? Primeiramente, pela lógica capitalista da medicina que coloca o lucro em detrimento da qualidade de vida. Nossa saúde sendo rifada pelos governantes com o sucateamento dos hospitais é um aspecto disso e no atendimento a gestante não seria diferente. Como uma grande esteira de produção, as maternidades são verdadeiras fábricas de recém-nascidos gerenciadas pelo ritmo alucinante da produção. Tudo tem que ser muito rápido: Corta! Nasceu! Costura! Não existe o tempo necessário para um bom trabalho de parto, parto e pós-parto.

Outra questão é a formação dos profissionais da saúde, principalmente médicos obstetras, que são educados em conceber o parto como uma doença e por isso se apropriam do corpo e sexualidade da mulher - fazendo com que a parturiente perca o poder de decidir livremente sobre seu corpo - que se manifesta desde agressões físicas e verbais até a utilização de farmacológicos e procedimentos invasivos sem a autorização da parturiente, como a cesárea e a episiotomia (corte entre a vagina e o ânus).

Infelizmente, o parto no Brasil é tão medicalizado que a maioria das mulheres nem sequer sabe dos benefícios do parto natural. Inclusive, é comum que a maioria dos médicos obstetras incentive a adoção da cesárea eletiva e “demonize” as dores do parto. Como se mulheres não fossem capaz de parir e os bebês não soubessem nascer! Ao contrário, o parto natural, caso não haja complicações, é a escolha mais benéfica para a mulher e o bebê, onde o processo segue seu curso natural da vida respeitando a hora certa do bebê nascer, além da recuperação da mulher ser mais rápida.

Mesmo com todos esses benefícios o número de partos naturais é restrito. Enquanto que a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que a taxa de nascimentos por cesáreas chegue até 15%, no Brasil a taxa chega a assustadores 52%, sendo que se considerarmos somente hospitais particulares essa taxa aumenta para 88% (dados de 2010 Fiocruz). Neste caso é importante frisar que a cesárea, como todo procedimento cirúrgico, carrega várias implicações e, por isso, o ideal é ser utilizada somente quando há risco de vida para o bebê e/ou a parturiente. Evidente que as mulheres podem optar por cesáreas eletivas se assim desejarem, pois o protagonismo deve ser respeitado, no entanto, é preciso questionar a patologização do parto, para que se comece a ver o parto como um procedimento natural do corpo da gestante e não como mais uma cirurgia rotineira.

No caso de mulheres não-brancas, sobretudo negras e indígenas, o racismo é outra violência a ser encarada na assistência e cuidado ao parto. É sabido que mulheres negras morrem seis vezes mais de morte materna se comparado a taxa de mulheres brancas. Nesse sentido, o descaso com a saúde e o acompanhamento da gestante e do bebê, quando se trata de pessoas negras, é absurdamente superior, pois nosso sistema de saúde está pouco interessado em atender especificidades étnico/culturais que não esteja circunscritas ao padrão branco.

E este é mais um aspecto que evidencia o quanto a saúde é vista como mercadoria, o parto hoje deve ser humanizado, no sentido de resgatar o papel protagonista da parturiente, já que há tempos vem sofrendo um processo de desumanização através da medicina capitalista. Por isso, é preciso que toda a população junto aos profissionais da saúde lute por um SUS público e gratuito controlado pelos trabalhadores da saúde e usuários que realmente seja de qualidade e sirva para responder todas as demandas de cada região, com a capacitação necessária para o atendimento de todas as gestantes, assim como a contratação de obstetrizes/parteiras. Para que as mulheres possam parir sem sofrerem nenhuma violência física e psicológica!




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