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CORONAVÍRUS | Bovespa despenca após coronavírus, mostrando a saúde frágil da "recuperação econômica"

Uma queda significativa levou a Bovespa nesta segunda, 27, à sua maior queda em 10 meses. As incertezas e temores diante da exponencial contaminação pelo Coronavírus de origem chinesa já se sente no Brasil e no mundo. São mais de 100 mortes e pelo menos 4.515 infectados na China e outros países. No Brasil ainda não há casos confirmados, no entanto os efeitos se alastram através da economia, devido a alta dependência brasileira das exportações para o gigante asiático, o que também revela um contraponto às previsões e propaganda otimistas de recuperação da economia.

terça-feira 28 de janeiro de 2020 | Edição do dia

O ano de 2019 se encerrou com a explosão dos casos de Coronavírus na China. A doença tem origem animal e seu foco inicial de contaminação parece ter vindo de um mercado na cidade chinesa de Wuhan. Com os primeiros casos registrados em 31 de janeiro, hoje, menos de um mês depois, os registros são exponenciais e já indicam que ao menos 106 pessoas morreram e há cerca de 4515 pessoas contaminadas. A maioria dos casos ocorrem na China, mas pelo menos 10 outros países na região asiática, América do Norte e Europa já têm casos da doença. A Organização Mundial de Saúde (OMS) lançou um alerta internacional e classificou o risco da doença como elevado.

Uma pandemia de origem chinesa que promove uma enorme instabilidade econômica a nível global. Esse retrato lamentável e cheio de vítimas fatais está sendo tratado pela grande mídia internacional com mais do que uma preocupação pela saúde pública, afinal o que está em jogo para os donos do mundo são os efeitos nos investimentos e contra a sanha capitalista por uma recuperação a qualquer custo da economia dilacerada pela crise de 2008. Isso fica evidente com a avalanche nas bolsas de valores asiáticas e seu efeito dominó em muitos países que são altamente dependentes da economia chinesa, ou no máximo uma permissão de estabilidade frágil aos países com dependência não tão frontal em relação à China.

“O fato é que os efeitos do Coronavírus são sentidos em todo o globo e, ao contrário do que os capitalistas e seus porta vozes afirmam com suas previsões otimistas de recuperação econômica, mostram, mais uma vez, que estão longe de solucionar a grande recessão gerada pela crise, onde a exposição é tamanha que quaisquer instabilidades ambientais, políticas ou sociais parecem levar a economia à beira do abismo.”

É emblemático que o novo foco de preocupação econômica venha dessa tragédia iniciada na China. O mesmo país é um dos protagonistas de um dos fenômenos mais importantes pós Lehman Brothers, a disputa comercial-tecnológica entre Xi Jiping e Trump, e sua corrida contra os EUA marca uma situação à parte para países como o Brasil. Isso ficou demonstrado em diversas situações, desde as oscilações na exportação da soja, que foi motivo de comemorações após um crescimento no início da guerra comercial entre o dragão e a águia, mas que logo caíram e se tornaram uma preocupação, com os desdobramentos do conflito que levaram a uma maior exportação chinesa da soja americana.

Dados publicados no Valor Econômico apontam um crescimento da dependência das exportações brasileiras aos dois países beligerantes, com um destaque nos números embarcados aos chineses. Segundo dados da Secretaria do Comércio Exterior, as exportações do Brasil aos dois países teve um crescimento de 2017 a 2019, passando de 34,2% a 41,3%, sendo que somente as exportações do Brasil à China cresceram mais de 6 pontos percentuais (de 21,8% a 28,1%), enquanto para os EUA cresceram quase um ponto (de 12,3% a 13,2%). Um acordo que vem sendo fechado entre a JBS/Friboi e a gigante chinesa no ramo de proteínas WH Group em mais de 3 bilhões anuais para exportação de bovinos e derivados também é um indicador dessa relação de dependência, já que o país asiático tem sido um grande parceiro de exportações (além da soja).

A importância e dependência maior nas relações com a China também é um reflexo das iniciativas do governo de Bolsonaro e Paulo Guedes, com sua chamada “especialização” da economia, que nada mais é do que a insistência em assumir o Brasil como o celeiro do mundo, em resposta aos efeitos da crise com uma reprimarização da economia e a queda na indústria. Isso se revela sobretudo na queda de exportações de manufaturados, onde principalmente na relação com a Argentina também impactada pela crise econômica se vê a parte significativa desta queda.

Veja também: A economia brasileira em meio a ventos não muito favoráveis lá fora

Os planos de Bolsonaro e Guedes superam os acordos comerciais e as instabilidades que vêm de brinde com as oscilações que sofram os protagonistas das importações brasileiras. Vimos ao longo do primeiro ano de governo um plano orquestrado para aumentar os níveis de exploração dos trabalhadores e ataques às condições de vida da população pobre com a continuidade e aprofundamento da Reforma Trabalhista, o acordo selado com o Congresso Nacional que deu a luz à Reforma da Previdência e uma série de entregas de recursos nacionais com as privatizações e transferência das nossas riquezas ao capital estrangeiro pela via do pagamento da fraudulenta e ilegítima dívida pública.

Todos esses ataques aconteceram no primeiro ano do governo reacionário de Bolsonaro, com o maior compromisso e diálogo dos ditos partidos da esquerda, PT e PCdoB, além de todo o espectro que se reivindica progressista e a favor dos direitos sociais, como PDT. Ainda mais chocante foi a verdadeira trégua e paralisia promovida pelas grandes centrais sindicais, em especial as que se colocaram na oposição e possuem uma grande base de trabalhadores, como a CUT e CTB, dirigidas respectivamente pelo PT e PCdoB.

Esses partidos e dirigentes sindicais que se dizem de oposição são os mesmos que não mostram um contraponto às tentativas burguesas de responder ao estancamento secular oriundo do fracasso do seu projeto neoliberal. Um projeto levado a cabo para responder a crise dos anos 70 e contra os anseios revolucionários que chacoalharam o mundo, a partir do maio francês de 1968 e dos levantes revolucionários contra as burocracias stalinistas como alternativa à reação imperialista norte americana no fim da chamada Guerra Fria.

Hoje novamente vemos um mundo em efervescência e a crise desse empreendimento capitalista que só tem degradação social a oferecer. É preciso superar a paralisia e conciliação do PT e seus representantes com o governo reacionário de Bolsonaro. Também os movimentos sociais e partidos da esquerda como PSOL precisam olhar atentos as lições que se abrem com os novos conflitos da luta de classe que voltam a chacoalhar o mundo, inclusive com jornadas revolucionárias e ares combativos nos países vizinhos, como a impressionante força dos chilenos mostrando que não são tempos de paz quando querem literalmente arrancar nossas vidas. É significativo que o Chile tenha sido o ponto mais agudo desse novo ciclo na região, já que se tratava do país modelo do Chicago boy Paulo Guedes e da cereja do bolo neoliberal que o imperialismo americano estimava na América Latina.

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O novo ciclo da luta de classes que começou na França e percorre o mundo, com o pontapé via revolta dos coletes amarelos e se desenvolvendo nas batalhas organizadas da classe operária com os guerreiros dos transportes em greve há mais de 50 dias em Paris, pode ser aproveitado pelos trabalhadores na batalha de vida ou morte que os capitalistas querem nos impor diante de sua crise econômica em todo o mundo. Os exemplos de combatividade, auto-organização e enfrentamento às burocracias sindicais, bem como o enorme rechaço à que paguemos pelas contas da crise que não criamos trazem novos ares de esperança e uma urgência para a ação à classe trabalhadora brasileira e mundial.




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