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VIAGEM DE BOLSONARO AOS EUA | Bolsonaro, Trump e Bannon: votos de submissão ao imperialismo sob a “Internacional de direita”

A viagem de Bolsonaro aos Estados Unidos para encontrar-se com Trump entre os dias 17 e 19 de março é um dos pontos culminantes que marca um dos sentidos estratégicos do governo direitista brasileiro. Tal sentido é o aprofundamento da submissão país ao imperialismo norte-americano em uma escala sem igual na história recente, servindo como uma plataforma dos regressivos interesses de Trump sobre a América Latina, e tendo na Venezuela seu alvo principal.

Simone IshibashiRio de Janeiro

quarta-feira 20 de março de 2019 | Edição do dia

Foto: Brendan Smialowski / AFP / CP

A viagem de Bolsonaro aos Estados Unidos para encontrar-se com Trump entre os dias 17 e 19 de março é um dos pontos culminantes que marca um dos sentidos estratégicos do governo direitista brasileiro. Tal sentido é o aprofundamento da submissão país ao imperialismo norte-americano em uma escala sem igual na história recente, servindo como uma plataforma dos regressivos interesses de Trump sobre a América Latina, e tendo na Venezuela seu alvo principal. Com renovadas juras de entreguismo, o que Bolsonaro deixa claro de maneira patente é que o seu lema “Brasil acima de tudo” é apenas um mote cínico sob o qual se combinam posições xenófobas a um servilismo sem par aos interesses imperialistas.

Mas um dos aspectos a serem sublinhados é a ofensiva de direita articulada por ideólogos como Steve Bannon, da qual Bolsonaro pai e Flávio um de seus “meninos” que estão à frente do país como de um comércio familiar, aliados ao autoproclamado “filósofo” de WhatsApp, Olavo de Carvalho são serviçais, com a pretensa formação de uma “Internacional de direita”. Em um dos discursos dados por Bolsonaro em sua tour norte-americana, contente como uma criança na Disney, afirma-se que “há muito a se desconstruir” remetendo-se aos seus esforços para desmantelar um pretenso socialismo, que não é demais mencionar totalmente fictício, instalado no Brasil nos anos antecessores.

O combate ao “socialismo” seria também uma espécie de argumento coringa usado para legitimar a própria existência da ultradireita e seus objetivos. Uma mostra ocorrida no dia de hoje foi o discurso recheado de cinismo de Trump e Bolsonaro que apresentaram seus intentos golpistas como ajuda humanitária para “libertar a Venezuela do socialismo”. Não é de hoje que a sangrenta ajuda humanitária dos Estados Unidos promove o aprofundamento dos sofrimentos impostos aos trabalhadores e aos povos do mundo. A novidade é o Brasil atuando como coadjuvante na própria América Latina de forma cada vez mais direta, sob o comando de um governo ultradireitista. Isso é parte da tentativa de consolidar uma espécie de “Internacional de Direita”, articulada pelo imperialismo tendo como porta-vozes Steve Bannon e Trump, e promovida na América Latina por Bolsonaro e seus chegados.

Steve Bannon, como se bem sabe, foi um dos responsáveis por disseminar as fake news que levaram Trump ao poder. Esteve no centro do escândalo do vazamento de dados do Facebook para influir sobre os comportamentos políticos dos seus usuários, já que foi um dos cérebros do Cambridge Analytica. Bannon, também conhecido como “Darth Vader da Casa Branca” durante o período em que foi um dos principais assessores de Trump, se define como um nacionalista econômico agressivo, isto é, um defensor da agenda imperialista executada da maneira mais dura. Declarou em outras ocasiões que julga Bolsonaro como brilhante, e nomeou Eduardo Bolsonaro como um dos porta-vozes do The Movement, movimento de direita internacional que seria dedicado a “conquistar a soberania tomada pelas forças da elite global e expandir o nacionalismo para todos os cidadãos da América Latina”.

Bolsonaro é tão brilhante quanto um buraco negro, e exerceu o auge dessa característica durante a campanha eleitoral não participando de nenhum debate, algo crucial para sua vitória. Assim, Bolsonaro só pode ser considerado dessa maneira por Bannon porque é uma peça mais que útil na reestruturação da localização internacional que Trump busca estabelecer para si. O servilismo de Bolsonaro aos Estados Unidos, bem como suas odes a Benjamnin Netayahu imerso em grandes escândalos de corrupção, é de grande valia para o reposicionamento do imperialismo nesse momento. E nisso consiste um dos fundamentos do The Movement.

A tentativa de organização internacionalista de direita não é forjada entre iguais. Se trata de amos e servos. Os Estados Unidos de Trump e Bannon, e em outra medida os membros europeus, são os amos. Bolsonaro e seus possíveis aderentes na América Latina, os servos. Basta ver as primeiras medidas que marcam tal aproximação entre Trump, Bannon e Bolsonaro, dentre as quais pode-se nomear a utilização da Base de Alcântara pelos EUA, a concessão de vistos para turistas vindos de vários países imperialistas sem contrapartida, o favorecimento nas privatizações, que se ocorrerem como quer o governo serão verdadeiros presentes para os capitalistas internacionais, enquanto se retiram os direitos dos trabalhadores, do povo, dos idosos, da Educação e um longo etc. Ou ainda o anúncio de que o Brasil vai comprar quase 1 milhão de toneladas de trigo e carne de porco dos EUA, e em troca os EUA se comprometem a..."enviar equipe para checar as condições sanitárias da carne bovina brasileira".

Nisso reside uma das características mais singulares dessa direita, no servilismo bradado em alto e bom som, orgulhoso, tendo transformado a verborragia nacionalista da direita dos anos 1930, em alegria para tudo entregar e submeter aos EUA. A unidade ideológica entre a direita imperialista de Banon e Trump, e a servil de Bolsonaro, é cimentada com o discurso do reacionarismo dos costumes, que eles passaram a denominar como “marxismo cultural”. Uma fábula que não resiste a qualquer exame minimamente coerente, mas que serve como uma luva para que se enquadre numa mesma categoria “globalistas” aliados a Obama e a alas do igualmente imperialista Partido Democrata, enquanto transforma em “socialistas” figuras como Lula, ou todo e qualquer indivíduo que não comungue com os preceitos imperialistas, privatizadores, conservadores e obscurantistas.

A invenção do “marxismo cultural”, que se une às colaterais de sentido misterioso como a “ideologia de gênero”, em cujo combate declarado o The Movement se baseia, serve dentre outras questões para criar essa deformação que permite tratar como socialistas uma porção de indivíduos, governos e organizações políticas que jamais o foram, inaugurando a demagogia da existência de um pretenso inimigo comum. Socialista em verdade é aquele que combate pelo fim da propriedade privada dos meios de produção, descrição conceitual marxista para designar em outras palavras os que buscam uma sociedade livre da apropriação por parte dos capitalistas das riquezas produzidas pelos trabalhadores.

Lula e o PT nunca foram socialistas. Isso se confirma quando analisa-se seus governos, em que banqueiros lucraram muito, a dívida pública elevou-se enormemente, mas jamais deixou de enriquecer os credores financistas internacionais, e os cortes em Educação se mostraram como uma marca do último governo Dilma. Maduro, bem como Chávez antes dele, apesar de suas tensões com o imperialismo e uma redistribuição limitada da renda nacional que serviu para defender que seria “socialismo do século XXI”, tampouco transformou os aspectos estruturais da formação de classe venezuelana, que não deixou de ser baseada na propriedade privada dos meios de produção na ampla maioria dos setores. Se hoje a Venezuela encontra-se em grande crise é também pelo que não teve de socialismo, ao apostar na formação de uma burguesia bolivariana, e a própria burguesia da direita atuante com seus negócios.

Evidentemente, o marxismo quando entendido como unidade entre a teoria e a prática orientadas para a libertação da imensa maioria da humanidade da escravidão assalariada em prol de uma minoria, abarca os aspectos culturais. São incongruentes as críticas das outrora correntes dominantes pós-modernas, para as quais o grande problema do marxismo seria ignorar as dimensões culturais reduzindo tudo à economia. Lenin, Trotsky, Gramsci e Rosa Luxemburgo dedicaram muitas obras para tratar da cultura, da arte e inclusive da literatura. Mas não é a isso que se referem os olavistas de plantão quando declaram a guerra ao “socialismo e ao marxismo cultural”. Assim, a invenção do marxismo cultural e a deformação do socialismo pela direita serve para que essa possa instrumentalizar para seus interesses o descontentamento que se estendeu de amplos setores com os partidos e representantes políticos tradicionais dos capitalistas, dando a si mesmos um sentido de existência.

Um último sentido que reside detrás do The Movement, e da articulação entre Bolsonaro e Trump, é a movimentação para os embates que se darão produto das crises políticas, econômicas e sociais que o capitalismo seguirá gestando. No marco de um panorama de uma possível nova recessão econômica internacional, os capitalistas, sejam eles aliados de Trump e Bolsonaro ou não, sabem que terão que buscar descarrega-la nas costas dos trabalhadores e dos povos do mundo. O The Movement é acima de tudo uma tática para isso, colocando como linha de frente as alas mais rupturistas do sistema internacional hegemonizadas por Steve Bannon, e no Brasil as alas mais subservientes ao imperialismo, para que dessa maneira possam perpetuar-se em meio à crise.

É à fantasmagoria que essa direita criou sobre o socialismo, que é preciso responder, seja no terreno político, teórico, mas também e fundamentalmente na luta de classes. A direita trompista/bolsonarista radicalizou o seu discurso. A questão que se coloca como vital para os marxistas é como fazer frente a isso, recolocando como é o verdadeiro socialismo, ou seja aquele que não nega a necessidade da revolução social, mas que a prepara e se prepara para isso, a saída para as demandas mais sentidas na atualidade por todos os trabalhadores e pelo povo.




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