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SÉRIES | Bojack Horseman: Um cavalo maníaco depressivo, vagamente baseado em Bertold Brecht

A terceira temporada da cultuada série BoJack Horseman estreia em julho no Netflix. Considerada por muitos como uma sátira ao narcisismo hollywoodiano. Mas na realidade, o produtor Raphael Bob-Waksberg criou um trabalho de arte único sobre a depressão – Usando algumas técnicas de Brecht

terça-feira 11 de abril de 2017 | Edição do dia

“Por que alguns personagens são animais? ” Essa é a primeira questão que os perguntamos ao assistir essa série. BoJack Horseman é um astro de Hollywood em qual fez fama com uma fraca sitcom nos anos 90. E... Ele é um cavalo.

Muito dos personagens são animais: A agente de BoJack, Princesa Caroline, é uma gata rosa, seu amigo e concorrente, Srº Peanut Butter, é um agitado labrador amarelo. Mas outros personagens como o colega de quarto de BoJack, Todd e sua escritora-fantasma Diane, são pessoas normais. E isso nunca é questionado. Nesse universo, um gato e um rato vão a um encontro – é uma piada pronta, mas não parece incomodar ninguém.

Então por que todos os animais? É uma metáfora para todas as pessoas que não são brancas nos Estados Unidos? Ou os animais representam as celebridades, que se diferenciam das pessoas normais? Não e não. Um lagarto trabalha como limpador de janelas, enquanto uma jovem se torna uma cantora pop de sucesso. A atribuição parece ser arbitraria.

Procurando um significado

O ponto alto da carreira de BoJack se passou a quase duas décadas, e ele luta para não ser esquecido. Ele deseja realizar um drama sobre o herói de sua infância, o cavalo de corrida Secretariat. Que assim como ele, possui bastante dinheiro, mas desfruta de pouco reconhecimento. Depois de uma infância dolorosa com pais exigentes, mas distantes (ambos também cavalos), ele procura apreciação.

BoJack quer ser constantemente aclamado, mas ele tem tanto ódio de si mesmo que não consegue manter amizades reais com outras pessoas. Seu desejo de auto-destruição é geralmente expressada pela misantropia para com os outros. No entanto, ele precisa sempre de uma confirmação que ele no fundo é uma boa pessoa. Diane, que conhece BoJack muito bem depois de compor sua autobiografia, tem que explicar a ele: "Eu não acho que acredito que as pessoas sejam algo no fundo". Eu meio que penso você é apenas as coisas que você faz.

BoJack precisa do amor dos outros, mesmo não conseguindo amar a si mesmo ou aos outros. É por isso que ele sempre tenta fugir. Ele quer ganhar um Oscar por "Secretariat" e se deleita com a admiração dos convidados de sua festa - mesmo que ele não conheça o nome de nenhum deles. Seus amigos o recorda que depois da cerimônia do Oscar, ele se sentirá ainda mais miserável. "Você vai ser tão miserável, você vai querer se matar", diz Diane. - E você não vai ter ninguém para te impedir! Mas BoJack está alucinado por sua festa. Seus convidados desconhecidos gritam o seu nome, e ele retruca: "Ouça esse canto! Vai haver muitas pessoas ao meu redor quando eu me matar."

Esta cena é um ótimo exemplo para o tom que leva a série, que aborda questões controvérsias, como: asexualidade, aborto, abuso de drogas, até mesmo piadas sobre asfixia autoerotica. Mas tudo entra contra o pano de fundo da depressão debilitante que vemos como espectadores e podemos testemunhar de perto - mesmo que BoJack inevitavelmente apareça animado em público.

Como qualquer pessoa com depressão, BoJack anseia por um momento em que tudo vai ficar "melhor". E depois de cada sucesso ele percebe que esta é uma ilusão terrível. Ele tem que fazer algo terrível para confirmar sua imagem. Então ele se sente envergonhado e precisa de reconhecimento novamente. Ele corre dentro de uma roda emocional, como um hamster, carregado de álcool e pílulas, cada vez mais perto de suicídio. Ele sabe que ele é "egoísta, narcisista e autodestrutivo", e não pode mudar. E ainda assim continua.

No final, a série pode ser tão triste que só nos resta chorar, mas é de alguma forma também esperançoso - pelo menos "no fundo".

Épica

E então voltamos à pergunta original: Por que alguns personagens são animais? Uma explicação pode ser encontrada no trabalho do dramaturgo alemão Bertolt Brecht. Seu "teatro épico" inclui um "efeito de alienação" que é projetado para destruir todas as ilusões dos espectadores. Como num teatro, vemos como tudo no palco é movimentado. Lembramos que isso é apenas uma peça. Estes são apenas atores em um palco.

Em uma série como BoJack Horseman, seria fácil pensar: BoJack é apenas um cara triste. "É bom que eu não seja assim!" Mas os animadores nos lembram com 25 quadros por segundo que BoJack não é um ser humano real. Ele é um cavalo falante. "Seus" problemas são nossos problemas.

A campanha publicitária para o filme "Secretariat" é um outdoor espelhado. É uma campanha publicitária terrível que cega os motoristas na auto-estrada. Mas essa propaganda poderia ser para BoJack Horseman: Nós somos apresentados com um cavalo. E ainda nos vemos nele.




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