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Coincidentemente, a prisão se deu um dia após o dia internacional de luta das mulheres, o 8 de março, dia em que a pauta pela legalização do aborto se faz mais presente.

terça-feira 12 de abril de 2016 | Edição do dia

A notícia foi veiculada de maneira sensacionalista pela grande mídia impressa local tendo a frente o jornal reacionário O Estado de Minas junto aos jornais O Tempo e Super. Segundo as notícias policialescas desses jornais, Ilizabete Alves Menezes tinha uma clínica clandestina de abortos e uma rede que envolvia médicos, farmacêuticos e uma maternidade. A polícia diz ter encontrado um caderno com mais de 120 registros está usando isso como uma ameaça a mulheres que teriam recorrido ao aborto clandestino devido uma gravidez indesejada.

Ou seja, assim como vem ocorrendo já no Rio de Janeiro, a polícia quer abrir em Belo Horizonte uma verdadeira operação de “caça às bruxas”, intimidando mulheres e buscando criminalizar ainda mais a prática do aborto clandestino que deixa milhares de mortas todo ano em nosso país.

O conservadorismo mineiro e a realidade do aborto

Minas Gerais é um estado conhecido pelo conservadorismo de suas famílias tradicionais e é também o terceiro estado com maior número de registros de internações decorrentes de complicações por abortos, são cerca de 80 mil casos por ano. Com forte influência da Igreja no estado, um aborto seguro, ainda que ilegal, é algo muito distante da realidade da grande maioria das mulheres, o que coloca o estado nessa posição nas estatísticas. Ou seja, para cada uma dessas 120 mulheres de BH e região, há ainda outras dezenas que o realizam de forma mais precária e insalubre, resultando na morte de várias mulheres. Uma mostra disso é que meses atrás houve outra campanha reacionária contra o direito ao aborto com a denúncia de tráfico de cytotec na UFMG, o que mostra o quão escandalosa é a realidade dos abortos clandestinos aqui, entre mulheres trabalhadoras e estudantes.

A criminalização do aborto não apenas mutila e mata milhares de mulheres todos os anos, como permite com que surjam redes clandestinas, que lucram milhares em cima do desespero de mulheres grávidas que desejam interromper a gravidez. Um aborto ilegal, mas seguro, como os que supostamente eram feitos nessa clínica, podem chegar a custar alguns milhares de reais, o que faz com que as mulheres pobres, trabalhadoras, tenham que recorrer aos piores e mais inseguros métodos de aborto, como a utilização do Cytotec e violências diversas que possam resultar o fim da gestação. E essas práticas levam milhares de mulheres à morte.

E enquanto milhares de mulheres seguem morrendo, a bancada religiosa e os setores conservadores seguem se fortalecendo no Congresso – como Eduardo Cunha, autor do projeto de Estatuto do Nascituro” – com base nas inúmeras alianças feitas com o governo PT nos últimos 14 anos, que entregou nosso direito de decidir pelos nossos corpos e vidas em troca de governabilidade.

Acabar com máfia do aborto e as mortes de mulheres: legalizar o aborto!

Essas máfias do aborto clandestino só existem porque, além do aborto ser ilegal, o Estado não garante condições plenas para a maternidade, o que leva a mulheres a optarem pela interrupção da gravidez. O aborto é uma prática que existe e vai continuar existindo, independente da legalidade. Para acabar com a perseguição e criminalização que andam de mãos dadas com as máfias que lucram colocando a vida de mulheres em risco, somente garantindo à mulher o direito de decidir sobre sua vida e seu corpo: somente legalizando o aborto. Frente a mais esse ataque que promete perseguir centenas de mulheres, é urgente que todas as organizações de mulheres, organizações de esquerda, sindicatos e entidades estudantis se levantem contra a perseguição às mulheres e pela legalização do aborto, que esse seja seguro e gratuito, garantido pelo SUS, para que mais nenhuma mulher morra nem seja perseguida. É preciso também exigir que o Estado garanta educação sexual em todas as escolas para que as jovens possam decidir pelas suas vidas, e contraceptivos de qualidade em todos os postos, para evitar a gravidez. Que a maternidade, que na maioria das vezes nos é imposta, deve ser um direito, e para isso é necessário um pré-natal de qualidade garantido pelo SUS, direito à creche, educação e saúdes públicas e de qualidade.

Basta de máfias, perseguição e mortes. Pelo direito ao aborto, pelo direito à maternidade!




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