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IV ENCONTRO DE MULHERES TRABALHADORAS DA USP | Avança a organização das mulheres trabalhadoras da USP

O VI Encontro de Mulheres Trabalhadoras da USP, ocorrido em 26 de março, foi dedicado a trabalhadora da seção de alunos de Letras da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Geiza Aparecida Medeiros Martinez, brutamente assassinada uma semana antes, mais uma vítima da violência de gênero que oprime e mata mulheres no país.

terça-feira 31 de março de 2015 | 00:19

O encontro contou com duas mesas de debates. A primeira mesa, comandada por Diana Assunção, diretora do Sintusp discutiu os ataques do governo e da reitoria e a opressão às mulheres e contou com a participação das debatedoras, Marcela Azevedo, da executiva nacional do Movimento Mulheres em Luta, Andreia Pires, demitida política da empresa JBS e militante do grupo de mulheres Pão e Rosas e Daniele Santana, estudante de filosofia e uma das mães sem creche. A segunda mesa, A Luta das Mulheres Negras, contou com a participação das trabalhadoras Dinizete Xavier, do CSEB-USP, Vilma Maria, do restaurante Universitário da Física e da professora da Unifesp – BS, Renata Gonçalves.

No debate sobre os ataques do governo e reitoria e a opressão das mulheres, Marcela ressaltou a importância de construir uma terceira via, a dos trabalhadores, que respondesse tanto aos ataques do governo Dilma, quanto aos ataques vindos dos setores da direita. Ressaltou também que o déficit de vagas nas creches de São Paulo é 170 mil vagas, cujas responsabilidades tanto da prefeitura quanto do governo estadual e a necessidade de lutar que 1% do PIB seja destinado ao combate à violência da mulher. Andreia lembrou que a exploração do sistema capitalista nos tira o direito de gostar de trabalho que exercemos. Demitida política da JBS após passar um abaixo-assinado, que contou com mais de 200 assinaturas, contra a cobrança de refeições dos trabalhadores, denunciou as péssimas condições de trabalho na indústria da carne. Daniele Santana, mãe do Francisco, uma das 141 crianças que tiveram suas vagas nas creches da USP canceladas, lembrou da relação entre o capital o machismo e a necessidade de lutar contra o sistema capitalista atrelada a luta contra o patriarcalismo que oprime as mulheres.

Yuna Ribeiro, trabalhadora da USP, reforçou a necessidade de lutar contra a invisibilidade das mulheres oprimidas, pois a sociedade mascara e esconde a opressão às mulheres. Lembrou da luta que os trabalhadores da USP devem travar contra PIDV (Plano de Incentivo à Demissão Voluntária) para repor as vagas e a contratação de mais funcionários nos setores onde a demanda exige, como nos restaurantes, nas creches e nos hospitais. Ressaltou que os trabalhadores que aderiram ao PIDV não são os responsáveis pela sobrecarga de trabalhado gerada com suas saídas, pois seus corpos cansados mereciam uma aposentadoria mais digna. Lembrou do companheiro Paulão, que se foi há quase um mês, e concluiu que a responsabilidade sobre essa sobrecarga e todos os efeitos danosos do PIDV deve recair sobre a reitoria.

A professora Renata Gonçalves contextualizou a história de lutas dos trabalhadores negros e as políticas racistas do Estado brasileiro. Lembrou que as mulheres negras nunca foram trabalhadoras plenamente livres, pois sobre elas recai o jugo da precarização do trabalho, especialmente através da terceirização. Citando os trabalhos de Djamila Ribeiro, Quem tem medo do feminismo negro, e o texto escrito por Marcela Johnson, Mulheres negras: raça gênero e classe, lembrou anunciava que a situação da mulher negra era radicalmente diferente da situação da mulher branca.
Enquanto as mulheres brancas lutavam pelo direito ao voto, ao trabalho, mulheres negras lutavam para serem consideradas pessoas. A trabalhadora Vilma deu exemplos de como são nos piores trabalhos que se concentram as mulheres negras.

Leu uma carta de uma companheira de trabalho, Elenice Rocha, que lembrava de grandes lutadoras negras, como Dandara, Laudelina Mello e Teresa de Benguela, sua resistência à opressão e a importância de lutarmos contra o racismo e o machismo na sociedade. Por fim, Dinizete ressaltou a importância de se cuidar da saúde de negros e negras, com suas especificidades, e como ao longo de nossa história, foi negligenciada pelo estado e por parte da classe médica.

Durante o encontro, as trabalhadoras participaram de dois atos importantes. Aliado aos estudantes contra as filas nos bandejões, por mais contratações e os ataques à permanência estudantil, as trabalhadoras foram ao ato denunciar o assédio moral, o racismo, as péssimas condições de trabalho que causa constantes lesões e limitações aos trabalhadores. Muitos dessas trabalhadoras, como Vilma, por exemplo, já realizaram diversas cirurgias por causas dessas lesões e vivem constantemente com dores, sofrendo a cada dia por causa do trabalho extenuante.

Organizaram o ato que homenageava a trabalhadora Geiza e lembrava a opressão a que estão submetidas milhões de mulheres no Brasil, exigindo justiça para Geiza e o fim da violência que atinge às mulheres.

Ao fim do encontro, a conclusão, nas palavras de Andreia Pires:
Ao dividir minha experiência com vocês me sinto mais segura. Porque somos mulheres, estamos organizadas e estamos em luta”.




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