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Editorial DF/GO | Aumento dos combustíveis, transporte precário e segregação: a vida dos trabalhadores no DF e entorno

Os efeitos da guerra na Ucrânia já são uma realidade nas vidas de milhões de trabalhadores pelo mundo. O aumento dos combustíveis no Brasil é uma das consequências dessa guerra reacionária, que opõe o nacionalismo xenófobo de Putin e a agressividade imperialista da OTAN. Isso se potencializa pela política privatista de Bolsonaro e Guedes, para garantir os lucros dos acionistas da Petrobras jogam a crise para os trabalhadores. Como não poderia deixar de ser, impacta a vida também no DF e entorno, escancarando ainda mais a segregação existente entre o plano piloto e as diferentes regiões administrativas que sofrem com a péssima estrutura do transporte público.

quarta-feira 30 de março de 2022 | Edição do dia

O aumento dos combustíveis por todo o Brasil é fruto dos impactos econômicos causados pela reacionária guerra na Ucrânia, mas também consequência das privatizações e ataques que sofre a Petrobras pelo governo Bolsonaro, que deu continuidade ao governo golpista de Temer e a política de preços atrelada ao mercado internacional que beneficia os acionistas, principalmente estrangeiros. O recém demitido presidente da Petrobrás, general Luna e Silva, disse em entrevista: “Temos uma estatal de capital aberto com 63% de capital privado. Essa é a empresa que a gente tem que cuidar, para dar resultados. A Petrobras tem responsabilidade social? Tem. Pode fazer políticas públicas? Não. Pode fazer política partidária? Muito menos ainda". Ou seja, para os militares está muito bem garantir os lucros dos capitalistas enquanto são os trabalhadores e a população pobre aqueles que sofrem com os efeitos da inflação, da fome e da carestia de vida.

Leia também: Efeitos da guerra: a crise dos combustíveis e alimentos no Brasil e a resposta dos trabalhadores

Vimos como por todo Brasil quando foi anunciado o aumento dos combustíveis pela Petrobras no dia 10/03, que chegaram a 18,8% na gasolina, o diesel em 24,9% e o gás de cozinha em outros 16,9%, foram imensas as filas que se formaram para tentar garantir um tanque cheio e economizar em um cenário onde a alta inflação corrói os salários dos trabalhadores. Isso sem falar no preço absurdo dos alimentos e que promete aumentar ainda mais frente a alta do diesel e o fato do transporte rodoviário ser predominante no país.

No Distrito Federal, uma cidade onde o transporte público é extremamente limitado, de péssima qualidade e as longas distâncias entre o Plano Piloto e as diferentes regiões administrativas são imensas, os trabalhadores que podem recorrer ao transporte individual o fazem para garantir mais autonomia e perder menos tempo no transporte, mas isso também pode estar com os dias contados.

Distância entre Brasília e outras Regiões Administrativas

Segundo dados divulgados em 2020 pela Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan) o Plano Piloto é a Região Administrativa que concentra a maior parte das atividades locais. Essa condição pode ser observada pelo número de pessoas que trabalham no Plano Piloto: 41,4% do total de ocupados do DF, ou 518 mil pessoas. Isso torna o Plano Piloto o principal destino dos trabalhadores do DF. Em segundo lugar está Taguatinga, com 8,4% dos ocupados, ou 105 mil pessoas e, em seguida, Ceilândia, com 6,3% ou 79 mil. Essas três RAs concentram 56,5% dos ocupados do Distrito Federal.

O metrô, inaugurado em 1998, possui apenas duas linhas que atendem apenas 6 das mais de 30 regiões administrativas no DF, sequer chega à Asa Norte do Plano Piloto, que é justamente a região mais desenvolvida. Com frequência ocorrem falhas no metrô, chuvas fortes costumam interromper a operação, ano passado houve um descarrilamento, tudo isso fruto do sucateamento e precarização que o governo do milionário Ibaneis Rocha (MDB) aprofundou para justificar a privatização, assim como fez com outras estatais no DF.

Vale lembrar que nestes números não estão compilados os dados dos trabalhadores que moram no entorno do Distrito Federal, em cidades que fazem parte da RIDE-DF (Região Integrada de Desenvolvimento Econômico do DF) como Águas Lindas de Goiás, Luziânia, Valparaíso de Goiás, Formosa, Novo Gama, Planaltina, para citar as mais populosas e que juntas possuem ao menos 1 milhão de habitantes. Segundo dados divulgados em dezembro de 2014, também pela Codeplan, cerca de 211,94 mil trabalhadores se deslocavam diariamente da Periferia Metropolitana de Brasília (que engloba as cidades citadas) para o Distrito Federal.

Ainda vale ressaltar que aqui estamos apontando apenas o deslocamento diário para o local de trabalho. Pelas condições econômicas e sociais das diferentes regiões administrativas e dos municípios do entorno, o deslocamento para acessar serviços públicos como hospitais e escolas, serviços diversos, serviços bancários, compras e lazer faz com que esses números sejam ainda maiores.

Sobre o tempo gasto nos transporte público: segundo dados do aplicativo de mobilidade Moovit a porcentagem de pessoas que viajam em Brasília e Entorno do DF de transporte público por mais de 2 horas todos os dias Incluindo viagens de Metrô e Ônibus é de 56%. Além disso, a porcentagem de pessoas em Brasília e Entorno do DF que esperam pelo transporte em média mais de 20 minutos por dia, por exemplo indo e voltando do trabalho é de 68%.

Os dados que buscamos demonstrar aqui são expressão da forma segregacionista com que se desenvolveu o Distrito Federal, sendo a região mais desigual do país, onde o Plano Piloto é o centro de um complexo urbano que se mantém afastado das demais regiões administrativas, assim como é também dos municípios do entorno, que dependem economicamente deste centro e não possuem a mesma infraestrutura.

O aumento dos preços dos combustíveis escancara ainda mais a deterioração das condições de vida da população, uma crise vivida diariamente por milhares de trabalhadores, que afeta principalmente os setores mais precarizados de nossa classe como são as mulheres e os negros, e o transporte é apenas um dos aspectos que compõem este cenário. Como dissemos, está relacionado também com a política dos governos capitalistas, que no DF é representada no momento pelo milionário governador Ibaneis Rocha que através da especulação imobiliária e de uma ideologia racista busca aprofundar a histórica segregação da classe trabalhadora.

A solução para o problema do transporte e dos demais problemas estruturais no DF está nas mãos dos mesmos trabalhadores que construíram e até hoje carregam nas costas o funcionamento do centro político do país. Apenas a mobilização dos trabalhadores do DF em cada local de trabalho, em um plano de lutas unificado, poderia conquistar um programa que enfrentasse os lucros capitalistas que estão na base dessa situação. Como, por exemplo, a estatização dos transportes, e sua gestão pelos trabalhadores com controle dos usuários do sistema, poderá determinar a distribuição das linhas de acordo com os interesses da população e não das empresas de ônibus. Assim como uma reforma urbana radical realizada através de um grande processo de mobilizações poderia garantir a expropriação dos prédios desocupados, das mansões e dos grandes proprietários como Ibaneis para garantir a demanda habitacional da população, entre outras medidas necessárias. Lutar por uma Petrobrás 100% estatal, sem indenizar os acionistas e grandes bancos, gerida pelos trabalhadores e sob controle da população seria uma saída imediata para garantir combustíveis baratos e melhorar as condições de vida em todo o país para que estes recursos sirvam a vida dos milhões de trabalhadores e da população pobre. Nenhum político desse regime, seja Bolsonaro mas também Lula, vão garantir o benefício da população contra os capitalistas, apenas nossa mobilização pode garantir que nossa vida esteja acima dos lucros deles.




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