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Ato escancara a LGBTQIfobia, racismo e machismo em seminário organizado pela PUC-RIO

terça-feira 22 de agosto de 2017 | Edição do dia

Ato aconteceu domingo dia 20, convocado pelo Coletivo Madame Satã, da Puc-Rio, em repúdio ao "Seminário de Ideologia de Gênero" ministrado por Dom Antônio Augusto - membro da ala conservadora da Igreja Católica.

Em meio a centenas de católicos que se locomoveram para PUC-RIO, não desavisados da repercussão negativa do seminário estiveram em grande numero, a manifestação, que contou com apoio de movimentos sociais e de coletivos também de fora da universidade interrompeu a palestra, após ouvir um punhado de absurdos, de um discurso que justifica e incentiva a morte de LGBTQIs, mulheres e negros nas favelas.

Após subir após todos os manifestantes subirem ao palco foi lida uma nota, feita pelo coletivo Madame Satã e pode ser assistido nesse link:

https://www.facebook.com/coletivomadamesatapag/

O discurso da igreja se utiliza de um pseudo-cientifico argumento, baseado em suas convicções LGBTQIfóbicas, machistas e racistas, de que o debate sobre o gênero é que vai orientar qual será a sexualidade de uma criança, essa compreensão absurda, assassina e marginaliza a todos que não seguem o padrão heterossexual pregado pela igreja. Não ter sua sexualidade reconhecida como própria de seu ser é o que torna a vida de cada mulher, LGBTQI, negro e oprimido a cada dia mais difícil e dolorosa, não só ignorando que o Brasil é o primeiro no ranking de assassinatos de LGBTQIs mas contribuindo para que a cada dia essa violência se dissemine pela sociedade.

O Coletivo Madame Satã somente explicitou essa opressão diária, num evento organizado para justificar ideologicamente o machismo, racismo e LGBTQIfobia.

O coletivo Madame Satã fez questão de fazer 3 notas altamente explicativas de sua posição: NÃO À HEGEMONIA DA IDEOLOGIA CRISTÃ #1 #2 e #3. Ainda publicou mais uma nota pública, que reproduzimos aqui:

NOTA COLETIVA

Resolvemos fazer esta nota coletiva acerca do termo identidade de gênero, prezando pela função da PUC-Rio de produzir ciência. Nós, do Coletivo Madame Satã, estaremos aqui abordando a questão da identidade de gênero para justificar melhor o porquê de nosso ato contra o seminário de “ideologia de gênero”. Iniciaremos trazendo o seu significado para então diferenciá-lo de orientação sexual.
Segundo a psicóloga Jaqueline Gomes de Jesus, somos designados a um gênero ao nascermos, sendo esse diretamente relacionado à nossa genitália, condicionando a determinados comportamentos, por exemplo se portar e se vestir de acordo com um padrão socialmente estabelecido. O padrão carrega algumas máximas, como a de que “homens são assim”, “mulheres são assado”, “é da sua natureza”, “toda mulher tem que casar”... E é realmente algo observável e naturalizado na sociedade. Dessa forma, a dicotomia homem-mulher é produto de uma realidade construída, sendo seus valores socialmente reproduzidos na/pela população. E, produzidos por meio dessa cultura binária, nossos olhares nos percebem enquanto corpos puramente naturais e imutáveis.

Se nossa identificação enquanto mulheres ou homens vem do social, justa se faz a crítica da psicóloga acerca do olhar puramente biológico sobre os corpos: “para a ciência biológica, o que determina o sexo de uma pessoa é o tamanho das suas células reprodutivas (pequenas: espermatozóides, logo, macho; grandes: óvulos, logo, fêmea), e só. Biologicamente, isso não define o comportamento masculino ou feminino das pessoas”. Quando uma pessoa se identifica como mulher, não é necessário que seus comportamentos retratem apenas o feminino. A partir disso, a identidade de gênero se apresenta enquanto um agregado de elementos sociais que são incapazes de serem explicados somente pelo olhar da biologia.
Se faz importante considerar a definição de um sujeito por meio de sua auto-percepção e expressões sociais. No que tange o conceito identidade de gênero, esse seria o principal contexto. Ademais, a especialista em políticas públicas Cristiane Gonçalves da Silva defende que “a identidade de gênero pode ser traduzida pela convicção de ser masculino ou feminina, conforme os atributos, comportamentos e papeis convencionalmente estabelecidos para os machos e fêmeas”.

Trazemos aqui a existência de pessoas que não se identificam com o gênero que a elas foi designado, o que pode ser apresentado por identificação com o gênero oposto, com nenhum dos gêneros binários ou até mesmo apresentar fluidez entre o masculino e o feminino, como é o caso das pessoas intersexuais. Ou seja, como afirma Bourdieu, “essa percepção – binária -, por sua vez, está fundada – apenas - em esquemas classificatórios que opõem masculino/feminino, sendo esta oposição homóloga e relacionada a outras: forte/fraco; grande/pequeno; acima/abaixo; dominante/dominado”. Por isso sabemos que o conceito de identidade de gênero vem da construção social que é feita dos gêneros e como nos relacionamos com isso.

A reflexão acerca da orientação sexual se difere do gênero por ser a expressão da sexualidade. Independentemente de sua identidade de gênero, uma pessoa pode se identificar sendo gay, lésbica, bissexual, pansexual, entre outros, sem interferir na sua expressão de gênero. Com isso, da mesma forma que existem pessoas cisgêneras (que se identificam com o gênero atribuído), há pessoas transexuais com as mesmas características. E ambas podem ser bissexuais, lésbicas, pansexuais, gays, entre outras. A orientação sexual, portanto, identidade de gênero e orientação sexual não são a mesma coisa.
Esse é um dos motivos pelo qual o Coletivo Madame Satã se posiciona contra o seminário de “ideologia” de gênero promovido pelo Programa de Liderança Católica da PUC-Rio. Defendemos uma narrativa disposta a compreender a multiplicidade social que conflita com o cerceamento dos corpos em prol da manutenção de uma hegemonia social, política e cultural.

Kellvin, militante do Coletivo Madame Satã também nos mandou nota em colaboração ao Esquerda Diário, e pode ser encontrada aqui.




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