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Argentina | Ato do sindicalismo combativo, a esquerda e os movimentos sociais: contra o ajuste, pelo triunfo das lutas

Em Buenos Aires, capital argentina, o sindicalismo combativo, a esquerda e as organizações piqueteras independentes convocaram uma jornada de rechaço ao ajuste, em apoio às lutas e com reivindicação às centrais sindicais, Confederação Geral do Trabalho (CGT) e a Central de Trabalhadores da Argentina (CTA). Exigem que rompam a subordinação ao governo, convoquem assembleias e uma greve geral que dê início a um plano de luta para todas as reivindicações do povo trabalhador.

quinta-feira 18 de agosto de 2022 | Edição do dia

A marcha organizada pela Plenária do Sindicalismo Combativo, organizada em torno da Unidade Piquetera e da esquerda, terminou na Praça de Maio, em Buenos Aires. Ali tomaram a palavra referentes de setores antiburocráticos, como Rubén “Pollo” Sobrero da Unión Ferroviaria, Alejandro Crespo da Sutna, Jorge “Loco” Medina da Madygraf e do MAC, Guillermo Pacagnini do Cicop e da ANCLA. Também houve referências ao MTR, assim como Eduardo “Chiquito” Bellonini do Polo Obrero e Silvia Sarabia do Barrios de Pie.

Como parte das organizações sociais que participaram, incluíram o Movimento Teresa Vive, o Polo Obrero, o MTR, Barrios de Pie. Também se somaram trabalhadores de Sutna, do Sindicato Ferroviário da seção de Haedo, bem como trabalhadores do Hospital Italiano. Participaram delegados da Comissão Interna do GPS, professores organizados no grupo Brown e membros da Suteba Tigre. Participaram também as agrupações antiburocráticas de trabalhadores de estatais, professores, ferroviários, do metrô, pneumáticos e da alimentação.

Uma das participações mais marcantes foi a dos trabalhadores da Madygraf sob gestão operária, que votaram para fazer parte do dia de luta, deixando apenas um de plantão para que todos pudessem se mobilizar.

Reproduzimos aqui as intervenções que ocorreram no ato com que se encerrou o dia de jornada na Praça de Maio.

Primeiro, tomou a palavra Silvia Sarabia, Coordenadora Territorial Nacional de Libres del Sur:

“Estamos aqui acompanhando este chamado ao plenário do sindicalismo combativo, porque acreditamos que a luta deles também é a nossa luta. (...) Acreditamos que o povo organizado tem que levantar, botar o pé e dizer basta. Chega de toda essa tourada política que nos governa, que nos trouxe até aqui, que não conseguiu combater a pobreza, que não criou empregos reais e que ficou do lado dos poderosos. Viemos denunciar que o acordo com o FMI condiciona o nosso futuro e vamos denunciar que cada uma das figuras que estão à frente deste programa que continua a levar este governo adiante e que agora conta também com o apoio de Cristina Fernández, que não pode se esconder e nem virar o rosto, senão que se tem sentado com Sergio Massa para validar o rumo que este país está tomando”.

Pelo Movimiento de Agrupaciones Clasistas (MAC), Jorge "el loco" Medina, gerente da recuperada fábrica Madygraf, fez um discurso efusivo que reproduzimos grande parte:

“Companheiras, companheiros, sou operário da Madygraf, uma fábrica recuperada. Faz apenas alguns dias que completamos 8 anos e hoje estamos aqui, logo depois de termos votado em assembleia. É por isso que estamos com meus colegas e colegas. Ao contrário da burocracia sindical que fica atrás de 4 paredes, votamos para estar nessa convocação junto com o sindicalismo combativo e de esquerda, entre eles, apoiando o governo de Massa, Alberto e Cristina, sem dizer uma palavra sobre como os salários subiram, os planos sociais ou as alegrias. Não temos uma única palavra contra as tarifas que fazem parte do plano de reajuste promovido pelo FMI. Não digo uma única palavra sobre a necessidade de um trabalho genuíno. Em vez disso, votamos para estar aqui porque lutamos para recuperar nossos salários, porque lutamos porque salários, pensões e planos sociais são reajustados mês a mês seguindo a inflação, mas não apenas para recuperar o que foi perdido este ano, mas também durante o macrismo. Também lutamos contra as tarifas e pela nacionalização de todo o sistema energético, para que os empresários amigos de Massa não continuem enchendo os bolsos para atender às necessidades de toda a nossa classe trabalhadora. Também lutamos por um trabalho genuíno e pela redução da jornada de trabalho para 6 horas, sem redução salarial e com salário mínimo igual à cesta básica familiar e para que trabalhemos todos e todas.

"E também estamos aqui apoiando todas as lutas, como a dos camaradas Sutna, que lutam há mais de 6 meses e com quem estávamos hoje cortando todo os acessos. Também nos mobilizamos a cada mobilização da Unidade Piquetero, apoiando cada luta dos companheiros e companheiras desempregados. Se vamos falar de lutas e de toda a raiva que surge de baixo, desde aqui onde estamos os que não se sustentam mais, aqueles que não querem deixar esse ajuste passar, temos que destacar o exemplo de Santa Fé, onde os professores e funcionários do estado conseguiram arrancar uma greve de 72 horas de todos os sindicatos, incluindo a UPCN, onde os trabalhadores portuários de Rosário conseguiram parar as demissões com uma greve de 7 dias greve, e onde milhares e milhares se autoconvocaram ao monumento à bandeira, lutando contra a queima de mangues e contra o plano de extrativismo deste governo. Essa província convulsionada, como Santa Fé, mostra o que está por vir para toda a Argentina, e a partir de agora outras províncias, como Mendoza, como La Rioja, como Chubut, onde os professores foram às ruas aos milhares e milhares. Por isso, desde o Movimiento de Agrupaciones Clasistas, que represento, insistimos que temos que continuar construindo essa unidade para impor uma greve nacional às centrais sindicais e um plano de luta para derrotar esse ajuste. Por isso também, desde o MAC, insistimos na necessidade de apoiar todas as lutas e reiteramos a proposta aos camaradas do Sutna de realizar um grande encontro solidário com todas as organizações que apoiam sua luta, porque se o SUTNA vencer, vencemos todos." .

“E também desde o MAC reiteramos a proposta que fizemos aos companheiros na mesa do Plenário Sindical Combativo, de lançar um Grande Encontro Nacional de Empregados e Desempregados para continuar construindo essa força, para torcer o braço do Governo, o FMI e conseguir que as centrais sindicais rompam a trégua com este governo".

"Para isso, companheiros, temos que impulsionar esse encontro onde vêm os professores de Mendoza, Neuquén, Santa Fé, os vinicultores de Salta e Mendoza que também estão lutando, os trabalhadores de Jujuy que também estão lutando. Unir todas as lutas em curso, como a de Sutna ou a dos meus colegas da Madygraf que continuam a lutar pela expropriação da fábrica, que continuam a lutar contra os aumentos tarifários, e que seguimos a lutar pela defesa dos gestões operárias, tomando o exemplo de nossos colegas da Zanon de colocar a fábrica ao serviço de todos".

"Por isso dizemos que Madygraf é do povo e convidamos todos a defendê-la. Para isso precisamos continuar fortalecendo essa unidade, nas ruas e nas lutas. Por isso, desde o MAC essa é a nossa mensagem. E para a burocracia sindical que está marchando na espada do povo trabalhador, que saibam que não bancamos mais esse ajuste e que vamos às ruas quantas vezes forem necessárias para derrotar esse plano de ajuste. Muita força companheiras e companheiros!”


Eduardo "Chiquito" Belliboni, dirigente nacional do Polo Obrero
também falou:

“Há apenas uma semana estávamos aqui, com milhares de colegas da Unidade de Piqueteras. Estávamos lutando por demandas muito concretas. Esta Praça de Maio é uma ação de luta pelas reivindicações dos trabalhadores. Pelas demandas que a classe trabalhadora precisa colocar na mesa. Os empresários, os banqueiros fazem lobby o tempo todo, para obter seus lucros, sobre o governo. O Governo representa os interesses destes empresários. É preciso dizer as coisas que acontecem neste país sem ambiguidades. Hoje tivemos duas praças, uma em que a CGT por todos os meios e fazendo malabarismos evitou dizer que reclamava, qual era as reinvidicações dos milhares que foram à Plaza del Congreso. Mas se alguém parasse um trabalhador da SMATA, da UOM, da UOCRA e lhe perguntasse: isso é uma marcha para defender o governo? “Esta é uma marcha porque estamos morrendo de fome.” Há alguma dúvida de que neste país, com o ajuste que está sendo aplicado, o salário serve para menos? O salário é uma variável de ajuste. O governo usa a inflação para liquidar os salários. Como vamos dizer que o governo não é responsável pelos preços?

O Secretário Geral do CICOP, Coordenador Nacional da Agrupación Nacional Clasista Antiburocrática (ANCLA), Guillermo Pacagnini disse:

“Aqui na Praça de Maio, o sindicalismo combativo, os movimentos piqueteros, a esquerda unida, nos reunimos para dizer bem alto ’queremos rechaçar o paquetazo de Massa’. Há outra saída, um plano operário e popular, ajustando os ricos, deixando de pagar a dívida, cobrando impostos de quem mais tem, recuperando as privatizadas, nacionalizando o banco, enfim, que a crise não seja mais paga pelos trabalhadores, mas pelas corporações e pelo fundo monetário. (...) Com certeza vamos sair desta praça com as energias recarregadas, e vamos pensar qual será a continuidade quando voltarmos aos nossos locais de trabalho, aos sindicatos, aos bairros, aos locais de luta. Vamos unificar as lutas, que são muitas, que a imprensa esconde, que o governo nega e a burocracia isola e boicota”.

Para finalizar, tomou a palavra o Secretário Geral de Sutna, Alejandro Crespo:

“O caminho correto é aquele que defende os interesses dos trabalhadores sem olhar para o outro lado. Entendendo que o que o movimento operário perde não é fácil de recuperar, e quando eles querem colocar em jogo, temos que colocar tudo para a frente e agora também para aqueles camaradas que estão no movimento de desempregados e estão lutando organizados. (...) A irmandade de classe, o modo de agir organizado e em defesa de cada camarada coletivamente, saber que lutamos pelo mesmo, saber isso, em um emprego, ou na luta que se faz no piquete ou em uma sala de jantar é a luta da classe trabalhadora contra os que exploram”.




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