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POLÍTICA | As primeiras cartas de 2017 foram dadas. O que podemos prever com elas?

Com novos fatos políticos, desastres aéreos como o que matou o ministro do STF Teori Zavascki, e a morte de Marisa Letícia no dia de hoje, 2017 começa com tantos, ou mais, fatores imprevisíveis que 2016.

Leandro LanfrediRio de Janeiro | @leandrolanfrdi

quinta-feira 2 de fevereiro de 2017 | Edição do dia

Arte: Juan Pablo Diaz Vio

O coringa imperial

Nos EUA tomou posse Donald Trump. A instabilidade internacional decorrente de suas posições já começaram a ser sentidas. A tendência a aumento nas taxas de juros e suas medidas protecionistas devem produzir saída de capitais do Brasil e outros países bem como desvalorizar as commodities que o país exporta, tornando o cenário econômico mais provável, como mínimo, uma continuidade dos impactos sociais da grave crise econômica do país.

Trump significou um encorajamento para a direita em todo mundo. De Bolsonaro a Marine Le Pen, não faltam os que se oferecem versões locais do machista, racista e xenófobo presidente americano. Porém, sua posse foi respondida por uma histórica mobilização de mulheres e seu decreto impedindo a entrada de pessoas de 7 países de maioria muçulmana gerou imediata reação nas ruas e até mesmo nas cortes do país. Observar “militância” no coração do império poderia servir de inspiração e influência ideológica mundo a fora? Quanto, como? Com qual “admiração” pelos democratas agora vestidos de oposição e apagando seu passado na condução das guerras daquele país, não é possível opinar ainda.

Fachin, ou um sorteio que dá a carta que a Globo queria

Em nosso país o ano político começou com a morte de Teori Zavascki. Segundo pesquisa, a maioria dos brasileiros achou essa morte suspeita. Imediatamente abriu-se uma guerra de bastidores sobre quem herdaria a relatoria da operação Lava Jato. O vencedor, Edson Fachin, era o candidato dos editoriais do poderoso jornal O Globo e também de Rodrigo Janot. A aposta era de um relator que continuasse uma aparência de imparcialidade na condução da operação, nem muito Janot-Moro nem pró-pacto como um Gilmar Mendes.

A nota pública do gabinete de Fachin lança algumas palavras chave que mostram certa continuidade com Zavascki mas que deixam uma pulga atrás da orelha se não atuaria junto a Moro e Janot por uma Lava Jato que avance mais contundentemente, seu gabinete afirma:

“O Ministro Edson Fachin, a quem, na forma regimental, foram redistribuídos nesta data os processos vinculados à denominada operação “Lava Jato”, reconhece a importância dos novos encargos e reitera seu compromisso de cumprir seu dever com prudência, celeridade, responsabilidade e transparência”.

Celeridade e transparência são palavras chave que devem deixar de cabelo em pé aqueles que estão ou presume-se que estejam nas delações da Odebrecht.

Quanto que Fachin atuará de braços dados com Janot e Moro é algo a se ver. Uma atuação assim pode gerar mais e mais fatos políticos que atinjam ministros de Temer e políticos de outros partidos. A Lava Jato finalmente atingirá algum tucano? A depender do vazamento que a Folha publicou hoje, ao menos Aécio. Atingir não significa condenar, é claro, para isso o STF tem que votar, e o voto de alguns ministros como Gilmar Mendes dificilmente atingiria Aécio.

Do uso político ao confisco dos bens de corruptos correm alguns interesses, e como temos visto a Lava Jato tem garantido aos empresários “penas” em suas mansões e deixado todas empresas estrangeiras citadas completa e totalmente impunes, atuando mais como subsituição de um esquema de corrupção por outro do que como os paladinos da moralidade que se auto-intitulam ser.

Temer e as cartas de sobrevivência

Temer, goza de um privilégio constitucional, mesmo que as delações o atinjam diretamente. Segundo interpretação constitucional defendida por Janot, um presidente não pode ser julgado por atos anteriores a seu mandato, então mesmo que, exista denúncia e prova de corrupção em 2014 isso não poderia colocá-lo em julgamento. É claro que esse privilégio constitucional não significa que ele não perderia base de sustentação em um cenário como esse. Por enquanto, Temer é ainda a aposta da elite nacional para que sejamos os trabalhadores a pagar o pato da crise econômica.

Reforma trabalhista, previdenciária, entre outras, para que os lucros aumentem. Se não for mais capaz de conduzir esses ataques ou se por outras combinações de falta de legitimidade (conflitos sociais, escândalos), não for mais uma opção haverá um coringa no baralho. Não há ainda, o que também lhe dá tempo de condutor das maldades.

Hoje Temer obteve uma vitória na Câmara ao conseguir que Rodrigo Maia fosse eleito com relativa facilidade. Maia discursou falando que a prioridade “nossa” (falando do governo Temer) é a reforma da previdência e prometeu celeridade para a mesma. Ele também colocou lenha na fogueira do judiciário ao discursar contra os “abusos de autoridade”, mesmo discurso adotado por Renan Calheiros. Carmen Lucia, por sua vez, rompendo protocolos já não tinha convidado nenhum chefe dos outros poderes (Temer, Maia, Renan) para a abertura da sessão do STF na tarde de ontem. Pequenos sinais de bastidores que a batalha entre o que estivemos chamando de “partido da toga” e o “partido da casta” tendem a aumentar, agora com o rei das empreiteiras já tendo delatado.

O timing da Lava Jato e a morte de Marisa Letícia

Acrescentando ingredientes de difícil mensuração, a morte de Marisa Letícia coloca os procuradores da Lava Jato em maior dificuldade em sua busca pelo “timing” para agir contra Lula, que poderá, mais que nunca, mostrar os abusos que a Lava Jato cometeu todo esse tempo.

Pode a Lava Jato avançar contra Lula, PMDB e ainda mais alguns partidos do regime? As manifestações de Dezembro sem os tucanos e sem a mídia convocar mostraram-se muitíssimo mais fracas que as anteriores. Os editoriais do Globo “em defesa da Lava Jato” seriam um indicio de mudança? Ou o grande pacto em prol dos ajustes, como ocorrido para salvar Renan na presidência do Senado pode favorecer a ala do regime que trabalha por um pacto?

Muita especulação corre nos convescotes e cafezinhos no STF, no Congresso e das redações. O abraço de FHC em Lula nessa noite é sinal de pacto ou mera diplomacia e verdadeira condolência? O tempo responderá melhor o significado dessa nova carta também.

Carta ainda no baralho

Mas para além dos interesses dos “de cima” há também a insatisfação dos “de baixo”. As pesquisas de opinião gritam insatisfação. Gritam em decibéis muito mais alto do que se escuta nas ruas. Poderão os impactos dos ataques prometidos por Temer-Maia, a continuação do desemprego e duríssimos ajustes estaduais mudarem isso? A última manifestação no Rio contra o acordo de Pezão e Temer é um alerta nesse sentido, a greve dos servidores municipais em Florianópolis também. Cabe atuar conscientemente para ajudar que ocorra, pois o que querem Fachin, Carmen Lucia, Temer, FHC, e mesmo Lula sempre um campeão dos pactos até mesmo com Maluf e Cia, é algo que escapa a nossa ação. Lutar para superar os limites que os sindicatos tem colocado na luta contra os ajustes não. Algumas cartas de 2017 já foram dadas. A da luta de classes ainda não.




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