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ANÁLISE | As pesquisas e a crise tucana

quarta-feira 12 de setembro de 2018 | Edição do dia

As eleições estão marcadas por alguns fatos políticos fundamentais: a manipulação e intervenção do judiciário que tem resultado no seu contrário, no fortalecimento do PT e dos críticos ao golpismo; a fraqueza dos tucanos e o fortalecimento da extrema-direita expressa em Bolsonaro.

Listamos aqui algumas das dificuldades do PSDB e o que elas podem estar apontando como tendências no país.

Primeira e principal dificuldade: Alckmin

A principal dificuldade do tucanato em todo o país tem um nome: Alckmin. Sua batalha para impedir desafiadores lhe garantiu a maioria na convenção de seu partido e isto foi suficiente para conseguir o tempo de televisão de todo Centrão. Alckmin tem um latifúndio de tempo na TV e de recursos financeiros do fundo partidário, mas isso não resultou até agora, passados 12 dias de campanha na TV em nenhum fortalecimento expressivo.

Segue em quarto lugar na última Datafolha (com 10% das intenções de voto), e exibindo uma tendência a ser ultrapassado por Haddad e até mesmo corre o risco de ser desafiado por um desconhecido Amoedo que já alcança 5% dos votos em SP e Minas Gerais, dois maiores colégios eleitorais do país e as duas principais apostas tucanas.

Produto desta dificuldade, uma parte do mercado financeiro e parte expressiva do agronegócio já migraram ou estão migrando para Bolsonaro, como Marcello Pablito mostra nesta pesquisa.

Em São Paulo, governada há 24 anos pelo PSDB, Alckmin alcança magros 18%, 5% atrás de Bolsonaro. A força televisiva de Alckmin não tem se revertido sequer em campanha. Campanha que não é feita nem por parte do seu partido, nem muito menos pelo Centrão.

Nos estados do Nordeste onde a força de Lula é predominante não há nenhum sinal de engajamento na campanha dos aliados, com o presidente do PP Ciro Nogueira fazendo campanha por Lula, e nem por parte dos tucanos do Ceará (Jereissati) ou de Pernambuco e Paraíba (como Bruno Araújo e Cunha Lima). Em São Paulo, Doria não se força para converter seus votos em voto em Alckmin. Márcio França (PSB), seu vice-governador, desgostoso com o PSDB ter lançado Doria também não se esforça.

Para completar o quadro dramático, o atentado a Bolsonaro dificulta a Alckmin ataca-lo, bem como o noticiário não lhe cansa de trazer notícias ruins. Antes do atentado, Temer já lhe havia desgastado com dois vídeos vinculando Alckmin a seu odioso governo e hoje o maior expoente do tucanato paranaense (outro bastião) foi preso.

O bastião paulista em risco

As divergências entre os caciques do PSDB já haviam levado apoiadores de Serra para o Podemos (Covas Neto) e para o PSD (Matarazzo), a luta intestina entre Doria e Alckmin inaugurou uma nova e tripla dificuldade para o tucanato em seu principal bastião: São Paulo.

1- O voto “BolsoDoria”. Pesquisa Ibope divulgada hoje mostra uma tendência maior dos votantes de Doria a votarem em Bolsonaro do que em Alckmin. 32% dos votantes de Doria migrariam, segundo esta pesquisa, para o ex-capitão e só 25% para Alckmin.

2- A perda do interior paulista. Bolsonaro lidera o interior paulista com uma margem de 6% de vantagem sobre Alckmin. No interior além do voto “BolsoDoria”, possivelmente Márcio França que controla uma boa parte dos prefeitos também não está se esforçando e pode assim estar indiretamente ajudando Bolsonaro.

3- Doria implica num perfil mais agressivamente elitista e privatista, mais antipetista, e mais afim ao MBL e Bolsonaro do que era o discurso e perfil do PSDB paulista, seu triunfo não seria um triunfo “tucano”, mas de Doria. Mas o caminho até a vitória não é dos mais fáceis, Skaf está empatado nas pesquisas e França vem subindo. A rejeição de Doria é a maior entre todos candidatos. Pela primeira vez há algum risco do PSDB não ganhar o governo estadual do maior colégio eleitoral.

Esperanças e dificuldades mineiras

Anastasia e Aécio. Foto: Pedro Ladeira

Na corrida ao governo de Minas Gerais o ex-governador Anastasia lidera as pesquisas (32% das intenções segundo a Datafolha). No entanto, sua força é contestada pelo petista Pimentel (22%) que busca a reeleição. A força dos votos de Lula em Minas apontam para um espaço para crescimento de Pimentel. Por enquanto, o PSDB segue como favorito, mesmo com o desgaste de Aécio, mas a eleição mineira está longe de estar “fechada”, e no marco das dificuldades paulistas não é um “porto seguro” para o PSDB. Para completar as dificuldades na terra de Aécio, nenhuma pesquisa presidencial neste que é o segundo maior colégio eleitoral do país deu mais que 8% para Alckmin. Ou seja, tal como faz Doria, Anastasia também está dando corda ou permitindo que seus votos migrem para Bolsonaro.

A implosão do PSDB no Paraná e as debilidades no centro-oeste

Beto Richa e Alckmin

Outro estado que é um tradicional bastião do PSDB é o Paraná, estado que os tucanos costumam ganhar as eleições presidenciais com folga e é o 6o maior colégio eleitoral. Lá os tucanos enfrentam dois problemas. Sua maior figura migrou de partido, Álvaro Dias foi para o Podemos e impõe dificuldades ao crescimento de Alckmin, e para completar o problema, o candidato ao senado e ex-governador, Beto Richa foi preso pela Lava Jato.

Em Santa Catarina o PSDB tem pouca expressão. No Rio Grande do Sul, sua principal figura, Yeda Crusius esteve envolvida em escândalos de corrupção, sua caras mais novas, Marchezan e Eduardo Leite aparecem com um perfil que aproxima o partido da extrema-direita ou do MBL.

No centro-oeste, a longeva dinastia de Perillo em Goiás está ameaçada por Caiado (DEM). O candidato de Perillo, José Elton (tem 10%) contra 41% do reacionário líder da bancada ruralista.

As dificuldades do PSDB mostram a decadência do centro e algumas tendências para o país

Este breve resumo do cenário eleitoral mostra as dificuldades para o PSDB que pode pela primeira vez ficar de fora do segundo turno desde 1989, pode eleger menos governadores do que nos últimos 16 anos, e para piorar, seus pólos mais dinâmicos parecem se confundir com Bolsonaro.

Dentro do partido de FHC se expressa a erosão do “extremo centro”. Frente à continuidade da crise orgânica, esta combinação de crise social, política e econômica, as pessoas estão buscando ideias “radicais”.

Marcello Pablito, candidato a deputado estadual do MRT em filiação democrática pelo PSOL comentou ao Esquerda Diário sobre estas tendências: “a maior parte da população pode se dar conta como suas condições de vida só tem piorado com o golpe. Muitos também puderam ver como a justiça é arbitrária e tenta manipular estas eleições para dar maiores chances a alguém que defenda a continuidade do golpe. Defendemos o direito da população poder votar em quem quiser, inclusive no PT, mas não apoiamos o voto em Lula e seu partido que abriu caminho ao golpe se aliando com a direita, aplicando ajustes e incorporando métodos de corrupção típicos do capitalismo. A decadência do PSDB expressa o desgaste de todos que apoiaram Temer e seus ajustes, mas ao mesmo tempo mostra o fortalecimento da extrema direita que abocanhou dos tucanos o espaço antipetista.”

Pablito continuou seu raciocínio sobre a que temos que nos preparar: “precisamos nos preparar para combater o golpismo, a extrema direita e os capitalistas. Esta tendência a polarização que se expressa nas debilidades do PSDB apontam a como no futuro tendemos a ter processos mais fortes da luta de classes, um pare dos capitalistas aposta na extrema direita e em ataques ainda maiores do que os de Temer. Precisamos nos preparar para eles. Com Bolsonaro um setor da burguesia aposta em mais repressão, machismo e racismo para aumentar seus lucros, por outro lado Ciro e Lula e Haddad prometem crescimento econômico e emprego mas que continuarão pagando a dívida pública e que fariam uma nova reforma da Previdência. Precisamos dedicar energia para fortalecer uma esquerda que aposte na luta de classes dos trabalhadores, das mulheres e da juventude, com um programa de independência de classe dos trabalhadores que supere a conciliação petista só assim nos prepararemos ao que o futuro nos reserva”.




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