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ORIENTE MÉDIO | As negociações nucleares com o Irã

Matías MaielloBuenos Aires

sexta-feira 3 de abril de 2015 | 00:14

As negociações entre o Irã e os EUA, encabeçando o grupo que inclui China, Rússia, França, Reino Unido e Alemanha , voltaram a prorrogar-se nesta quarta-feira (1) em Lausane.

O que está sendo adiada é a concretização de um acordo preliminar que será a base com a qual se seguirá negociando até 30 de junho, data na qual vence o acordo interino de novembro de 2013 que deixava em suspenso novas sanções e paralisava o programa nuclear iraniano.

As sucessivas prorrogações respondem a diferenças sobre a extensão do acordo. O imperialismo norte-americano quer um acordo detalhado, onde se explicite a quantidade de centrífugas que seria permitido ao Irã ter, a quantidade de urânio que pode acumular, e a quantidade de plutônio que pode sair do reator de Arak, entre outras restrições e controles, enquanto os negociadores do Irã aspiram a uma declaração mais geral que não especifique estas imposições para poder seguir negociando nos próximos meses.

Os termos que finalmente tenha o acordo preliminar dirão bastante sobre o estado em que se encontram as negociações. Obama aspira a que um acordo com o Irã e a abertura de novos negócios para as empresas norte-americanas, deixe mais difícil para a oposição interna dos republicanos revertê-lo.

O avanço para um acordo definitivo nos próximos meses implicaria uma mudança fundamental na tradicional política exterior norte-americana para o Irã, vigente desde a revolução iraniana de 1979.

O complexo marco regional

Se bem os efeitos para a região de conjunto de um acordo entre o Irã e os EUA se verão plenamente no futuro, já se podem sentir nos recentes acontecimentos as primeiras consequências.

As negociações com o Irã vêm tensionando as relações dos EUA com a Arábia Saudita, que vê afetado seu papel como potência regional. Nestes marcos é que desde a semana passada a coalizão de países árabes sunitas, encabeçada pela Arábia Saudita, vem bombardeando as posições dos rebeldes houthis – xiitas e ligados ao Irã – para tentar frear seu avanço em direção à cidade meridional de Aden, antigo refúgio do presidente Abdo Rabu Mansur Hadi.

Também nos marcos das negociações parece começar a definir-se abatalha de Tikrit no Iraque, na qual se enfrentam com o Estado Islâmico (EI) 30 mil tropas das quais 20 mil são milícias xiitas ligadas ao Irã. Segundo o governo iraquiano a cidade já foi conquistada; no entanto, os combates continuam. A importância estratégica da cidade, apesar do pequeno tamanho, consiste em ser a porta para atacar a suposta capital do EI em Mosul, cidade que conta com um milhão e meio de habitantes. Aquela aliança para conquistar Tikrit foi duramente questionada, tanto pela Arábia Saudita como por Israel que veem nela o fortalecimento do papel do Irã como potência regional.

A tudo isto se soma um novo revés para Netanyahu logo após assumir seu novo mandato, a entrada da Autoridade Palestina nesta quarta-feira para a Corte Penal Internacional. Desta forma os palestinos tornam-se o 123º membro do tribunal, o que abre a porta para a investigação sobre os crimes de guerra de Israel em sua última ofensiva do ano passado em Gaza, a operação "Margem Protetora".

Um cenário pendente de definições importantes

Esta quinta-feira será chave para ver a evolução das negociações sobre o programa nuclear iraniano e as sanções norte-americanas, e com elas a evolução das relações entre Irã e EUA.

Enquanto isso, uma vitória em Tikrit, se se concretiza, significaria um duro golpe para o Estado Islâmico. Ainda que está longe de ser a batalha decisiva, cumprirá um papel fundamental em definir a relação de forças em muitos sentidos. Para Obama seria a primeira grande vitória sobre o EI no Iraque desde que iniciou sua ofensiva no ano passado. Para o Irã seria um importante avanço em seu papel como potência regional por seu peso na ofensiva; portanto um revés tanto para a Arábia Saudita como para Netanyahu, ao que se soma neste último caso a entrada da Autoridade Palestina à Corte Penal Internacional. Enquanto para o primeiro-ministro iraquiano Haidar al-Abadi significará um fortalecimento de seu governo, sendo que esta batalha era interpretada por muitos como sua última oportunidade de mostrar-se como um governo viável frente ao EI.

Outro tanto se disputa no Iêmen, onde a Arábia Saudita com sua intervenção militar à cabeça de uma coalizão composta por todos os países do Conselho de Cooperação do Golfo exceto Omã, e pela Jordânia, Egito, Sudão e Marrocos, tenta manter – e aumentar – sua ascensão como potência regional. É a primeira vez que a Arábia Saudita se enfrenta diretamente a forças apoiadas pelo Irã sem intermediários. Nestes marcos, não está dito que os bombardeios serão suficientes para derrotar os houthis, enquanto que a alternativa de uma intervenção por terra poderia ter amplas consequências desestabilizadoras para a região.

Apesar das tensões que provoca este cenário entre os EUA, a Arábia Saudita e Israel, ambas são alianças estratégicas para o imperialismo norte-americano que não estão em questão como tais. No entanto, as negociações com o Irã e um possível acordo com os EUA fortalecem a posição iraniana no tabuleiro regional. Se se concretiza a vitória em Tikrit será outro fator no mesmo sentido, enquanto fica aberto o cenário no Iêmen onde o enfrentamento entre a Arábia Saudita e o Irã se desenvolve abertamente.




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