×

DA SENZALA AOS TEMPOS MODERNOS | As mulheres negras seguem sendo a carne mais barata

Jenifer TristanEstudante da UFABC

sexta-feira 24 de abril de 2015 | 00:01

Em Goiás no município de Cavalcante o povo Kalunga, uma comunidade Quilombola ao norte da chapada dos Veadeiros, que, sob condições precárias, mantém suas tradições e resistência na luta pela demarcação de terras quilombolas. Eles vivem no Sitio e Patrimônio cultural Kalunga, como o povoado fica longe dos centros urbanos e sem muitos recursos, as famílias permitem que as crianças, meninas negras e pobres, trabalhem como domésticas da classe média de Cavalcante, acreditando ser uma ótima oportunidade para que suas filhas possam cursar a escola e ajudar em casa.

O que acontece é que ao ir para a casa desses senhores fazer trabalhos domésticos, essas meninas que tem entre 11 e 17 anos são estupradas e mantidas como escravas sexuais. O caso não é novo, os estupros às mulheres calungas sempre existiram diz uma vitima de 31 anos que sofreu abuso aos 9 anos de idade.

Essas meninas têm a infância perdida, já sofrem com todo o histórico de racismo vindo da escravização de seus antepassados, pois o povoado Kalunga é de descendentes de escravizados fugitivos e libertos das minas de ouro, meninas que assim como acontecia no período da escravidão são tiradas do seio de suas famílias e tem que cumprir as tarefas da casa e ser estupradas por homens que segundo a lei, seus algozes.

A maioria dessas meninas sofrem caladas, pois sem ao menos o amparo da família, são obrigadas a sofrer abuso sexual e não denunciar por medo de serem mortas ou muitas vezes decidem que vão aturar até acabar os estudos como uma perspectiva de mudar de vida.

O estado é omisso e culpado

O Ministério Publico sempre teve conhecimento dos casos, muitas das denúncias são arquivadas porque os acusadores são poderosos da cidade e ameaçam as famílias das meninas que sem recursos seguem caladas e acuadas se submetendo aos abusos, o caso mais recente e escandaloso é o do vice-presidente da Câmara Municipal, Jorge Elias Ferreira Cheim (PSD) de 62 anos que mantinha como escrava sexual uma jovem kalunga de 12 anos. Cheim é marido da atual vice-prefeita da cidade Maria Celeste Cavalcante Alves (PSD). Ao levar a frente a denuncia a juíza da cidade Úrsula Catarina Fernandes Siqueira Pinto, esposa do primo de Cheim, recebeu a denúncia no dia 30 de outubro de 2014, e até o momento em que escrevo essa matéria Cheim se mantem livre e sem nenhum julgamento mesmo depois de já ter sido provado por laudo que Jorge Cheim mantinha relações de abuso sexual com a jovem. Porém, como a justiça só existe para garantir o direito dos ricos, o político se mantem em liberdade e o povo kalunga que até hoje não tem a titularidade de suas terras encontra-se em total desamparo da lei.

Sobre os direitos das mulheres negras nenhum passo atrás

No processo de escravização dos negros no Brasil as mulheres sempre ficaram com as tarefas domésticas e os estupros perpetuados ao longo da história, milhares de caso onde os senhores tinham filhos com as escravas da casa, essa era a realidade do Brasil em meados do Sec. XIX. Mas Cavalcante nos mostra que mesmo com o fim da escravização institucional as mulheres negras sofrem até hoje com a mercantilização de seus corpos. E a impunidade da escravização dos povos africanos se mantem até hoje, onde seguem impunes milhares de casos como esse se repetem pelo pais sem qualquer punição.




Comentários

Deixar Comentário


Destacados del día

Últimas noticias