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Diferentes denúncias de mulheres trabalhadoras se tornam visíveis à medida em que a pandemia avança. Precarização no trabalho, demissões e falta de pagamento é o que o que acontece às enfermeiras, auxiliares de limpeza e cozinheiras que trabalham em escolas e centros de saúde.

sexta-feira 3 de abril de 2020 | Edição do dia

Antes do surgimento do coronavírus, o movimento de mulheres em diferentes partes do mundo tornava visível não apenas a violência machista, cujo extremo mais brutal é o feminicídio, mas também a impossibilidade de acessar direitos básicos, como o aborto legal. A precariedade dos trabalhos, a dupla jornada de trabalho que pesa nos ombros das as mulheres devido ao trabalho não remunerado realizado nas famílias, a diferença salarial, a dificuldade de acessar empréstimos bancários, também são denunciados pelo movimento de mulheres.

A falta de resposta em algumas dessas demandas, diante da pandemia causada pelo vírus, levou a diferentes situações que colocam milhares de mulheres em risco.

Assim, o isolamento social obrigatório aumentou os casos de violência e feminicídio, sem que o governo possa dar uma resposta mínima no momento para aliviar esse flagelo.

Outros problemas expostos pela crise da saúde é a situação das mulheres trabalhadoras, aquelas que estão precarizadas, ou que mesmo com empregos registrados, realizam suas tarefas sem proteções mínimas para evitar o contágio.

A transformação que fazem as mídias de chamarem de heroínas as enfermeiras, em uma espécie de "romantização" de suas condições precárias de trabalho, não impediu que elas mesmas denunciem as más condições em que trabalham.

O Hospital Italiano da cidade de Buenos Aires, de grande prestígio, foi identificado como um dos locais onde as enfermeiras e funcionárias de laboratório contam com pouquíssimas máscaras e luvas.

É neste mesmo centro de saúde onde trabalhadores do delivery de farmácias, de call de emergência e o pessoal da limpeza e gastronomia não querem assumir suas tarefas até que sejam garantidas condições adequadas de segurança à saúde.

Mas as mulheres trabalhadoras não apenas têm de fazer frente aos possíveis riscos de contágio. Mas também para as patronais que, usando a quarentena como desculpa, não pagam seus salários, concedem-lhes licença sem remuneração e, em muitos casos, as demitem diretamente.

Isso está acontecendo na província de Córdoba, onde as trabalhadoras assistentes das escolas, encarregadas da limpeza e da alimentação P.A.I.Cor (Programa Abrangente de Alimentos de Córdoba) estão denunciando que muitas não puderam cobrar o mês de março e a outras dão licença, mas sem pagar as atividades correspondentes.

É o governo daquela província que contrata empresas para terceirizar serviços, empresas cujo pessoal, formado majoritariamente por mulheres, trabalha precariamente, recebendo salários abaixo da cesta básica. É o caso do Ministério da Educação que contratou os serviços da Drill and Esver, cujas assistentes de limpeza recebem 18.500 pesos por trabalhar 8 horas todos os dias, sem sequer ter um TARV que as cubra com seguro no caso de contrair o coronavírus.

Um exemplo contundente do abuso sofrido por muitas trabalhadoras é o que acontece no Sanatório de Las Lomas, em uma das áreas com maior poder de compra de Buenos Aires.

Esta clínica privada está repleta de irregularidades no trabalho, sem testar sua equipe, sem máscaras, sem luvas e sem limpeza em consultórios onde se podem propagar focos de infecção.

Mas como se isso não bastasse, eles enviam e-mails ameaçando toda a equipe para que se apresentem ao trabalho durante a quarentena, pois caso não forem, penalidades graves serão aplicadas.

Sem embargo, o desprezo demonstrado por estes empresários e donos de clínicas privadas pode ser visto em um centro de saúde em Barcelona, quando médicas e médicos aplaudiram as auxiliares de limpeza.

Um reconhecimento a essas trabalhadoras cujas tarefas são essenciais para o funcionamento de clínicas e hospitais.




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