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DEBATE SOBRE DITADURA EM MG | As heranças da ditadura pelas vozes de ex-presos, jovens e trabalhadores

Cerca de 100 pessoas compareceram no dia 25/04, na atividade da Frente Independente pela Memória, Verdade e Justiça de Minas Gerais (FIMVJ/MG), em repúdio aos 51 anos da ditadura militar no Brasil. Entre os presentes estavam jovens, ex-presos políticos, trabalhadores e estudantes de Belo Horizonte e Contagem que deram seus depoimentos sobre as heranças da ditadura e a necessidade de acabar com esse triste legado.

Flavia ValleProfessora, Minas Gerais

terça-feira 28 de abril de 2015 | 00:00

A atividade foi mais uma das iniciativas da FIMVJ/MG, que se conformou de maneira independente da Comissão Nacional da Verdade, assim como se do Estado e do governo. A partir de uma política militante, essa Frente também luta pela punição dos civis e militares envolvidos com a ditadura militar no Brasil. Sendo uma das únicas comissões independentes do país, recebeu uma saudação do médico Gilson Dantas, ex-preso político e torturado, quando estudante do curso de medicina da UnB em 1968.

A permanência da Lei da Anistia de 1979 mantêm na impunidade todos aqueles que cometeram crimes de lesa humanidade como mortes e tortura a manda do estado ditatorial no Brasil. Ela é também parte da transição da ditadura para uma democracia dos ricos na qual seguem as heranças da ditadura militar.

Essa mesma democracia em que jovens e trabalhadores e negros são vítimas constantes da polícia racista. Como mais um exemplo, Pedro Afonso, estudante negro da UEMG e trabalhador, deu seu depoimento de quando foi preso e humilhado pela polícia racista de Minas Gerais, acusado de roubar o próprio carro, quando chegava para suas aulas na Faculdade de Políticas Públicas, na região centro sul de Belo Horizonte, no dia 30/03.

É a mesma democracia degradada em que os direitos democráticos das mulheres e LGBT são cada vez mais questionados pelo governo Dilma e pelo Congresso. A estudante de filosofia da UFMG, Julia, denunciou a agressão lesbofóbica que sofreu de um funcionário de uma igreja evangélica no centro de Belo Horizonte.

Flavia Vale, impulsionadora da Frente e militante do MRT, colocou a necessidade dos trabalhadores voltarem à cena como sujeitos políticos, e que era com esse objetivo que o MRT (ex-LERQI) buscava superar os limites sindicalistas e eleitoralistas da esquerda antigovernista. “A mudança nome da LERQI para MRT e o lançamento de um novo diário digital, o Esquerda Diário, são pequenos passos para contribuir nesse grande desafio também no que tange à classe trabalhadora ser sujeito da luta contra as heranças da ditadura, independente do PT de Dilma que avaliza a Lei da Anistia, e da direita apoiada pelas empresas que foram responsáveis civis pela regime de exceção”, disse.

Foi lançado e distribuído ‘Material de apresentação e divulgação da FIMVJ/MG (Repúdio ao golpe de 64! 51 anos! Abaixo a ditadura!)’. A atividade terminou ao som de músicas de protesto e MPB numa bela apresentação de violão e voz com Rosa helena e Glaysson Astoni.

"É preciso uma resposta política dos trabalhadores"

Heloísa Greco, do Instituto Helena Greco de Direitos Humanos e Cidadania, na abertura e coordenação da atividade da Frente Independente pela Memória, Verdade e Justiça, em Minas Gerais. Reafirmou o caráter independente da Frente, como a Comissão Nacional da Verdade atua no sentido de uma normalização conservadora e que diferente disso é preciso uma alternativa independente do Estado e dos governos e a punição dos civis e militares envolvidos com a ditadura.

Thainã de Medeiros, morador do Complexo do Alemão no Rio de Janeiro e do Coletivo Papo Reto. Começou dizendo que a Maré ocupada pelo exército apenas intensifica a violência nos morros e favelas. "Soldado só tem dois repertórios: ou atira ou não atira. A ocupação do Complexo do Alemão e da Maré pela polícia rende frutos para alguém, nunca para os moradores".

João Martinho, professor e pai de jovem preso em manifestações em 2013, na atividade em repúdio aos 51 anos do golpe militar: "Nós que somos negros estamos acostumados a ver a polícia torturar outros negros. Meu filho foi preso, torturado e o cabelo cortado com faca. O que é isso que não tortura e racismo?"

Nilcea Moraleida, presa política durante a ditadura: "Não houve e ainda não há horizonte para punição da tortura. Nossa sociedade não pede justiça. Como é uma sociedade advinda do escravismo, é uma sociedade que pede a vingança e retaliação. Temos que pedir justiça".

Francisco Neres, tecelão, preso político do PCB durante e ditadura: "na ditadura era preciso uma resposta política dos trabalhadores, baseado na necessidade de um trabalho de base, de formação marxista. Esse é um desafio que ainda não sabemos lidar".

Francisco Marques, militante da Juventude às Ruas e diretor do CAFCA (C.A. de Filosofia da UFMG): "Desde começo do governo Lula a população carcerária quadruplicou e atinge em especial a população negra. Aumentou também nos governos do PT a precarização do trabalho e da vida. É possível a juventude voltar a se colocar em cena como em junho de 2013, porém agora podendo se apoiar nas greves de trabalhadores que explodem desde ano passado. E é uma tarefa da juventude lutar de maneira independente para punir os civis e militares envolvidos com a ditadura".

Atualizado, 02/05/2015, às 13:05




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