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ELEIÇÕES 2020 | As enchentes e a urgente reforma urbana radical em São Paulo

Novamente a maior cidade do país enfrenta uma grave situação de enchentes. Árvores tombadas, carros boiando, desabamento, danos na rede elétrica dos trens da CTPM. As chuvas que atingiram sobretudo a Zona Norte, Oeste e Sul da cidade, provocaram um enorme trânsito dificultando a volta do trabalho. São os sem teto e os moradores de bairros em regiões de enchente, com concentração de imóveis, péssimas redes de esgoto, ou seja, a população trabalhadora, pobre e periférica a mais afetada por essa situação. A grande mídia, protegendo a responsabilidade de Covas, Doria, tenta nos convencer de que se trata de um desastre “natural”, mas não. É fruto de uma urbanização voltada à especulação imobiliária, à marginalização dos trabalhadores mais precários, que os políticos nunca se propuseram a responder.

Diana AssunçãoSão Paulo | @dianaassuncaoED

sexta-feira 23 de outubro de 2020 | Edição do dia

As enchentes são um problema crônico na cidade de São Paulo, cujas tragédias e perdas acontecem ano após ano. São tragédias anunciadas, fruto de uma urbanização caótica a serviço dos interesses de um punhado de parasitas, resguardados por políticos como Doria e Covas, que jogam a culpa na natureza. Prova da decadência de um sistema econômico que é incapaz de usar do avanço tecnológico e da modernização para lidar com algo tão banal quanto às chuvas.

É produto do descaso das prefeituras que, enquanto gastam R$ 8,9 bilhões para pagar a dívida pública anualmente, cerca de 13% do orçamento municipal, investem R$ 314 mil em obras de urbanização das favelas. Dos 979 milhões destinados a obras contra as enchentes, a prefeitura de Covas não gastou metade, cerca de R$ 474 milhões. Agora promete que se reeleito, irá entregar 13 piscinões, sendo que 29 dessas obras em andamento ficaram paradas em todo o seu governo.

Quem paga esse descaso são os setores mais precários de trabalhadores, em especial aqueles que moram nos bairros periféricos, e em regiões de alagamento. Enquanto nas periferias há uma hipertrofia de imóveis, redes de esgoto precárias, prejudicando o escoamento de águas e que nas enchentes levam ao adoecimento da população e a perda de móveis, nos bairros ricos há uma série de imóveis desocupados.

São cerca de 2 milhões de pessoas em São Paulo que vivem em favelas, espremidas em mais de 391 mil domicílios, enquanto 1% dos proprietários de imóveis possuem 21% das propriedades (cerca de 600 mil imóveis), 51% da área ocupada e 45% do valor das propriedades. São Paulo possui também cerca de 1800 mansões, que ocupam uma área que poderia abrigar mais de cem mil famílias.

É a realidade cruel para os moradores de rua e das favelas, mantida conscientemente para que os lucros da especulação imobiliária sigam crescentes. Uma realidade herdada de toda a dinâmica de exclusão e segregação dos negros e pobres para as periferias desde o início do processo de urbanização. Produto do processo de concentração de terras no campo pelo latifúndio, cidades como São Paulo foram erguidas com base na exploração do trabalho de negros, delegados aos postos mais precários de serviços. A dinâmica de concentração fundiária nas cidades impedia que os mesmos que ergueram São Paulo pudessem ter direito a morar nas regiões urbanizadas, dinamizando bairros de ocupações, favelas.

Resolver o problema das enchentes está ligada a atacar essa estrutura elitista e racista sob a qual São Paulo foi erguida. Todos esses imóveis ociosos devem ser expropriados e reconvertidos em moradias populares para toda a população sem teto, assim como limitar os imóveis por família, expropriando os imóveis excedentes. Essa é uma medida necessária ligada à batalha pela nacionalização do solo urbano e colocá-lo a serviço de uma reforma urbana radical, que planifique o solo urbano sob interesse da maioria da população, portanto que seja controlada pelos trabalhadores e organizações de bairro.

Uma reforma urbana em que os trabalhadores decidam sobre um plano de obras públicas, que gere emprego e renda e construa moradias populares, desconcentrando os bairros periféricos, assim como escolas, creches, postos de saúde, praças e parques, saneamento e capeamento de vias onde eles não existem. Um plano que seja financiado a partir do das fortunas e lucros dos grandes capitalistas e especuladores, mas também do não pagamento da dívida pública através do Fim da Lei de Responsabilidade Fiscal, que limita o orçamento da cidade para garantir o luxo de banqueiros. Um plano que pense um sistema ecológico de escoamento, desentranhando os rios do asfalto que os sufoca, e acabando com a poluição dos rios Tietê e Pinheiros.

Está claro que nenhum capitalista vai aceitar passivamente essas medidas concretas e necessárias para a maioria da população. E não será o caminho da conciliação com eles que isso será possível. O PT que já governou três vezes a cidade de São Paulo passou longe de responder esses problemas. Mas não podemos exigir menos que isso, colocando de pé um grande processo de mobilizações, de ocupações urbanas, de lutas unificadas entre os trabalhadores dos transportes, os servidores públicos e os moradores das periferias e favelas da cidade, se enfrentando contra os donos da cidade que veriam seus lucros e seu poder ameaçados.

As candidaturas de esquerda em São Paulo deveriam defender essa perspectiva, que faz parte da luta contra Bolsonaro e os militares que governam para os ricos, piorando as condições de vida da população das periferias das grandes cidades. É nesse sentido que eu e todos os meus companheiros de luta da Bancada Revolucionária disputamos o cargo de vereador da cidade, pois queremos que esteja a serviço de fortalecer a auto-organização em cada local de trabalho, estudo e moradia, para travar uma batalha contra a direita de Covas e Doria, dos bolsonaristas como Russomano, e todos os atores desse regime golpista, atacando os interesses capitalistas para que possamos arrancar uma São Paulo dos trabalhadores.




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