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IMPACTOS AMBIENTAIS | Aquecimento global: o planeta em uma encruzilhada

Existem uma enxurrada de dados e pesquisas que correlacionam o aumento da temperatura global com a queima de combustíveis fósseis e a emissão de outros gases. Porém mesmo com inúmeras evidencias existe uma luta ideológica feroz de setores sociais para convencer a população que não existe ligação entre queima de combustível fóssil e aumento da temperatura global. Esses setores, na realidade, são a representação ideológica ou “científica” das grandes indústrias petrolíferas.

quarta-feira 1º de junho de 2016 | Edição do dia

Hoje o expoente com maior visibilidade da extrema direita mundial, Donalt Trump, já deu uma série de declarações afirmando que o aquecimento global é uma farsa, opinião hegemônica entre os Republicanos, que tentam de forma sistemática cortar verbas para estudos relacionados as mudanças climáticas destinadas a NASA e ao NOAA (National Oceanic and Atmospheric Administration). Outro grande defensor de que o aquecimento global é uma fraude é o pitoresco Olavo de Carvalho.

Também uma investigação realizada pelo Greenpeace Inglês apontou que indústrias de extração e refino de combustíveis fósseis financiaram cientistas para elaborar estudos que questionassem as mudanças climáticas. John Sauven, diretor executivo do Greenpeace no Reino Unido, comenta a investigação: “Esse trabalho revela uma rede de especialistas ‘de aluguel’ e um canal de bastidores que permite às empresas do setor de combustíveis fósseis influenciar o debate sobre as mudanças climáticas – de forma oculta e sem deixar impressões digitais.”. O que está em curso não é um debate acadêmico sobre as mudanças ambientais, mas sim, uma luta econômica de grandes indústrias para avançar em seus lucros onde a sua vitória significará a destruição do planeta.

Intensificação do efeito estufa

O efeito estufa é um fenômeno importante para a vida na terra. Graça a composição de nossa atmosfera é possível que exista um equilíbrio térmico em nosso planeta, o que possibilita a existência de vida, na forma que conhecemos. De forma bastante simplificada, o efeito estufa impede que todo calor que a terra recebe do sol volte para o espaço novamente, como se fosse uma tipo de “cobertor”. O equilíbrio do efeito estufa é um aspecto muito específico de nosso planeta que possibilita ele apresentar a diversidade de vida que tem.

Se observarmos dois planetas próximos temos dois extremos que apontam a correlação do efeito estufa e sua temperatura. Mercúrio é o planeta mais próximo do sol, mas por quase não apresentar atmosfera, o calor que recebe do sol não fica retido no planeta, resultando grande oscilação térmica −173 °C a 427 °C. Já Vênus, o segundo planeta do sistema solar, tem uma atmosfera densa, formada principalmente por dióxido de CO2 (96,5%) que é o elemento predominante na formação do efeito estufa, o resultado faz com que sua temperatura média seja em torno 461 °C, sendo o planeta mais quente do sistema solar, graças a um “super efeito estufa”.

Já a atmosfera da Terra tem uma composição química responsável pelo equilíbrio térmico que temos. Ela apresenta uma composição de 78% nitrogênio, 21% oxigênio e aproximadamente 0,035% de dióxido de carbônico. O gás carbônico é dos gases responsáveis pela retenção do calor na Terra impedindo que ele retorne para o espaço. Na prática, existe uma correlação entre a concentração de CO2 atmosférico e o efeito estufa. O planeta vênus é uma expressão categórica disso.

Mas o gás carbônico não é o único gás capaz de impedir que a radiação infravermelha emitida da Terra retorne ao espaço. Na verdade, este contribui com cerca de 53 % do total dos gases estufa, sendo que outros gases produzidos pelas atividades humanas também contribuem para o efeito estufa: metano (17%); CFCs (12%), e óxido nitroso (6%), entre outros. Além de estar em maior porcentagem, a concentração do gás carbônico vem aumentando rapidamente nas últimas décadas.

O aumento da concentração CO2 na atmosfera da Terra vem progredindo constantemente no último século. Essencialmente pelo processo da queima de combustíveis fosseis e desmatamento. Pois esse processo acaba liberando para a atmosfera uma quantidade significativa de carbono que até então estava fixada nas florestas ou nos combustíveis fosseis (petróleo, gás natural, carvão mineral).

Os combustíveis fosseis são formados (de forma bastante simplificada) pelo seguinte mecanismo: Os organismos vivos concentram uma quantidade significativa de carbono. A medida em que morrem, organismos decompositores degradam as moléculas dos seres vivos e liberam o carbono novamente para o ambiente. Porém uma parcela significativa de organismos vivos (plantas, animais, entre outros) não foram decompostos por microrganismos, e com o tempo esses organismos sofreram inúmeras transformações químicas transformando-se em combustíveis fósseis.

O grande salto na emissão de CO2 se deu após a revolução industrial e segue em curso em um ritmo assustador graças a queima constante de derivados de petróleo, gás natural e carvão. Esse processo é explícito e está representado no gráfico elaborado pelo NOAA. Em fevereiro de 2016, o nível de CO2 atmosférico atingiu média global foi de 402,59 ppm (partes por milhão). Antes de 1800, o CO2 atmosférico em média cerca de 280 ppm.
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O aumento massivo da concentração de CO2 atmosférico leva inevitavelmente a intensificação do efeito estufa e consequentemente o aumento da temperatura terrestre. Em 2015, a temperatura média da superfície da Terra atingiu níveis recordes: 0,68 °C acima da média registrada entre 1961-1990. Já a previsão divulgada pelo Met Office, instituto de meteorologia do Reino Unido, aponta que 2016 desbancará 2015 como o ano mais quente desde o início dos registros, em 1880. A previsão é que a temperatura média global será 1,14 grau Celsius acima da observada antes da Revolução Industrial. 
Janeiro e fevereiro de 2016 registraram novos recordes mensais de temperatura, desde quando os dados começaram a ser coletados. Os dados foram divulgados pela NASA, revelando que a temperatura média em toda a superfície terrestre ficou 1,28 grau Celsius acima da média para os meses de fevereiro no período entre 1951-1980, usado como referência pela agência espacial.

Consequências

O aumento progressivo da temperatura causa uma série de danos no nosso planeta: A começar com o derretimento progressivo das geleiras, causando aumento do nível do mar. Segundo a NASA, o nível dos oceanos subiu cerca de 8 centímetro desde 1992, resultando na destruição de inúmeros ecossistemas e causando uma realimentação positiva do clima, pois a superfície branca do gelo faz com que se reflita a luz solar. A medida que o gelo derrete mais calor é absorvido pelo mar que é escuro, contribuindo para o aquecimento global.
Sem contar que inúmeras cidades litorâneas estão ameaçadas com a progressão continua do nível do mar, isso porque a perspectiva de elevação do nível do mar é de 0,8 a 2 metros ainda esse séculos, fazendo com que cidades como Veneza, Roterdã, Bangcoc dentre outras possam ficar submersas.

O aumento da temperatura também tem intensificado a violência das tempestades em todo o mundo. Isso se dá pela mudança da densidade do ar aquecido e o reflexo é uma alteração na circulação do ar em todo mundo. Existe um relativo consenso de que as tempestade estariam se tornando cada vez mais violentas. Uma comparação do número de furacões de categoria 4 e 5 em dois períodos, 1975-1989 e 1990-2004, mostra que no Pacífico Oeste o número aumentou de 85 para 116 (ou de 25% para 41% do total) e no Atlântico Norte, de 16 para 25 (de 20% para 25%). Essa é apenas uma das inúmeras consequências do clima como secas e alagamentos. No Brasil, as pesquisas realizada pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) mostram que houve um aumento de 79% no número de dias de tempestade nos últimos 60 anos em comparação à primeira metade do século 20.

Além disso, o aquecimento global pode intensificar a fome mundial, não só pela destruição da produção agrícola através de secas e tempestades, mas também pela redução da população de polinizadores. O aumento da temperatura resulta na queda drástica da população de polinizadores (abelhas, borboletas e outros insetos).

Estima-se que a população de abelhas tenha caído 40% nos Estados Unidos e 50% na Europa nos últimos 25 anos. Um quarto das espécies está sob ameaça de extinção. A pesquisa publicada na revista “Science” é o primeiro estudo que explica a responsabilidade da mudança climática para o declínio das populações de abelhas e mamangabas a nível mundial. Também existe um processo migratório de borboletas europeias e americanas para o norte na busca de regiões de temperaturas mais amenas.

A Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços dos Ecossistemas (IPBES) analisa que: de 5% a 8% da produção agrícola mundial, ou seja, entre 235 e 577 bilhões de dólares, são diretamente dependentes da ação dos polinizadores nas colheitas (cereais, frutas, etc).

Uma política que reverta o aquecimento global

É preciso reduzir drasticamente a queima de combustíveis fósseis, investindo em energias renováveis. Também se faz necessário estancar o desmatamento e ampliar as medidas de proteção ambiental. Outros elementos que também intensificam o efeito estufa, como metano e CFC`s, devem ser reduzidas, e isso se passa por mudanças de hábitos da população.

A educação ambiental para o conjunto da população e o maior investimento na pesquisa científica para compreender de forma mais aprofundada o clima também se fazem necessárias. É preciso popularizar o conhecimento científico como forma de defesa do planeta, impedindo que charlatões a serviço da grande indústria petrolífera mantenham a população mundial em um ‘transe” que vivemos em um planeta infinito e que a grande fórmula para felicidade é o consumo desenfreado.

Essas medidas são urgentes e para realizá-las é necessário se enfrentar inevitavelmente com o modelo econômico mundial que joga a humanidade e o planeta para destruição. Está nas mãos dessa geração tirar o planeta dessa encruzilhada.




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