Após revelação feita pelo Jornal Nacional de que os assassinos de Marielle Franco estiveram no condomínio residencial de Jair Bolsonaro, poucas horas antes do crime, o presidente gravou vídeo para as redes sociais visivelmente descontrolado e furioso.
quarta-feira 30 de outubro de 2019 | Edição do dia
Na matéria da rede Globo é revelado que um dos assassinos, Élcio, entrou no condomínio com autorização feita pela casa de número 58, a casa de Jair Bolsonaro. Aos berros, com tapas na mesa e jogando seus óculos diversas vezes Bolsonaro tentou rebater a matéria. O sabido e asqueroso desdém de Bolsonaro sobre a morte de Marielle deu lugar ao nervosismo e descontrole.
Já no início de vídeo Bolsonaro demonstra que viu as manifestações e revoltas populares no Chile e Equador com bastante preocupação, para dizer o mínimo. “Qual é a intenção da Globo de fazer isso daí? Nós estamos vendo problemas ocorrer na América do Sul. É no chile, eleição na Argentina, já temos na Venezuela de muito tempo. Bolívia, Equador, Peru. Será que a Globo quer criar um fato, uma narrativa de que eu deveria me afastar ou que o povo deveria ir à rua pra pedir meu afastamento, tendo invista os indícios do caso Marielle agora”.
É o mesmo medo e desespero de seu filho, Eduardo Bolsonaro, que além de expressar preocupação de que as manifestações na América Latina alcancem o Brasil usou sua fala no plenário da Câmara para ameaçar com a volta da ditadura militar. “Não vamos deixar, não vamos deixar isso daí vir pra cá. Se vier pra cá vai ter que se ver com a polícia. E se eles começarem a radicalizar do lado de lá a gente vai ver a história se repetir. Aí é que eu quero ver como é que a banda vai tocar”. Outros ao redor de Bolsonaro também expressam preocupação com a luta de classes nas Américas, como o General Heleno, que em seu Twitter citou medo que no Brasil também ocorram manifestações parecidas com as da América Latina.
Ainda no vídeo de resposta de Bolsonaro é também perceptível a tentativa de proteger seus filhos, já que a matéria do JN não cita nenhum dos três, mas Bolsonaro passa todo o tempo dizendo que a emissora quer atacar e prender um filho seu, que sua família é perseguida pela mídia, principalmente a Globo, listando as reportagens sobre os processos que de fato todos respondem. A reportagem da Globo desta terça-feira não cita Eduardo Bolsonaro ou outro do clã Bolsonaro, assim a defesa alterada de seus filhos ou é ato falho ou uma antecipação de defesa, já que o painel da Câmara mostra que Bolsonaro estava em Brasília no dia do assassinato de Marielle, dando brecha para suspeitas de quem teria atendido o porteiro do condomínio da casa de número 58 e liberado a entrada de um dos executores do crime.
Enfurecido Bolsonaro dá tapas mesa, fala alto, solta xingos e dispara frases contra o PSL e o laranjal, além de abrir a disputa com o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, que segundo Bolsonaro foi quem vazou para a mídia as informações do processo que correm em sigilo de justiça, visando a disputa eleitoral de 2022.
O cinismo de Bolsonaro frente ao brutal assassinato de Marielle Franco é tanto que durante seu vídeo sequer consegue acertar o nome da vereadora do PSOL assassinada a tiros, junto de seu motorista Anderson Pedro.
Ao final do vídeo Bolsonaro aproveita para também levantar suspeita contra o PSOL, retomando o caso da facada que recebeu de Adélio Bispo dizendo “o Adélio foi filiado ao PSOL, foi filiado ao PSOL. Não é muita coincidência?”, numa clara tentativa de desviar o foco e afastar as suspeitas contra o seu clã.
A morte de Marielle Franco é, até hoje, a ferida aberta mais doida do golpe institucional que o país sofreu e que resultou no avanço da extrema-direita no país, liderada por Bolsonaro e seus filhos. Passados mais de um ano de sua morte, ainda vemos casos grotescos de chacotas e ridicularização do crime vindo dos órfãos da ditadura militar, como os Bolsonaros. Na campanha eleitoral de 2018, encorajados por Jair Bolsonaro e sua camarilha reacionária, os candidatos a deputado estadual pelo PSL Rodrigo Amorim e Daniel Silveira, rasgaram uma placa com o nome de Marielle Franco em público, fazendo alusão ao seu assassinato e aos crimes de tortura da ditadura militar. Também o vice-presidente, general Hamilton Mourão, afirmou seu caráter reacionário dizendo que estava “de saco cheio” das cobranças por reposta a barbara execução da vereadora do PSOL. O caso mais recente foi de um assessor de Jair Bolsonaro que em um grupo de WhatsApp postou memes de piada com a morte de Marielle.
Para Bolsonaro, seu clã, os herdeiros e órfãos da ditadura militar a morte de Marielle é motivo de comemoração, como demostra esses acontecimentos, e agora frente as novas descobertas na investigação do caso se torna motivo de histeria, gritos, tapas na mesa e ameaças de volta da ditadura. Sabem que a morte de Marielle Franco e Anderson Pedro seguirão sendo cobradas e a justiça exigida.
O caminho para obrigar que o Estado realmente investigue e puna os culpados é a mobilização. No entanto, ao mesmo tempo que devemos seguir exigindo que o Estado investigue e puna os executores e mandantes do crime, não podemos deixar que somente este Estado, que tem seus vínculos com o assassinato, controle os rumos das investigações.
É urgente uma mobilização para impor que o Estado garanta recursos e todas as condições para a realização de uma investigação independente, disponibilizando materiais, arquivos para organismos de direitos humanos, peritos especialistas comprometidos com a causa, e que parlamentares do PSOL, familiares, representantes de organismos de direitos humanos, de sindicatos, de movimentos de sociais e das favelas, etc., que sejam parte da investigação.
Os berros e ameaças de Bolsonaro não são capazes de nos amedrontar e mais do que nunca é preciso levantar forte a pergunta QUEM MANDOU MATAR MARIELLE FRANCO?