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ELEIÇÕES 2016 RIO | Após apoio de padres e católicos a Freixo, Arcebispo faz nota de apoio indireto a Crivella

Após a divulgação de um manifesto em que padres, freis, freiras e devotos católicos do Rio de Janeiro manifestaram seu apoio à candidatura de Marcelo Freixo (PSOL) à prefeitura da cidade, o arcebispo Dom Orani Tempesta reagiu divulgando uma nota no site oficial da Arquidiocese em que afirma que não se pode compactuar com posições “contrárias aos valores cristãos” tais como o aborto e o casamento entre pessoas do mesmo sexo.

quinta-feira 27 de outubro de 2016 | Edição do dia

Os padres apoiadores de Freixo divulgaram o manifesto “Católicos/as com Freixo” em que, se reivindicando como “padres da Arquidiocese do Rio de Janeiro”, afirmam que “a candidatura de Marcelo Freixo à prefeitura do Rio de Janeiro é a que mais sintoniza com a construção de uma cidade mais justa, fraterna e igualitária.” Eles dizem ainda que a política é, como afirma o Papa Francisco “uma forma sublime de CARIDADE em face da qual não podemos lavar as mãos, como Pilatos o fez.”

O manifesto é assinado por dez padres, um frei e uma freira, além de 919 devotos da Igreja Católica. Veja o texto abaixo:

Nós, padres da Arquidiocese do Rio de Janeiro, no horizonte do Evangelho da Libertação, da efetivação de uma “Igreja em saída” (como compreende o Papa Francisco) e da antecipação do Reino de Justiça e paz inaugurado por Jesus Cristo, entendemos que a candidatura de Marcelo Freixo à prefeitura do Rio de Janeiro é a que mais sintoniza com a construção de uma cidade mais justa, fraterna e igualitária. Desse modo, entendendo como o Papa Francisco que a política é uma forma sublime de CARIDADE em face da qual não podemos "lavar as mãos", como Pilatos o fez.

Na companhia de um grande número de católicos e católicas, leigos e leigas comprometidos com a Democracia, com a Vida e a Dignidade humanas na história concreta de nossa Cidade marcada pela violência, injustiça e exclusão social, nos unimos, à luz da Fé, na luta pela VIDA e pela PROMOÇÃO DA PESSOA HUMANA na força evangélica da “opção preferencial pelos pobres”.

Afirma o Papa Francisco: “Envolver-se na Política é uma obrigação para um cristão. Os cristãos não podem fazer como Pilatos e lavar as mãos”!

Caminhamos por Cristo, com Cristo e em Cristo!

A reação do arcebispo Dom Orani Tempesta foi virulenta. Em nota oficial , ele não apenas diz, em nome da arquidiocese, que: “não autorizou ninguém a falar em seu nome, nem dos padres, tampouco em nome de movimentos, pastorais, associações e paróquias acerca do atual processo político carioca.”, como inclui uma ameaça nem tão velada aos signatários do manifesto, afirmando que “As pessoas podem se manifestar pessoalmente e arcar com as consequências, mas não podem falar por quem não foram autorizadas.”

Ainda que a nota supostamente seja para desautorizar o posicionamento político dos padres em apoio a um dos candidatos da disputa, reafirmando uma posição de “organismo apartidário”, a realidade é que essa fachada “apartidária” é pura hipocrisia no documento assinado pelo mandatário da hierarquia eclesiástica da Igreja no Rio, pois a nota tem um teor essencialmente anti-Freixo e, portanto, de apoio indireto a Crivella.

O teor de apoio ao candidato do PRB se demonstra na destilação de valores reacionários – compartilhados pela cúpula da Igreja Universal e a da Católica – que são defendidos de forma claramente contraposta a pontos defendidos pelo partido de Freixo, ainda que o nome do candidato não seja citado: “Não é possível compactuar com posições que entram em confronto com princípios contrários aos valores cristãos, tais como o respeito à vida e a clara oposição ao aborto e à eutanásia; a tutela e a promoção da família, fundada no matrimônio monogâmico entre pessoas de sexo oposto e protegida em sua unidade e estabilidade, frente às leis sobre o divórcio; o tema da paz, que é obra da justiça e da caridade, e que exige a recusa radical e absoluta da violência, anarquismo e terrorismo. Devem ser reafirmados o acolhimento e a tutela com relação ao ensino religioso nas escolas além dos outros temas explicitados nas orientações referidas.”

E, após esse trecho em que se reafirmam valores homofóbicos, contrários à legalização do aborto, e de uma campanha contra movimentos sociais e de luta e resistência, aqui taxados como “terrorismo”, além da campanha indireta pelo ensino religioso e os pressupostos do projeto Escola Sem Partido, Dom Orani conclui: “o voto do católico só poderá assim ser considerado se os programas dos candidatos merecedores desse voto também estiverem em comunhão com os princípios humano-cristãos.”, classificando ainda a repercussão do manifesto em favor de Freixo como “ocasionando o escândalo da desunião”.

Leia abaixo a nota do arcebispo na íntegra:

A Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, diante da manifestação pública de alguns membros do clero e do laicato, esclarece que não autorizou ninguém a falar em seu nome, nem dos padres, tampouco em nome de movimentos, pastorais, associações e paróquias acerca do atual processo político carioca. As pessoas podem se manifestar pessoalmente e arcar com as consequências, mas não podem falar por quem não foram autorizadas. Tampouco têm autorização da autoridade diocesana para indicar qualquer candidato aos cargos públicos, como aconteceu nessa recente manifestação, na qual indicam um candidato para o segundo turno das eleições municipais da cidade do Rio de Janeiro.

A Arquidiocese reafirma sua posição de organismo apartidário, que defende os princípios da Igreja Católica de acordo com as orientações que assumidas pelo Regional Leste 1 da CNBB e das quais foi dada ampla divulgação. Não é possível compactuar com posições que entram em confronto com princípios contrários aos valores cristãos, tais como o respeito à vida e a clara oposição ao aborto e à eutanásia; a tutela e a promoção da família, fundada no matrimônio monogâmico entre pessoas de sexo oposto e protegida em sua unidade e estabilidade, frente às leis sobre o divórcio; o tema da paz, que é obra da justiça e da caridade, e que exige a recusa radical e absoluta da violência, anarquismo e terrorismo. Devem ser reafirmados o acolhimento e a tutela com relação ao ensino religioso nas escolas além dos outros temas explicitados nas orientações referidas.

Portanto, o voto do católico só poderá assim ser considerado se os programas dos candidatos merecedores desse voto também estiverem em comunhão com os princípios humano-cristãos.

Diante da perplexidade gerada por tal manifestação já divulgada pelas mídias sociais, ocasionando o escândalo da desunião, a Arquidiocese de São Sebastião Rio de Janeiro pede a união de todos no Senhor Jesus e a contínua disponibilidade para a missão evangelizadora numa Igreja em saída, que caminha junto com seus pastores.

Da Cúria Metropolitana de São Sebastião do Rio de Janeiro, aos 25 de outubro de 2016.

Orani João, Cardeal Tempesta, O.Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ




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