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REPRESSÃO | Absolvido, homem relata como foi torturado em quartel do exército na Vila Militar do Rio

A ditadura pode ter acabado em 1988, porém seu imenso aparelho repressivo segue operante nos quartéis, delegacias e penitenciárias do Brasil.

segunda-feira 9 de dezembro de 2019 | Edição do dia

Em relato ao Extra, uma das vítimas revelou as práticas de tortura levadas adiante pela 1ª Divisão de Exército, na Vila Militar. A "sala vermelha" da tortura é o resquício do Doi-Codi e da tortura cometida pelos militares durante a ditadura.

Um jovem mototaxista, que foi absolvido pela justiça, preso sem provas, passou 467 dias preso por um crime que não cometeu. A prisão ocorreu em agosto de 2018 em uma megaoperação realizada no Complexo da Penha. Ele e outros dois presos foram absolvidos no último dia 29.

Fotografias tiradas na audiência de custódia

Mas não bastasse perder mais de um ano de vida no Complexo de Gericinó, ele e outros presos passaram ainda pela experiência da tortura, arma que os militares e os órgãos de repressão se especializaram durante a ditadura. Ao extra, o jovem relatou que foi preso enquanto levava as pessoas em casa durante a operação. Ele afirma que tentou se esconder de um jipe do exército porque estava dirigindo sem capacete.Na entrevista ao Extra, o jovem relata que a tortura começou logo no momento da prisão:

’Logo que me encontraram, colocaram um lacre de plástico nas minhas mãos e passaram a perguntar “cadê a pistola?”. Disse que não tinha pistola. Aí começou a sessão de tortura, com socos e chutes. Não sei quantos eram. Me colocaram deitado com a cara para o chão molhado, perto de uma caixa d’água. Tentei olhar para o alto e deram um tiro com bala de borracha na minha testa.’

O relato do jovem segue, ao ponto em que descreve que sua mochila foi levada e substituída por outra cheia de drogas. Relatou também que passou por um exame médico ao chegar ao quartel, no qual durante todo tempo estava presente um dos militares que participou da primeira sessão de tortura. Em seguida relata a sinistra sessão de tortura em uma sala dentro do quartel, à qual todos presos foram submetidos.

Em uma sala iluminada com a luz vermelha, o jovem era espancado com taco de beisebol, enquanto o interrogavam perguntando aonde ele havia escondido os fuzis:

’Me conduziram para uma sala no alto de uma rampa. Quando entrei, tinha uma luz vermelha ligada. Ali, tinham seis militares à paisana. Todos eram mais velhos, cabelo grisalho, tinha um já careca. Não eram os mesmos que me prenderam.’

’Um ficava no computador, com um mapa da favela aberto. Fui colocado numa cadeira, algemado. Começaram perguntando onde o tráfico esconde os fuzis. Diziam que queriam me ajudar, que se eu apontasse podiam me ajudar. Cada vez que eu dizia que não sabia, me batiam. Na primeira pancada, no peito, já desmaiei e me deram água para acordar. Usavam um taco de beisebol, de madeira lisa, grossa e uma vara, mais fina. Dois me batiam, os outros faziam perguntas, me provocavam, diziam para baterem mais. Fiquei duas horas lá dentro.’

Artigo produzido com informações do Jornal Extra.

Este é mais um dos casos em que o aparato de repressão do estado é utilizado contra os trabalhadores. Com provas plantadas, tendo sido absolvido depois de mais de um ano preso, o mototaxista é mais um retrato das vítimas feitas pelo estado - vítimas que são na maioria das vezes negras, são pobres e parte da classe trabalhadora.

Quando Moro, Bolsonaro e a bancada da bala defendem medidas como o ’pacote anticrime’, é para dar liberdade e aumentar a impunidade destes agentes da repressão, responsáveis pelos assassinatos de inocentes, pelas torturas, por toda a política racista que faz crianças vítimas das balas da polícia no Rio de Janeiro.

E a organização da tortura por parte do próprio estado, seja ela como a ocorrida na Vila Militar, seja a tortura que os presos passam em presídios lotados no Rio de Janeiro, com surtos de tuberculose, condições insalubres, sem ter sequer aonde dormir, é a mostra do resquício da ditadura, que terminou neste país de forma tutelada - pactuada - pelos militares para que nenhum fosse punido e, assim, políticos como Bolsonaro tivessem inclusive a liberdade de dizer que sentem saudade dela. Por isso também, a luta contra o golpe não pode se limitar à re-estabelecer uma ’democracia’ aos moldes e ao sabor da conciliação de classes petista: pois é esta mesma conciliação que mantém este imenso aparato repressivo utilizado para pisotear os mais pobres, aparato que merece ser enterrado no bueiro da história pela luta da classe trabalhadora.

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