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VIOLÊNCIA NA USP | A voz das Mulheres sobre a violência do dia 7 de março na USP: Marina Macambyra, trabalhadora da ECA

Relato de Marina Macambyra, trabalhadora da ECA, sobre a violência policial sofrida em 7/3 durante manifestação pacífica na USP.

quarta-feira 5 de abril de 2017 | Edição do dia

Todos já estamos mais ou menos habituados à violência policial contra manifestantes, sempre desproporcional e desnecessária. Desproporcional porque um manifestante desarmado, ou armado apenas com suas mãos nuas e pedras, não constitui ameaça real para um policial equipado com cassetetes, balas de borracha e equipamentos de proteção. Especialmente se esse manifestante for uma mulher com metade do peso médio desses policiais. E desnecessária precisamente por isso. Para dispersar manifestações como as nossas, de trabalhadores e estudantes da USP, não é preciso espancar ninguém. Ouvi isso de fonte insuspeita, um policial que, há muitos anos, fez para um grupo de funcionárias em greve, uma demonstração das técnicas que aprendem para neutralizar um indivíduo desarmado sem machucá-lo.

A violência desproporcional e desnecessária tem como objetivo apenas aterrorizar quem eles enxergam como inimigo e mostrar para a população que eles podem fazer o que bem entendem. E foi o que fizeram nessa última manifestação na USP, quando pelo menos uma mulher, pelo que eu soube por relatos, foi arrastada para dentro da Reitoria e espancada. Dessa vez a violência à qual jamais deveríamos estar habituados subiu mais um nível: agora eles levam pessoas para dentro de um prédio público com o objetivo de espancá-las. Se a Universidade aceita que isso ocorra dentro de sua Reitoria, qual será o próximo nível de violência a ser galgado? Imagino que todos os que viveram durante nossa última ditadura oficial saibam a resposta.

Eu, que já participei de muitas manifestações “abrilhantadas” pela repressão policial, felizmente nunca cheguei a ser espancada. Mas já corri, em desespero, de um policial que me perseguia a cavalo, com bombas estourando ao meu lado. Quem já passou por isso não esquece do medo de cair e ser pisoteada pelo cavalo ou pela multidão apavorada. Ou de sufocar com o gás. Ou de ser arrastada para um canto qualquer, longe de todos, à mercê de homens descontrolados e cheios de ódio. Foi a primeira vez em minha vida que eu senti medo real de morrer.

Marina Macambyra, trabalhadora da ECA




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