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TRANSFEMINICIDIO | A única forma de vingar Dandara é organizar um movimento LGBT contra os capitalistas

Virgínia GuitzelTravesti, trabalhadora da educação e estudante da UFABC

Marie CastañedaEstudante de Ciências Sociais na UFRN

sábado 25 de março de 2017 | Edição do dia

"Para nós, a luta de classes passa também pelo corpo. O que significa que nossa recusa em suportar a ditadura da burguesia está libertando o corpo dessa prisão, que durante 2 mil anos de repressão sexual, de trabalho alienado e de opressão econômica foi sistematicamente fechado. Então, não existe nenhuma possibilidade de separar nossa luta sexual e nosso combate cotidiano pela realização de nossos desejos, de nossa luta anticapitalista, de nossa luta por uma sociedade sem classes, sem mestre, nem escravo.- Frente Homossexual de Ação Revolucionária 1971

No dia 15 de Fevereiro um assassinato trans chocou o Brasil e o mundo. Dandara dos Santos, de Recife (PE) faleceu após ser espancada até sua morte por 5 pessoas, apenas por ser travesti. Três dias antes, no dia 12 de Fevereiro, a travesti Hérila Izidoro também foi espancada e permanece internada na UTI até hoje. Estes são dois casos emblemáticos, cuja repercussão nas redes sociais fez com que até mesmo o Governador de Pernambuco, Paulo Câmara, do PSB, tivesse que pronunciar em defesa de semi-direitos mínimos das pessoas Trans*, como serem atendidas em algumas das Delegacias de Mulheres no Estado e uso do nome social em alguns espaços governamentais.

A situação de constante ameaça de vida pela expressão da sexualidade ou gênero não normativas é cotidiano para absolutamente cada LGBT não apenas no Brasil, tendo como 35 anos a expectativa de vida das pessoas Trans* na América Latina. Cada notícia de mais uma LGBT assassinada é sentida na pele daqueles que seguem resistindo, mas em que consiste essa resistência? Os semi-direitos concedidos pelo golpista Paulo Câmara são suficiente para nos dar direito à vida?
Definitivamente não.

Uma vereadora do município de Fortaleza, Larissa Gaspar, do PPL, apresentou um projeto de lei para marcar o 15/02 como “Dia Municipal de Enfrentamento à Transfobia”, para responsabilizar o governo municipal a promover ações e divulgar a data, já que a cidade é palco de cruéis assassinatos. E isso? É suficiente isso para defender nosso direito à vida? Acreditamos que também não. Ainda que seja progressivo que as instituições do Estado reconheçam a profunda situação de violência e opressão que vivem as LGBT, já que o usual é a sistemática legitimação dos nossos assassinatos por importantes figuras reacionárias, quanto podemos contar com uma prefeitura e por que o mesmo Estado que é responsável pela repressão sexual e vem através de seus representantes golpistas aplicando um cruel ajuste a classe trabalhadora, com a aprovação da terceirização e a Reforma da Previdência, deveria nos trazer qualquer confiança?

Somos LGBTs orgulhosas, não nos escondemos. Vemos a Linn da Quebrada e a Liniker em TV aberta, mas essa visibilidade não acompanha a realidade das LGBTs trabalhadoras. Além dos assassinatos, somos mira certeira das Reformas a serem implementadas por Temer, cujo golpismo arrancará as crianças LGBTs ainda mais cedo da escola, precarizará ainda mais seus trabalhos que já são concentrados em trabalhos invisíveis, muitas vezes em relações extremamente vulneráveis, em postos de trabalhos precarizados, desregulamentados, flexibilizados e descartáveis ou marginalizados na prostituição no caso das pessoas Trans.

Por isso reafirmamos que apesar de sermos vítimas de violência e crimes cruéis que levam como último elo o transfeminicídio, não nos vitimizamos e não somos impotentes como querem nos educar os governantes. Todavia a impotência de nosso movimento LGBT é sem dúvidas, um dos fatores principais que fazem com que as LGBT que foram linha de frente das massivas manifestações de Junho de 2013, das ocupações de escolas e são parte das greves importantes e paralisações que ocorreram no 8 de Março - Dia Internacional de Paralisações de Mulheres - e no 15M não estejam erguendo um novo movimento pela libertação sexual e identitária para se enfrentar com os golpistas. Que pese também que os sindicatos e as entidades estudantis além de bloquearem a disposição que existe e se faz sentir da classe trabalhadora e da juventude, também fazem de tudo, como foi no 8 de Março, para separar nossas demandas contra a opressão das demandas salariais ou da resistência ao plano de ajustes de Temer.

É urgente colocar de pé um movimento pela libertação sexual e identitária ao lado dos trabalhadores

Dia 31 está sendo convocado mais um ato como sequência da importante paralisação nacional do último dia 15. Ainda que não seja uma paralisação nacional e que a greve geral tenha sido novamente postergada pelas direções sindicais e estudantis, é fundamental que o movimento LGBT atual busque se fundir com a poderosa classe trabalhadora que começa a exercitar seus músculos e mostrar que sem sua força o país não se sustenta.

Um Coletivo LGBT de São Paulo, a Prisma, da Universidade Federal do ABC, se pronunciou sobre ao lado de quem quer estar enquanto LGBTs para lutar contra os ataques e pelas nossas vidas. É se apoiando neste exemplo, e na ampla politização que se existe em meio a tantos ataques e repressões que nós da Faísca - Anticapitalista e Revolucionária queremos construir uma atuação revolucionária dentro do movimento LGBT para questionar até a raiz a profunda repressão sexual e identitária que é parte dos acordos da Igreja Católica, os golpistas e o Congresso que garante as cotidianas violências, o não acesso aos direitos elementares.
Nós que viemos defendendo um Plano de Emergência de Combate a Violência LGBT e o Transfeminicidio seguimos nas ruas e nos locais de trabalho e estudo batalhando para que nosso movimento seja independente deste Estado que tem sangue em suas mãos dos oprimidos e para que os capitalistas, que só nos atendem mediante ao “pink Money” paguem pela crise que eles mesmos geraram rumo a uma sociedade sem opressão e exploração.




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