×

INTERNACIONAL | A uma semana do referendum cresce a possibilidade de Brexit no Reino Unido

Em 23 de junho se vota se o Reino Unido fica ou sai da União Europeia. A uma semana, a pesquisas favoreciam a opção de "Brexit" (saída) e Bruxelas se prepara para uma grande crise.

Josefina L. MartínezMadrid | @josefinamar14

sexta-feira 17 de junho de 2016 | Edição do dia

“Brexit” é uma nova palavra que amálgama “Britain” (Reino Unido) com "exit" (saída). Este tipo de neologismo se popularizou durante a crise da Grécia com a Troika, na que se falava do “Grexit”, a possibilidade de saída da Grécia da União Europeia.

Algumas semanas atrás, as pesquisas davam por ganho o voto por ficar na UE, porém nos últimos dias essa tendência parece ter mudado, com uma vantajem de vários pontos da posição de sair da União Europeia, de modo que o “Brexit” é percebido com preocupação, como uma possibilidade real desde os governos e instituições europeias. A continuação, algumas chaves para compreender o que está sucedendo.

Por que Cameron convocou o referendum?

O primeiro ministro britânico, David Cameron, se comprometeu a chamar um plebiscito se ganhasse as eleições em 2015, pressionado pela emergência e ascenso eleitoral do Partido da Independência do Reino Unido (UKIP), um partido de extrema direita, euroecético e xenófobo, que faz campanha pela ruptura com a UE. O que mais pressionou a Cameron foi o “passe” de vários deputados de seu partido ao UKIP e o fortalecimento de uma corrente euroescética entre os conservadores.

David Cameron conseguiu, em uma reunião da cúpula da UE no passado mês de fevereiro, “condições especiais” para o Reino Unido dentro da União, restringindo os direitos dos imigrantes, a troca de encabeçar a campanha pela permanência.
Em 23 de junho, os cidadãos britânicos residentes no Reino Unido, irlandeses e dos países do Commonwealth maiores de 18 anos poderão votar e responder a pergunta "Deve o Reino Unido continuar como membro da Unãon Europeia ou deve deixar a UE?". Podem eleger entre duas opções: "Permanecer como membro da UE" ou "Abandonar a UE".

Quem faz a campanha por sair?

A campanha oficial "Vote Leave" encabeçada por lideres políticos de direita e extrema direita de vários partidos, como os conservadores Michael Gove (ministro de Justiça) e Boris Johnson (anterior prefeito de Londres), do partido de Cameron.

À cabeça da campaha pela saída também está o dirigente do UKIP, Nigel Farage, conhecido por suas declarações xenofóbicas. Nas eleições de maio de 2015, UKIP obteve quase quatro milhões de votos.

Recentemente Nigel afirmou que o “Brexit” permitiría “enviar de volta” os imigrantes para que não retornem ao Reino Unido. "O que gostaria de fazer é enviar de volta essas pessoas. Eles não estão autorizados a entrar, simples assim". Uma grande polêmica se generalizou com suas afirmações de que permanecer na UE abre as portas a “abusos sexuais” a mulheres britânicas por parte dos imigrantes, referindo-se aos eventos ocorridos em Colonia, Alemanha.

De forma diferenciada desta campaha, alguns grupos de esquerda como o SWP sustentam que há que votar pela saída, com o argumento de que teriam consequências nefastas para o governo e a União Europeia. Ademas denunciam que mediante suas instituições a UE impõe medidas de austeridade na Grecia, porém são posições minoritárias entre os partidarios do campo do “Brexit”.

Quem apoia ficar na UE?

A agrupação "Britain Stronger in Europe" lidera a campaha oficial que conta com o apoio de Cameron, membros do Partido Conservador, liberaldemocratas e nacionalistas escoceses (SNP). Estados Unidos, Bruxelas, França e Alemanha se pronunciam a favor de que o Reino Unido permaneça na União, e se pronunciaram no mesmo sentido numerosas associações de grandes empresas e bancos europeos.

Um dos argumentos econômicos mais fortes da campanha oficial é que “formar parte do clube” da União Europeia favorece a economia do Reino Unido, a suas empresas e a City de Londres. Também reforçam a “segurança” ao país ante a “ameaça terrorista”, dizem.

O Partido Trabalhista liderado por Corbyn tem sua própria campanha (com cartazes e consignas próprias) por continuar na UE, diferenciando-se da política de Cameron. Desde os sindicatos, o Partido Trabalhista e algumas organizações de esquerda afirmam que se sai da UE se perderiam direitos sociais e trabalhistas que hoje tem o “respaldo” de acordos europeos.

Outros grupos de esquerda são críticos às posições do trabalhismo, e chamam a permanência na UE desde seus próprios argumentos. Ainda que sejam críticos das políticas mais conservadoras de Cameron e os trabalhistas, fazem campanha por ficar na União desde uma perspectiva de “mudá-la por dentro”.

Entre a base de esquerda do Partido trabalhista e os amplos setores de ativistas, muitos votarão por “remain” (ficar) motivados pelo justo rechaço ao discurso profundamente racista e antiimigrante do UKIP e os setores que lideram a campanha pelo “Brexit”. Porém existe uma grande contradição, pois entre quem dirige a campanha por ficar estão personagens como Cameron, Merkel, Obama e grande parte da “City de Londres”, que também aplicam políticas xenofóbicas contra os imigrantes.

O que acontece se ganha “Brexit”?

Se ganha a saída, o Reino Unido contaría com dois anos para fixar os termos de sua separação da UE. Até então, o país deve seguir cumprindo as políticas europeias.

As hipóteses sobre as consequências imediatas da saída são múltiplas. Entre os partidários de sair, dizen que isso fortalecerá a economia britânica, liberando-a das “travas” de Bruxelas e que permitirá fechar as portas aos imigrantes. Desde o governo, a mudança, ameaça com uma perspectiva de recessão e fortes cortes sociais se ganha a opção de saída, como demonstrou esta semana o ministro de economia.

As bolsas europeias reagiram com quedas esta semana ante a possibilidade de um triunfo do “Não” à União Europeia. O que é indiscutível é que o “Brexit” provocaría um verdadeiro terremoto na União Europeia, atravessada já por múltiplas crises.

Os trabalhadores se beneficiarão mais se ganha o Brexit ou se ganha a saída?

Nenhuma das duas alternativas que se colocam neste referendum oferecem uma saída favorável para os trabalhadores, as mulheres, os imigrantes e o povo pobre. Os trabalhadores e setores populares não tem nada que ganhar numa disputa entre diferentes setores capitalistas.

Cameron não melhorará as condições dos imigrantes, bem pelo contrario, em fevereiro já conseguiu “condições especiais” em sua relação com a UE, recortando direitos aos imigrantes comunitários e extracomunitários, algo que se aprofundará nos próximos meses.

A forma de derrotar a xenofobia, o racismo e as políticas antiimigrantes do UKIP e a direita não passa por apoiar a União Europeia xenofóbica de Cameron y Merkel, senão lutar por uma perspectiva independente, construindo a mobilização operária e popular desde as bases.

Tradução: Fabrício Pena
Com base a informes de nossa correspondente em Londres, Alejandra Crosta.




Comentários

Deixar Comentário


Destacados del día

Últimas noticias