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[CEIP] A situação real no Ceilão

Lanka Sama Samaja Party (LSSP)

[CEIP] A situação real no Ceilão

Lanka Sama Samaja Party (LSSP)

Resgatamos aqui este texto, traduzido do CEIP-Leon Trotsky, escrito em 1942 do LSSP (Lanka Sama Samaja Party), partido filiado à IV Internacional que se tornou um dos mais influentes desta organização à época. Nosso objetivo é lançar luz para um capítulo da história do Sri Lanka, país que hoje é palco de um processo de mobilização de massas que surgiu diante de uma situação de miséria e profunda crise econômica, com o país saqueado pelo FMI. O texto é uma descrição da situação do país sob o domínio britânico na época da Segunda Guerra Mundial, desmascarando as falácias sobre uma ilha idílica, próspera e democrática, denunciando uma profunda situação de exploração e autocracia, com um forte chamado à classe trabalhadora britânica a uma luta internacionalista pela independência do país, especialmente dirigida aos trabalhadores alistados nos destacamentos do exército britânico presente na ilha naquela época.

A queda de Singapura, Rangum e Porto Blair, as investidas aéreas sobre Colombo e Trinquinimale, e a iminente ofensiva em direção oeste que o Japão está organizando para estabelecer uma conexão com seus aliados do Eixo, tem colocado o Ceilão [1] nos holofotes da mídia internacional. Agora, todo mundo quer ter mais informações sobre essa ilha, e a propaganda britânica teve pressa em dizer para o mundo que tudo é perfeito neste jardim imperialista.

Se acreditarmos nisso, trata-se de um país próspero, governado democraticamente, que conta com uma população satisfeita, na qual é raro encontrar deslealdade, e não se conhece adeptos das quinta-colunas. Aqui não há o menor sinal de resistência para perturbar o cenário harmonioso do domínio britânico, e todo mundo adora ser oprimido pelos britânicos profanadores, inclusive gostam de beijar o punho de ferro que os massacra, melhor ainda, segundo eles não há opressão nem punho de ferro, somente uma cooperação mútua que surge da fé do povo na benevolência e na justiça britânicas. Em resumo, aqui aparentemente o imperialismo mudou sua própria natureza e se transformou em uma instância de democracia e justiça.

Que cenário encantador… encantadoramente falso!

O Ceilão é bastante rico em recursos naturais e cultiva produtos que são vendidos no mercado mundial. Possui plantações vastas de chá e caucho que garantem lucros grandiosos a seus proprietários. Mas quem são seus proprietários? Aproximadamente 90% das plantações de chá e 60% das plantações de caucho do Ceilão pertencem aos imperialistas estrangeiros que governam e exploram esta terra, e eles com certeza são bem sucedidos.

Mas o que acontece com as massas? O que dizer sobre o exército de trabalhadores que dão seu suor nessas mesmas plantações para produzir esses lucros? Eles estão entre os trabalhadores mais brutalmente explorados do mundo. Mantidos em condições análogas a escravidão, só conseguem a duras penas garantir sua subsistência. O salário médio de um homem adulto empregado em tempo integral nas plantações é cerca de 70 centavos por dia. As mulheres, obviamente, recebem muito menos.

E como vivem os operários em Colombo, que supostamente estão em condições um pouco melhores? Seu salário médio antes da crise atual era de aproximadamente uma rúpia [2] por dia. E quantos deles vivem nestas condições? Segundo as estatísticas oficiais, havia em Colombo mais de 40 mil desempregados registrados em 1939, mas o número real era muito maior. Como a população de Colombo neste momento era de cerca de 350 mil, isso significa que pelo menos um em cada três adultos estava desempregado!

Fizemos uma visita ao campo. Qual era a situação destas pessoas, que constituem a maioria das massas trabalhadoras em Ceilão? A palavra prosperidade para eles é uma piada de mau gosto. As estatísticas do governo sobre a situação rural mostraram que 60% do povo no campo não ganha o suficiente para se alimentar todos os dias, e 20% passa a vida inteira sem saber o que é ter acesso a uma comida decente.

No que diz respeito à falácia de prosperidade do país, qual é a situação da democracia que se diz reinar neste lugar? Os propagandistas têm prazer em apontar o Conselho de Estado como prova da sua existência.

De todas as instituições do Ceilão, o Conselho de Estado é a maior das fraudes, é um quadro decorativo que esconde um governador autocrático. Seus ministros não passam de marionetes nas mãos do governador, já que ele tem o poder – que exerce com frequência – de legislar independentemente e contra a vontade do Conselho. De fato, hoje em dia este país é governado abertamente pela legislação do governador sem que haja sequer a menor intenção de consultar o Conselho, e ninguém se atreve a questionar, como demonstra o fato de que nenhum conselheiro proteste contra as condições completamente desumanas que foram impostas aos presos políticos. Entretanto, o governador deteve com total impunidade até mesmo um dos conselheiros e ameaçou publicamente um ministro.

Como o Conselho de Estado se mostrou totalmente inútil para melhorar suas condições de vida, os trabalhadores recorrem cada vez mais à ação direta e independente. Os últimos anos foram marcados por uma onda de greves nas plantações do Ceilão. Os trabalhadores profundamente afetados pela miséria têm se levantado com uma incrível resistência frente à brutalidade policial, lutando mais e mais ao longo de um ano inteiro por aumento salarial e pelo direito de formar sindicatos. O governo e os donos das plantações responderam com brutalidade policial e bandos fascistas. Os trabalhadores foram fuzilados, feridos, espancados, demitidos e perseguidos em massa, mas seguiram lutando duramente e ganharam o reconhecimento de seus sindicatos, o que foi conquistado com relutância.

Enquanto isso, havia começado a guerra, o que fez aumentar os preços e o desemprego. As condições se tornaram tão insustentáveis, especialmente nos centros urbanos, que os trabalhadores foram obrigados a usar a greve como ferramenta novamente. Em Colombo e seu entorno ocorreu uma onda de greves que foi se alastrando para cada fábrica e local de trabalho. O governo contra-atacou prontamente com perseguições realizadas sob a ameaça das Regulações de Defesa. Mas o movimento seguiu crescendo cada vez mais até que culminou em uma série de greves no centro nevrálgico do imperialismo, o porto de Colombo, justamente no momento em que os japoneses aderiram à guerra.

O governo então se apoiou na situação de guerra para golpear brutalmente os operários, proibiu as greves e tornou ilegal até mesmo as tentativas de realizar uma manifestação organizada contra as condições de trabalho. Recorrendo a brechas legais e intimidação administrativa, conseguiu erradicar o movimento sindical no Ceilão.

Hoje em dia o governo vai ainda mais além, enganou os trabalhadores com a desculpa de criar unidades militares nas ferrovias e no porto, organizou batalhões de fura-greves sob o disfarce denominado de Corpo de Trabalhadores dos Serviços Essenciais, tornou ilegal as greves e até mesmo a resistência à opressão dos patrões sob o pretexto de que elas obstruem os esforços de guerra. Tornou impossível o trabalho sindical não somente mediante esta legislação mas também prendendo rapidamente os ativistas e dirigentes sindicais, as sedes sindicais foram invadidas pela polícia e os documentos encontrados foram confiscados, além disso os ativistas encontrados foram presos, espancados e torturados até que os sindicatos fechassem as portas por não ver como continuar seus trabalhos. Não existe mais liberdade de expressão, de imprensa ou de organização; não há nenhuma esperança de garantir uma defesa eficaz nos tribunais já que os juízes se apressam em condenar os operários baseados em evidências mais débeis, não há nenhuma possibilidade de protesto público uma vez que até o Conselho de Estado foi obrigado pela força a obedecer em silêncio, foi assim que surgiu um regime abertamente fascista encabeçado por um ditador militar, o almirante Layton se transformou no ditador do Ceilão.

A classe trabalhadora, derrotada e oprimida, tem enfrentado a repressão cada vez mais dura com um movimento cada vez mais revolucionário dirigido contra o próprio imperialismo. Já em 1935 este movimento encontrou sua expressão organizada no Lanka Sama Samaja Party (LSSP), o único partido revolucionário do Ceilão. Este partido é agora uma sessão da Quarta Internacional Revolucionária, a única organização internacional que mantém firme a bandeira da revolução proletária desde que o Comintern degenerado traiu a classe trabalhadora.

O LSSP tem dirigido os trabalhadores em suas lutas políticas e econômicas desde sua fundação. Em junho de 1940, quatro de seus principais líderes foram presos pela atuação das Regulações de Defesa, sendo assim os primeiros presos políticos do Ceilão. Ao mesmo tempo, a imprensa do partido foi confiscada e muitos de seus militantes foram detidos. O governo esperava com isso desmembrar o partido, mas ele continuou seu trabalho de maneira firme, ilegal e legalmente, e até mesmo com um êxito considerável. O partido passou rapidamente à clandestinidade e respondeu aos ataques com uma atividade ainda mais militante, que incluiu a fuga dramática dos quatro dirigentes que haviam sido presos. Não se deixou intimidar pela perseguição e brutalidade da polícia, nem pela perseguição jurídica ou pelas falsificações ao seu respeito, e nem sequer pela imposição de condições totalmente intoleráveis e desumanas aos seus militantes presos. Não há dúvidas de que no ascenso de massas contra o imperialismo – que não tarda a acontecer – o LSSP vai estar na linha de frente das mobilizações.

Para esta tarefa, os trabalhadores do Ceilão buscam a ajuda dos trabalhadores britânicos alistados no exército que veio até aqui. Não há batalhões da quinta-coluna entre os trabalhadores ceilaneses, eles não são favoráveis ao Japão nem anti-imperialistas, os únicos elementos de quinta-coluna e pró-japoneses se encontram na burguesia local, entre os Kotewalas e outros da mesma laia, que amanhã lamberão as botas dos imperialistas japoneses com o mesmo entusiasmo com o qual lambem as botas dos imperialistas britânicos hoje.

Entre os soldados britânicos há um grande número de sindicalistas e militantes políticos, por isso nos dirigimos diretamente a eles para perguntar: vocês acreditam mesmo que, dadas as condições do Ceilão, estão lutando pela democracia? Conseguem conceber isso mesmo sabendo que nossas organizações operárias estão proibidas; nossos sindicatos desarticulados; nossos dirigentes presos; nossos militantes de base perseguidos; nosso direito à liberdade de expressão e de imprensa negado; e até mesmo a imprensa capitalista está amordaçada e censurada para servir aos propósitos da guerra imperialista? Queremos saber se vocês não veem que os patrões britânicos criaram no Ceilão nada mais, nada menos do que um bastião do fascismo? Vocês não se dão conta que só os operários através da ação revolucionária podem subverter este lugar em um verdadeiro bastião da liberdade?

*Publicado originalmente em 10 de junho de 1942 na Blows Against the Empire, Revolutionary History, vol. 6, n. 4.


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FOOTNOTES

[1Ceilão é a antiga nomenclatura do Sri Lanka, país asiático situado ao sul da Índia. Uma vez que o nome só foi alterado em 1972, foi decidido pela sua manutenção aqui como está no texto original, escrito em 1942 [NdT].

[2Moeda indiana.
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