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A situação em Cuba e a esquerda crítica

A situação em Cuba e a esquerda crítica

A situação em Cuba e a esquerda crítica

Conversamos com Frank García Hernández, sociólogo, historiador marxista e especialista no trotskismo cubano, militante da esquerda crítica e membro do comitê editorial da revista digital ‘Comunistas’. Frank García foi detido em La Habana durante as mobilizações do 11 de julho passado, acusado de “alteração da ordem pública” sem prova alguma; motivo pelo qual foi recentemente liberado e posteriormente acusado de defender “posições políticas contrarrevolucionárias”, na tentativa de expulsá-lo do Partido Comunista. Na presente entrevista realizada no final de dezembro, se expressam parte dos debates e posições que se desenvolvem atualmente na chamada esquerda crítica cubana. Sem compartilhar algumas das diversas questões que desenvolve, consideramos da maior importância divulgar sua visão sobre o que acontece no interior da própria ilha e os caminhos e políticas propostas para uma saída à atual crise cubana.

Conversamos com Frank García Hernández, sociólogo, historiador marxista e especialista no trotskismo cubano, militante da esquerda crítica e membro do comitê editorial da revista digital ‘Comunistas’. Frank García foi detido em La Habana durante as mobilizações do 11 de julho passado, acusado de “alteração da ordem pública” sem prova alguma; motivo pelo qual foi recentemente liberado e posteriormente acusado de defender “posições políticas contrarrevolucionárias”, na tentativa de expulsá-lo do Partido Comunista. Na presente entrevista realizada no final de dezembro, se expressam parte dos debates e posições que se desenvolvem atualmente na chamada esquerda crítica cubana. Sem compartilhar algumas das diversas questões que desenvolve, consideramos da maior importância divulgar sua visão sobre o que acontece no interior da própria ilha e os caminhos e políticas propostas para uma saída à atual crise cubana.

Primeiramente queremos perguntar sobre o significado das mobilizações do 11 de julho em Cuba. No caso dos Comunistas e todas tuas elaborações, se levanta que as mobilizações desse dia mostraram um importante descontento entre amplos setores da população, dos trabalhadores e da juventude contra as medidas do Governo de Días Canel, fundamentalmente a partir do plano ‘Tarea Ordenamiento’ (Tarefa da Ordem), uma política de choque, como vocês chamam, que aprofundou as misérias das massas, uma situação muito difícil para o povo cubano que enfrenta tanto o criminoso bloqueio imperialista como as políticas da burocracia. Em que medida o 11J marcou um antes e um depois na situação política e social em Cuba? E a partir da visão de Comunistas, o que ficou desde o 11 de julho em diante?

O que ficou a partir do 11 de julho em diante tem sido principalmente novos desafios para que a esquerda crítica cubana, a esquerda alternativa, a nova esquerda, como escolha chamar, eu prefiro chamar esquerda crítica – mais em frente tentarei fazer uma definição desse setor político-, que vimos superados frente a essa situação e de certa forma, inclusive, desmobilizados.

Acredito também, e os fatos assim o apontam, que a esquerda crítica deve assumir os protestos do 11 de julho como protestas de caráter popular, ainda que não anticapitalistas, porque não tinha um programa dessas características por parte dos que foram se manifestar. Foram protestos completamente espontâneas, onde nenhum grupo de oposição podem se atribuir ter mobilizado milhares de pessoas que saíram – que ao menos em Havana foram entre 3 mil a 5 mil pessoas – numa manifestação inicialmente pacifica, que percorreu entre 4 e 5 km na capital e cujos únicos momentos de violência foram as detenções e a forma violenta em que acabou se reprimindo a manifestação quando ela chegava às proximidades da Praça da Revolução.

Esse é um dos principais legados deixados pelo protesto do 11 de julho: que é o que deve fazer a esquerda crítica frente a outra possível manifestação e se se deve reivindicar ou não os protestos do 11 de julho e se apropriar deles. Eu acredito que sim, que deve ser feito. Devemos fazer nossos os protestos do 11 de julho, pelo menos dar uma análise marxista, onde se esclareça que foram protestos de caráter popular. Porque do contrário, incorreríamos em deixar nas mãos da oposição de direita e da contrarrevolução de Miami, diga-se a contrarrevolução cubana sediada pelos Estados Unidos e o imperialismo mesmo que tentam se reivindicar, de se assumir, como os líderes desses protestos do 11 de julho, coisa totalmente errada. O melhor fato que prova que os protestos do 11 de julho não foram dirigidos pela contrarrevolução, nem convocados, nem organizados, e menos ainda controlados pela contrarrevolução, é o fracasso do ato do 15 de novembro.

É verdade que no 15N houve uma forte repressão por parte do governo cubano, mas é verdade também que a direita não entendeu nada de quais foram as motivações das massas que saíram no 11 de julho. Não podem compreender por sua própria limitação de classe e suas próprias limitações políticas, que são precisamente de direita e contrarrevolucionárias . Aí é onde se expressa que são contrarrevolucionárias quando tem novamente o fato concreto deles se opondo às massas populares e às suas demandas. Esse é o grande erro, e não o caráter político dos que convocaram o ato do 15 de novembro.

Em que sentido você vê a convocatória a se mobilizar do 15N não foi como as mobilizações do 11 de julho?

Como já disse sobre a convocatória do 15N e seu fracasso na realidade não foi um erro, mas que demonstrou o verdadeiro caráter político dos que convocavam esse protesto. A principal característica dos convocantes é que não entenderam que a mobilização do 11 de julho teve um caráter popular, reivindicativo, colocando sobre a mesa as necessidades básicas da classe trabalhadora. As principais consignas de julho poderiam se resumir em que o povo, as massas, queriam mais alimentos e mais medicamentos. Depois podem se aprofundar aspectos que radicalizaram o protesto, mas não foram os direitos civis o que mobilizou, o que provocou a explosão do 11 de julho, que era como tentou compreendê-lo a contrarrevolução e outras oposições de direita.

No caso de Archipiélago, que convocara o 15N, que tentou inicialmente aparecer com uma espécie de Frente Ampla, evidenciou que esses setores socialdemocratas, quando vão ao centro, acabam virando totalmente à direita.

Yunior García (principal referente de Archipiélago) já estava construindo seu discurso afirmando que não era nem de esquerda nem de direita. Aceitou o apoio explícito, sem fazer nenhuma diferença, de grupos abertamente restauracionistas, capitalistas, apoiados diretamente por Estados Unidos. Estou falando do Conselho para a Transição Democrática conformado por organizações abertamente de direita. Como é a União Patriótica cubana. É só ver o programa econômico desse famoso Conselho para a Transição que é um programa completamente neoliberal. No pessoal eu agradeço que tenham sido claros expondo seu programa político e não tenham ocultado seus rostos.

No entanto Yunio García aceita o apoio do Conselho para a Transição Democrática, não se separa da sua política, o que evidencia que tinha perdido toda perspectiva, se é que a teve, sobre os interesses, as origens, os motivos do 11 de julho. O segundo no comando de Archipiélago, Leonardo Fernández Otaño, fez pública recentemente uma consigna que era “abaixo o comunismo, viva Cristo Rey”. Yunior García, já no estrangeiro, teve reuniões com a direita espanhola, com o direitista venezuelano Leopoldo López e não teve reparos em manter contato com Juan Guaidó.

E no melhor dos casos, teve contato na esquerda foi com ‘Más País (MP) que é um racha centrista, sendo complacentes, de Podemos, que mais centrista não dá para ser. Então essas mesmas limitações de classe, suas próprias análises de classe, sua própria síntese de classe, que é preciso levar em conta, e que também tinha um setor da burguesia que apoiava claramente Archipiélago foi o que impediu que a manifestação do 15N fosse bem sucedida, além da grande pressão e repressão que impôs o governo cubano. Se tivesse sido espontânea a manifestação teria sido explosiva. Essas limitações políticas são as que fizeram que, nem de longe o 15N, virasse o 11J.

Tem sido muito claro o pano de fundo do que mobilizou o 11 de Julho em Cuba, as necessidade mais urgentes do povo, o que expõe a desigualdade social. Nesse marco, como você vincula o aumento da desigualdade social em Cuba com o conjunto de medidas de avanço da restauração capitalista? E como você vê o papel da burocracia nesse caminho restauracionista?

Aqui gostaria de deixar bem claro que não pode se falar de uma burocracia homogênea, mas de duas linhas bem definidas nas políticas, que poderíamos dizer, por um lado, uma burocracia digamos, fidelista, que foca nas políticas sociais, e pelo outro, uma burocracia denxiaopingnista, uma burocracia de linha pró china ou de linha pró Doi Moi no estilo das reformas vietnamitas, que se aproximam mais da realidade cubana que as que implementaram o gigante asiático a pesar dos pontos de contato. Então ainda, eu entendo, que o governo cubano tem um amplo debate, uma ampla luta para ver qual linha se impõe. Até agora, evidentemente, a linha fidelista o que tem conseguido é retrasar o avanço da linha denxiaopingnista.

Quando em janeiro foi anunciado que ia se ampliar o setor da economia privada com novas licenças em novos setores –leve-se em consideração que o setor da economia privada o que tem essencialmente é presença no setor dos serviços, majoritariamente na parte de gastronomia e hotelaria. Quando se anuncia a implementação da lei das Empresas de Pequeno Porte, ou seja, ia se aumentar consideravelmente o setor da economia privada, que ia fortalecer a burguesia, esperávamos ver uma abertura de tipo chinês, onde a partir dos principais recursos, minérios, etcetera, até que se rompesse o monopólio do comércio exterior. Esperávamos uma abertura do tamanho de grandes indústrias, controladas pelo setor da economia privada, controladas pela burguesia, mas quando olhamos para as autorizações que se entregaram, não se concretiza esse grande passo ao setor da economia privada, portanto vemos que tem um grande retrocesso nas aspirações da linha denxiaopingnista.

Raul Castro, no discurso inaugural do oitavo Congresso do Partido Comunista de Cuba, que aconteceu no passado mês de abril, enfatizava e alertava, com essas mesmas palavras, sobre uma possível restauração capitalista e, sem dizer nomes, afirma que alguns dirigentes, alguns burocratas, querem ir além e privatizar os principais meios de produção. O fato é que Raul, que foi a figura que impulsionou as reformas pró-china, agora fez questão no oitavo congresso e tenha alertado e paralisado, fala que na máxima direção do país há –se não um enfrentamento-, estão se dirimindo setores, estão se impedindo oposições, estão se impedindo políticas bem claras. Isso pode adiar o que poderíamos entender como restauração capitalista como aconteceu de forma brutal na China durante a década de 1990, principalmente depois da rebelião de Tiananmen e seu final abrupto.

Nesse ponto, algo muito importante e que deve ser considerado por todo marxista, todo comunista, é o papel fundamental da revolução mundial e de um país socialista quando fica isolado. O que estamos vivendo hoje é uma amostra clara, os fatos em si o evidenciam, que sem revolução mundial toda tentativa do socialismo acaba retrocedendo aos poucos e algumas vezes a grandes passos. Eu sempre lembro que o Che no discurso de Argel em 1965 disse, não vou citar de forma explícita, que essencialmente pode se dizer que se atingiu o socialismo quando foi eliminado todo tipo de exploração do ser humano sobre o ser humano, pode se dizer que está se construindo o socialismo quando se avança em eliminar dita exploração e não pode nem sequer se falar da construção do socialismo quando se tomam medidas a favor da exploração do ser humano pelo ser humano

Então, é evidente que não podemos falar que as medidas que se aplicam nesse 2021 que acaba, aplicadas pelo governo com a Tarea Ordenamiento, foram medidas socialistas. Não foi no sentido que se apoia na expansão do setor da economia privada. Não foram medidas socialistas no momento em que se elevaram os preços dos serviços públicos, em alguns de forma tão forte como no setor de transporte público que aumentou 500% em Havana. E pese de que foi calculado um aumento salarial equivalente ao aumento dos preços e à possível inflação que geraria a Tarea Ordenamiento – que inicialmente não era mais do que a reunificação da taxa cambiária-, os próprios erros implícitos na Tarea Ordenamiento dispararam a inflação a níveis só atingidos durante a crise do período especial na década de 1990.

Pode dizer mais sobre a situação atual da economia cubana?

Aqui eu quero fazer uma comparação necessária: a crise da década de 1990 em Cuba esteve impulsionada pela queda da União Soviética e o chamado campo socialista da Europa Oriental, quando Cuba perde 85% dos seus sócios comerciais; e também eram muito pobres as relações econômicas que tinha com os países da região da América Latina e o Caribe.

De certa forma, era mais fácil que o governo assumisse o período especial porque não era mais do que reorientar o mercado e buscar por novos sócios. Mas agora a crise econômica que está se vivendo é muito mais difícil, devido a que acabou sendo Cuba um país que depende quase exclusivamente, ou de forma grave, da indústria do turismo, que colapsou com a pandemia em 2020 a nível internacional, mas que foi todo o contrário ao experimentado por Cuba. Em 2020, segundo anunciou o ministro da economia, Alejandro Gil, em dezembro de 2019, para que o Produto Interno Bruto cubano crescesse 1% era preciso que em 2020 a ilha recebesse quatro milhões e meio de turistas e se mantivessem estáveis os preços no mercado internacional. Segundo o Banco Mundial, a crise de 2020 foi pior que o crash de 1929. E Cuba recebeu só pouco mais de 1 milhão e 300 mil turistas. Essas foram as cifras de 2020, As de 2021 foram piores. Para fins de novembro não tinham entrado mais do que 200 mil turistas. Então faça a conta, uma economia que para crescer 1% do PIB precisa de 4 milhões e meio de turistas e que em um ano receba apenas 200 mil turistas, de que economia estamos falando então? Estamos falando de uma economia quase colapsada. Quando se fala das sanções dos Estados Unidos, é preciso falar das novas sanções de Trump que aumentaram o impacto do bloqueio: com Cuba estão comerciando nada mais dois navios. E recentemente tivemos toneladas de leite em pó e de frango barradas em outros países porque não tem navios que queiram se arriscar a trazer esses alimentos básicos para a população cubana. O PIB até o mês de outubro, segundo informado pelo ministro da economia, Alejandro Gil no segundo plenário do Partido Comunista, tinha caído 13%, a pior cifra da história da revolução cubana.

Desde 1959 em diante, a cifra mais grave foi em 1992 com pouco mais de -11% e agora até novembro cai -13%. O ministro de turismo disse em dezembro que desde que se levantaram as restrições para a visita de turistas estrangeiros, do 15 de novembro – data em que se levantaram as restrições para a visita estrangeiros, até o 15 de dezembro o país tinha recebido 50 mil turistas. Apresentou essa cifra como uma cifra otimista, positiva, imaginemos então quais seriam os números anteriores. Calculemos 50 mil por 12 e vejamos os resultados que se obtém, quando se vê em tal quantidade de pessoas um valor positivo. A economia cubana está em crise e é uma crise que está mediada pelo capitalismo internacional, enquanto não levante o turismo internacionalmente, não podemos falar de uma melhoria da economia cubana. Aqui, entra mais uma vez o que estava falando inicialmente que, se não triunfar uma revolução mundial, pelo menos uma revolução local, todo projeto de tentativa de construção do socialismo termina se asfixiando.

Nesse marco, como foi o impacto dessa crise nas massas? As políticas da burocracia com o plano da Tarea Ordenamiento,, aumentaram a desigualdade social e econômica?

Sim, isso evidentemente disparou os níveis de desigualdade porque a Tarea Ordenamiento, ao estimular o setor da economia privada, ou seja, estimulando à burguesia, estimula-se a concentração de riqueza num pequeno setor, minúsculo, da sociedade. E tem algo ainda mais grave, e é que a burguesia cubana como setor da economia privada que, como disse há um momento, se concentra no setor dos serviços, principalmente a gastronomia e a hotelaria, não produz nada e o que faz é consumir alimentos e produtos de limpeza. Ou seja, impacta negativamente na mesa da classe trabalhadora cubana, dos setores vulneráveis economicamente.
Ao mesmo tempo, acontece um fenômeno político preocupante, e é que na maioria da classe trabalhadora cubana não tem nenhuma responsabilização da burguesia por causa da escassez que se vive. As maiorias não enxergam a burguesia como um dos fatores que provoca a escassez e o desabastecimento. O entendem mais pelo bloqueio ou por má gestão do governo com as chamadas tendas em moeda livremente convertível, tendas que se habilitaram para a captação de divisas devido ao desaparecimento do turismo e era necessário o ingresso de divisas. A questão dessas tendas em moeda livremente convertível é que pode se acessar a elas só –como diz a palavra- através de divisas, com um cartão com o qual possa se comprar. O mesmo bloqueio complicou ainda mais a economia cubana devido a que os Estados Unidos persegue as empresas e aos países que pretendem negociar com Cuba. As empresas não querem aceitar os dólares estadunidenses que usa Cuba. Isso provocou que, de repente, em março, o governo cubano se encontrasse com um sobre excedente de dólares. Isso é algo quase ilógico, mas certo: reparem até que ponto o bloqueio estadunidense deformou a economia cubana. Devido a que os parceiros comerciais de Cuba não querem aceitar os dólares, que o Clube de Paris –um dos nossos principais financistas- não quer aceitar nossos dólares, e que a Rússia e China estão desmontando completamente o uso de dólares, o que teve que fazer o governo cubano? Tomou uma medida que consistia em que nenhuma pessoa pudesse depositar dólares nos bancos. Isso provocou algo e foi o nascimento de outra moeda: uma moeda digital controlada só pelo mercado negro.

E é que, dessa forma, já indo pra economia política marxista, se dividiu o valor de uso do valor de troca. Ao não servir os dólares em efetivo para comer, o preço do mesmo despencou. Se separou o dólar que está nos cartões MLC, e nasceu um dólar digital que aumenta, que tem um preço diferente porque a classe trabalhadora necessita comprar nesses locais, e se faz a venda desses dólares digitais, os MLC –que é como popularmente são chamados esses dólares digitais-, por transação. Estamos frente ao fracasso da Tarea Ordenamiento porque o governo não conseguiu reunificar a taxa cambiária. Porque pelo menos, quando tinha duas moedas circulando – o peso convertível e o peso nacional - eram moedas que estavam controladas pelo governo. Mas agora que o governo tem a crise de que tem uma moeda que ele não controla. E que somente pode se controlar se desaparecem as tendas em moeda livremente convertível, mas precisam desses locais para o ingresso de divisas. Ingresso de divisas que não tem pelo turismo. Ou seja, estamos numa economia em crise completamente por todos esses múltiplos fatores.

Não tenho aqui os dados do índice Gini, que é o índice que fala da diferenciação social. Por tanto, somente o que posso dizer é de forma empírica sobre isso, de como tem sido o impacto inflacionário no desabastecimento na mesa da família trabalhadora cubana.

Quero esclarecer que quando falo aqui em burguesia, é aquela que surge com o reinício do setor da economia privada no ano 1993, era então uma classe em si que não tinha desenvolvido sua própria cultura, sua própria política ainda, ou seja, não era ainda uma classe para si. E foi uma medida tática que o próprio Fidel Castro anuncia dizendo que não tem mais remédio que implementá-la e que proximamente irá retroceder nessa medida. E dessa forma, quando triunfa a Revolução Bolivariana na Venezuela e depois desta, chegam uma série de governos nacionalistas de esquerda que vão assumir na América Latina, tem um processo de melhora na economia em Cuba, que foi uma melhor correlação de forças econômicas. E Fidel, desde 2002, paralisa a expansão do setor da economia privada e inclusive a faz retroceder. Isso é algo que não faz o governo atual, não só não retrocede, mas inclusive inclui o setor da economia privada lhes dando força legal e constitucional. Então essa burguesia também é produto das medidas da burocracia.

Num determinado momento você falou que a burocracia cubana não é homogênea, da existência de um setor fidelista e outro denxiopingnista. É possível identificar cada um desses setores com algumas figuras importantes atualmente no governo? Poderia falar mais sobre isso?

É um pouco difícil mas é chamativo, eu gosto muito que em outros países, em outros partidos se perceba essa diferença, ainda que não se fala talvez nesses termos que eu estou utilizando. Mas a melhor forma de ver nos fatos essa situação, é ver a constituição do birô político do Partido Comunista de Cuba, ali pode se ver perfeitamente que não há hegemonia nenhuma, de nenhum grupo sobre o outro, e de todas formas, no final, o que pode se ver é um poder do generalato sobre o corpo cívil do partido, pode se ver esse grupo de generais que apostam pela linha chinesa encabeçados principalmente pelo general Lopez Callejas, que aparece como uma figura conhecida por todos, de quem todos falamos, porque estava dirigindo o grupo empresarial que coordena as Forças Armadas Revolucionárias, mas ainda não tinha um cargo político, e nesse oitavo Congresso que aconteceu em abril passado, Lopes Callejas ingressa e recentemente se converte em deputado da Assembleia Nacional, ou seja, se torna também uma figura elegível para a presidência.

Vemos então tanto em Callejas, no generalato, no ministro de economia, no destituído Marino Murillo – aplicador da Tarea Ordenamiento e que estava na cabeça da Comissão de Implementação do PC Cubano-, no Primeiro Ministro que mantém vínculos estreitos com López Callejasa, ai podemos ver a ala pró China, a ala pró Doi Moi. Entendendo que o setor fidelista encontrava-se no departamento ideológico do Comitê Central. Essas são algumas pinceladas, grosso modo que estou dando é claro envolve uma análise maior, mas é completamente real que não existe nenhuma figura como foi Fidel e como de certa forma foi também Raul.

É verdade que Raul não é Fidel, mas Raul sim tinha um poder político que não possui atualmente Díaz Canel, nem por legitimidade política nem constitucionalmente. Quando Raul chega ao governo, primeiro de forma transicional e depois como júris, vai assumir todos os cargos que tinha Fidel, quem era Comandante em Chefe das Forças Armadas Revolucionárias, que nesse caso Fidel nunca vai a perder esse cargo, mas Raul vai ser quem vai estar à frente do Exército. Raul assumirá o cargo de Primeiro Secretário Geral do Partido Comunista e o cargo de Presidente do Conselho de Estado e de Ministros ( que era um cargo que nasceu em 1976 quando se fusionam na Constituição socialista, de inspiração soviética, a figura do Primeiro Ministro Presidente do governo e a figura do presidente da república na através da figura do presidente do conselho de Estado), que foi assumido por Fidel entre 1976 e 2008. Atualmente com a nova constituição de 2019, esse cargo político desaparece e retorna o cargo de Presidente da República e o cargo de Primeiro Ministro, digamos numa espécie de sistema semiparlamentar. Isso expressa uma divisão de poderes. Com um Primeiro Ministro, com um presidente, com um primeiro secretário geral do partido que esteve dividida essa troika, que depois é unificada com Díaz Canel na cabeça do governo, na cabeça do Conselho de Estado como presidente da República e como primeiro secretário geral do partido.

No entanto, o ’primeiro’ vai ser ocupado por Alejandro Marrero, que vai ser o único ministro de Fidel que vai existir até agora, vai sobreviver todos os mandatos de Raúl, até o primeiro mandato de Días Canel da antiga constituição, que agora está continuando com a nova Constituição. Ou seja, esse Marrero é um homem de absoluta confiança de Raúl e que serve como uma espécie de juiz no governo entre as duas alas diríamos a fidelista e a pró china, onde Díaz Canel parece ter uma postura como diria Lenin e Bukharin na polémica sobre os sindicatos de Trótski, uma postura de tampão nas medidas que vão se tomando para uma espécie de equilíbrio de poderes.

E tem uma figura política muito interessante que está emergindo de forma pública, que é a de Gerardo Hernandez Nordelo, um dos 5 heróis que estava à frente da Red Avispa, quem está tomando uma força carismática muito interessante e alguns analistas consideram que pode ser quem vai substituir Díaz Canel, e que inclusive no caso de Raul falecer antes de que termine o mandato de Díaz Canel, este não repita o mandato, não tenha um segundo mandato, e dessa vez assuma Gerardo Hernandez Nordelo, que tem uma altíssima popularidade. Isso é, de forma muito geral, uma primeira análise que posso dar.

Sobre Díaz Canel, você chamou de figura tampão, mas a que setor se aproxima mais?

Isso ainda não está claro para mim. Mas quando se olha o discurso dos fatos é um discurso que se aproxima mais da ala fidelista, mas evidentemente marcado pela ala pró-china ao mesmo tempo. Eu sempre coloco o exemplo em que isso se evidenciou no tratamento que se deu à pandemia. Nos primeiros meses houve uma restrição total. Um tratamento que privilegiava a saúde da classe trabalhadora cubana, e depois em novembro de 2020 teve uma abertura, uma flexibilização grande que evidentemente fala do avanço da linha pró China. Onde melhor se viu foi quando Días Canel anuncia que vão se tomar medidas duras, nos dias seguintes do fechamento drástico volta atrás e fala que não, que vai se continuar com a situação flexível como estava. Então essa jogada evidenciou que existe uma disputa ou pelo menos não existe uma hegemonia de uma linha sobre a outra, ou pelo menos ainda está se construindo uma hegemonia da ala pró China sobre a fidelista e que vai sendo feita lentamente. Considero que a morte de Raul Castro acelerou a avançada da linha chinesa que originalmente foi estimulada por Raul, mas como vemos no oitavo congresso, foi impedida pelo mesmo. A morte de Raul, de Machado Ventura e de Ramiro Valdés, que são os 3 últimos máximos referentes da velha guarda revolucionária servirá como um fator catalisador do avanço da linha chinesa.

Em que disputa entre as duas alas, a dinâmica que você está vendo é na que avança mais a ala pró China então?

Avança a ala pró China, evidentemente, com a lei das empresas de pequeno porte, mas a ala fidelista a impede quando se vê a limitação nas mais de 200 atividades não permitidas pelo governo, uma lista que pode ser vista, é pública, onde se dá conta que não está autorizando uma série de atividades. Essencialmente evita que os principais meios de produção, os bancos, passem por setor da economia privada e evita que se rompa o monopólio do comércio exterior. Ou seja, era esse avanço que muitos acreditávamos que ia dar a ala chinesa, um salto como foi o de Deng Xiaoping quando já tinha saído do Secretariado do partido, mas é quem impulsiona e leva em frente com força as reformas, como depois o vimos também desde o ano de 1986 no Doi Moi no caso de Vietnam, que foram passos de re-privatização.

Esperávamos que se permitissem empresas privadas da força da economia do capitalismo do estado chinês, onde China tem se convertido em um dos países com maior presença de multimilionários. A revista Jacobin publicou recentemente um dado que ainda não confirmei, mas onde um analista chinês, socialista, afirma que China é o segundo país com mais multimilionários. Para chegar nesse nível de acumulação de riquezas faz falta uma forte privatização dos meios de produção. E isso não é o que estamos vivendo em Cuba, estamos vendo sim a aplicação de uma lei de empresas de pequeno porte, e, por tanto, a expansão do setor privado sem a força de China nem de Vietnam. Um dado interessante é que no jornal Granma, que é o órgão do Partido Comunista de Cuba a nível nacional, sempre e não poucos funcionários, tentam tomar distância com respeito com China e com Vietnã quando se fazem comparações, tentam se desmarcar publicamente que o modelo cubano é o modelo chinês ou é o modelo vietnamita, no entanto, cada vez que se faz um congresso do partido, nos meses anteriores, tem reunião do mais alto nível com o Partido Comunista vietnamita.

Muito interessante e muito ampla toda a explicação que você deu sobre a situação no interior da burocracia em Cuba; efetivamente tem elementos de um pente fino, de uma analise que são pouco conhecidos fora da ilha. Outro tema, mas vinculado ao anteriormente falado do aumento da desigualdade social, o plano Tarea Ordenamiento, é sobre a situação repressiva e do autoritarismo visto a partir da jornada do 11 de julho. O comitê editorial de Comunistas publicou em distintos momentos pronunciamentos e chamados à solidariedade com distintos ativistas que estão sendo perseguidos; queríamos te perguntar sobre a situação que enfrentam os que estão sendo reprimidos ou presos. Vinculado a isso, quero te perguntar também sobre a relação que você vê entre as medidas pró-capitalistas e a cada vez mais ostensiva repressão e o aumento da opressão política.

Bom, vou pro tema, que é um tema complicado para nós. Uma das principais polêmicas que teve dentro da esquerda crítica era se a repressão é ideológica ou não. Isto, quem coloca que a repressão não é ideológica, evidentemente tem uma falência na análise marxista e evidenciam a falta de leitura de textos marxistas, mas me limito principalmente a “O Estado e a Revolução” que é um dos textos, por dizer de certa forma, mais revolucionários de Lênin.

No Comunistas não assumimos a consigna de “liberdade para os presos políticos” de forma genérica, pois sabemos que entre os presos existem membros da contrarrevolução e a oposição de direita claramente que apoia o venezuelano Juan Guaidó e recebe financiamento dos Estados Unidos, como é o caso dos máximos representantes ou a figura mais visível do direitista Movimento San Isidro, que é Luis Manuel Otero Alcántara. Por isso, a nossa proposta de consigna é “abaixo a repressão”, mas não falamos de liberdade dos presos políticos em abstrato, pois isso seria cair numa política errada. Não é o mesmo dizer não à repressão, que pedir a liberação de todos os presos políticos de forma geral, pela existência dentro dos mesmos setores abertamente contrarrevolucionários e financiados pelos Estados Unidos. Acredito que deixei bem claro esse aspecto.

É importante considerar que dentro da esquerda crítica, que oscila, digamos desde setores tendentes à socialdemocracia até nós marxistas revolucionários, Comunistas onde existe uma ala maioritariamente filo-trotskista, próximo das análises trotskistas, ainda que não se considere trotskista, e também com alguma presença do maoísmo e recentemente alguns que têm se juntado ao cliffismo, ainda que a maioria do Comunistas não concordamos com as teses sobre o capitalismo de Estado.

É preciso destacar que a esquerda crítica tem avançado, se expandido depois do 11 de julho, em meio de toda essa crise geral, econômica e política. Isso é algo incrível, mas ao mesmo tempo esperado. É quase óbvio que, em meio de uma crise econômica e política como a atual, vão se radicalizar as posições. Evidentemente o marxismo sai em frente como resposta às necessidades da classe trabalhadora e talvez o melhor exemplo é que por onde mais cresceu a esquerda crítica tem sido por comunistas que adotam uma linha marxista, em tanto que os setores proclives da social democracia oscilam cada vez mais pro centro. Essas são posições que irão aumentar segundo o avanço da radicalização do processo.

Neste aspecto, o governo ainda faz uma diferença de certa forma na repressão, ainda que não hesitou no uso da repressão durante os protestos do 11 de julho e posteriormente castigando a representantes da esquerda crítica. Isso é contraditório num governo que se reivindica socialista. E é fruto próprio dessa contradição da luta de classes que vai aumentar cada vez mais. O governo, enquanto o governo apoie o setor privado, estará apoiando o inimigo de classe. Eu sempre destaco que nos estatutos do Partido Comunista chinês se alerta, se afirma, que é mais perigoso o desvio à esquerda do que o desvio à direita; ainda que essa não seja a posição do Partido Comunista de Cuba, tem que estar atento ao que possa estar acontecendo.

A esquerda crítica não foi reprimida no 15 de novembro pois não saímos. Nesse momento tivemos uma posição coerente de não sair em bloco unido com a centro-direita. Mas a pergunta é: se a esquerda crítica, sob consignas socialistas, convocasse um ato, seria ou não reprimida? Isso seria um momento de giro de parafuso do Partido Comunista de Cuba frente às necessidades da classe trabalhadora.
Queremos te perguntar, no contexto dessa discussão sobre a repressão e a opressão política existente em Cuba, que opinas da luta pela legalidade dos partidos que defendem a revolução e suas conquistas.

Interessantíssima pergunta. Primeiro eu sempre digo que a existência ou não de um partido único, não garante a democracia operária. Sempre se esquecem que na China, inclusive na Coreia do Norte, que na maioria dos governos do chamado campo socialista europeu, não era um só partido, mas vários partidos. Funcionou assim na República Democrática Alemã e sabemos que nem de longe teve uma democracia operária.

Então, mais que uma constituição de vários partidos ou de um partido único, o que deve se convocar é a democracia operária. Ao meu ver e também em parte do comitê editorial do Comunistas, entendemos que a criação de outros partidos pode reforçar a existência mesma do Estado. Mas o que sim é necessário, é o fortalecimento de uma sociedade civil de esquerdas socialistas. Que se fortaleça o poder operário, o controle dos operários sobre os meios de produção.

Então, que se fortaleça, se estimule e se permita a constituição de diferentes coletivos socialistas, que não necessariamente tem que ter essa lógica de partido, que ajudariam a ir restando poder a essa burocracia que no final poderia –em nosso programa o entendemos assim-, desaparecer inclusive o partido único para dar passo a uma democracia operária mais ampla como inicialmente se falou nos sovietes.

O que acontece é que, para chegar nesse ponto, caímos novamente na dinâmica da revolução mundial. O que fazer no momento que caia o governo da burocracia, através de uma revolução? Primeiro, ante todo, eu sempre quero deixar muito claro que, se caísse o governo e o Estado –porque o governo atual pode ser removido para que seja substituído por outros representantes da burocracia de diferentes formas, poderia acontecer isso- mas se caísse o atual Estado cubano não existe a correlação de forças necessárias, na esquerda crítica, como para transformar esse processo num processo revolucionário.

Evidentemente, quem está mais organizada é a direita e a que tem mais apoio de forma organizada a nível internacional, é a contrarrevolução com Estados Unidos, que desembarcaria o mais rápido possível em Cuba, ainda que não necessariamente estou falando de uma invasão militar, que não está descartada. Passaríamos na esquerda crítica tal vez a uma resistência mais brutal, mais visceral, mais perseguidos talvez. Por tanto, agora a consigna não pode ser abaixo a burocracia, mas “trabalhadores no poder”. Parece similar, mas não é: os trabalhadores no poder se apropriaram desse estado que hoje custa trabalho caracterizar como estado operário, mas que é mais fácil de assumir que um estado burguês sólido, repressor diretamente contra a classe trabalhadora e é aqui quando volto a que a repressão sim é ideológica.

Uma ditadura do mercado que substitui um estado burocraticamente deformado, um Estado que eu caracterizo de economia não capitalista burocraticamente deformada, não tem nenhum sentido que caia e que seja substituído por uma ditadura do mercado. E no melhor dos casos tentaram de impor uma democracia burguesa na qual a classe trabalhadora nem de longe, pois tinha opções para retornar ao poder. E isso é algo que eu sempre coloco.

Esses grupos de direita contrarrevolucionários que falam do poder para todos, uma vez no poder, permitiriam o retorno da classe trabalhadora no poder pese a que ela volte com um programa de democracia operária totalmente diferente ao que está acontecendo agora? Permitiriam, inclusive, pela via da democracia burguesa, que isso aconteça? Permitiriam esses grupos contrarrevolucionários que isso aconteça? Não, não o permitiriam.

Não temos um modelo agora, estamos –na esquerda crítica, na esquerda socialista- num processo embrionário. Porque não tinha acontecido até agora uma crise política como a que estamos vivendo aqui nesse momento.

Agora talvez um dos fatos mais esclarecedores do que está acontecendo em Cuba foi o início dos protestos do 11 de julho que tiveram lugar em San Antonio de los Baños quando Díaz Canel se apresenta numa tentativa de conversar com os manifestantes mas é vaiado, inclusive jogando garrafas plásticas nele. E algo similar aconteceu com o comandante da revolução, Ramiro Valdés, quando vai no oriental povoado de Palma Soriano, que também estava tomado pelos protestos, quando desce do carro para conversar com os manifestantes. Praticamente é obrigado a retornar no carro e ir embora.

Isso nunca tinha acontecido. Estamos falando, quero fazer uma comparação com o 5 de agosto de 1994 quando quase 1 mil pessoas se lançam às ruas para protestar, Fidel se apresenta no lugar dos fatos e com sua mera presença concluíram os protestos. Muitos dos manifestantes que estavam gritando “Fora Fidel”, começaram a gritar: “Essa rua é de Fidel”. Completamente oposto ao acontecido agora. Então, essa é uma crise política inédita na tentativa de construção do socialismo em Cuba. Por tanto essa esquerda crítica, é uma esquerda inédita também na história na tentativa de construção do socialismo em Cuba.

Por isso, temos um cenário completamente diferente. O que dificulta ainda mais esse cenário é o fato de que essa esquerda crítica, como falei, tem um amplo espectro que oscila vai da social democracia de centro até os comunistas. E essa é uma situação que é única também na história. Por tanto, temos que saber o que fazer nessas situações e é quando eu sempre faço o chamado de solidariedade internacional, tanto com Cuba como com a esquerda marxista cubana em geral.

Para concluir, em que condições toca levar a cabo essa atividade política, em meio desses momentos candentes em Cuba?

Você usava a palavra candente e pensei na hora no texto do Lenin “O que Fazer? Problemas candentes de nosso movimento”. Então como te falava anteriormente, a esquerda crítica, as esquerdas, são muito amplas e teria que pensar o que é o que unificaria todas as esquerdas. Para nós são dois fatores fundamentais: que se mantenham as conquistas do socialismo, construir o socialismo e a luta pela democracia operária, essencialmente trabalhadores no poder, que é a consigna recente que temos adotado. Isto faz que seja muito mais complexo o como fazer. Não só o que fazer que eu falo até que é muito mais simples do que o como fazer. As situações, as dificuldades que temos de trabalhar são muito complexas. Não podemos ir às fábricas a distribuir panfletos. Não podemos colocar uma mesa na Universidade para repartir e vender propaganda impressa. Temos sim a força do site, a força da propaganda das redes sociais, mas como for, essa tem um alcance limitado. Não podemos ter um lugar físico por vários motivos, não o tentamos também por condições financeiras, mas estamos quase que seguros que ter um lugar físico seria reprimido diretamente. Ainda que pudéssemos e já pensámos em constituir uma biblioteca marxista. A biblioteca que pensamos chamar Rosa Luxemburgo ou Biblioteca Mary Low em referência a combatente do trotskismo cubano e internacionalista anglo-australiana que esteve na guerra civil espanhola com o fundador do trotskismo cubano, Juan Ramón Breá. Então como veem as condições concretas de nossa luta diária são extremamente difíceis. Por isso é impossível dizer qual a forma para atingir os objetivos, que é a construção do socialismo democrático.

Transcrição no espanhol de Manuel Aguilar. Tradução para o português por Juan Chirioca


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