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CRISE AMBIENTAL | A invasão das terras Yanomami, a devastação ambiental e a geopolítica dos EUA

Na última semana, temos visto relatos assustadores dos indígenas Yanomamis de avanço violento dos garimpeiros em suas terras, atirando contra a população originária, jogando bombas de gás lacrimogêneo e entrando em confronto com a Polícia Federal. A situação chegou a tal ponto que crianças foram encontradas mortas afogadas, ao mesmo tempo escandalizou a foto de uma criança Yanomami desnutrida desnudando o cenário catastrófico em que se encontram nesse momento.

João SallesEstudante de História da Universidade de São Paulo - USP

terça-feira 18 de maio de 2021 | Edição do dia

Condisi-YY/Divulgação

As disputas em relação às terras do Norte do país não são de hoje, o avanço do desmatamento ilegal e do extrativismo predatório na floresta amazônica e nas terras indígenas do país é algo que acompanha a tendência da economia brasileira de se pautar cada vez mais nas atividades agroexportadoras (mineração, agropecuária e madeireiras) e que não somente sonha em adentrar nesse território, como tem conseguido cada vez mais com o aval do governo negacionista de Bolsonaro e seu Ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles.

A menos de um mês da Cúpula do Clima ocorrida em Washington, onde o tema da Amazônia foi central nas disputas geopolíticas do imperialismo estadunidense agora sob a gestão de Biden, o avanço dos garimpeiros no território Yanomami tem escalado a níveis alarmantes e não por coincidência na madrugada do dia 13 foi aprovado na Câmara dos Deputados o projeto de Lei que flexibiliza as regras de licenciamento ambiental e ainda estuda a permissão e atividades ligadas a agroexportação em territórios indígenas e quilombolas aguardando demarcação.

Apesar da demagogia do democrata imperialista Biden e seu representante das questões climáticas John Kerry para pressionar o governo Bolsonaro a assumir compromissos em frear o desmatamento ilegal na Amazônia a ingerência parece ter encontrado um fator limitante. Isso se pensarmos que recentemente Ricardo Salles foi envolvido em uma denúncia relacionada a uma apreensão recorde de madeira ilegal na fronteira do Amazonas e Pará e após ser protegido pelo governo parece ter se mantido estável no cargo e com declarações vindas da Casa Branca colocando a necessidade do “diálogo” com o governo para resolver a questão climática.

Isso devido a disputa estratégica geopolítica com a China, onde o Brasil é peça chave. A China vem de taxar os produtos agrícolas estadunidenses e busca fortalecer o canal de comércio com o Brasil para depender menos de seu adversário, os EUA por outro lado buscam manter o Brasil mais próximo de sua zona de influência e sem um choque frontal ir impondo limites ao avanço da fronteira agrícola brasileira para minar essa relação comercial. Mas esse jogo de xadrez complexo internacional exige que, diferentemente de Ernesto Araújo, o enfrentamento com Bolsonaro, Ricardo Salles e o extrativismo predatório seja mais cauteloso.

Isso tem uma demonstração gráfica na situação atual dos Yanomamis. Hoje 8 a cada 10 crianças apresentam quadro de desnutrição crônica, 5 a cada 10 crianças apresentam quadro de desnutrição aguda e 7 a cada 10 crianças apresentam anemia e cerca de 80% do total da população contraiu malária. Isso um cenário que se estende num período de pelo menos 20 anos, deixando evidente também que a marginalização das populações indígenas é uma política de Estado que perpassa os governos federais de FHC (PSDB), Lula e Dilma (PT), o governo golpista de Temer (MDB) e que se aprofunda ainda mais agora no governo Bolsonaro.

Isso está ligado evidentemente com o avanço do garimpo ilegal que no ano de 2020 segundo relatório das próprias organizações indígenas cresceu cerca de 20% tendo 20.000 invasores nas terras indígenas causando um desequilibrio no ecossitema e aumentando os índices de violência, abuso sexual, mortes e expropriação de terras. Sem contar que o contato com esses invasores fez os casos da Covid-19 crescerem e hoje dos 27.000 indígenas no território mais de 1400 foram infectados e 21 morreram da doença.

Não bastasse isso vemos uma nova incursão de violência por parte desse setor extrativista, mas que conta com a omissão do governo totalmente cúmplice do morticínio indígena ao cortar verbas da proteção ambiental e fomentar a expansão em territórios tanto demarcados como aguardando demarcação. Mas não vemos uma só palavra de Biden e seu governo em denunciar essa situação absurda que passam os Yanomamis, nem mesmo qualquer vislumbre de política para combater o avanço real do garimpo.

Isso deixa claro que não podemos confiar na demagogia imperialista do capitalismo verde de Biden que não tem nenhum compromisso com a proteção da natureza e dos indígenas e que busca agora o diálogo com um governo assassino e predatório. Nem mesmo confiar que a intervenção do exército na região é uma solução para os problemas, já que controlam efetivamente a Amazônia via Comissão da Amazônia com Mourão à frente e que tem conduzido com mão de ferro o avanço dos agroexportadores.

Veja também: Mourão e o interesse militar de lucrar com a destruição do meio ambiente

Somente uma saída independente dos trabalhadores aliados aos setores oprimidos é a resposta.

Lutemos pela suspensão dos repasses bilionários aos capitalistas do agronegócio, as madeireiras e garimpeiros, pelo repasse de verbas em planos de reflorestamento e gestão das florestas, bem como uma reforma agrária radical que desmantele o latifúndio e garanta autonomia e integridade às terras indígenas e quilombolas. Lutando pela revogação da nova PL que flexibiliza os licenciamentos e todas as leis e medidas aprovadas que atacam o meio ambiente apoiadas por todo regime do golpe institucional, cúmplices no morticínio.

- Fora Bolsonaro, Mourão e os militares!

- Sem qualquer confiança nos governadores, STF e Centrão!




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