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PROFESSORES DE SP | A grande mídia quer deslegitimar a greve dos professores de São Paulo

Simone IshibashiRio de Janeiro

quinta-feira 26 de março de 2015 | 00:01

Os espaços dedicados à cobertura da grande mídia às greves defendem um ponto de vista alheio aos dos trabalhadores. Em relação a presente greve dos professores da rede estadual de São Paulo isso tem saltado aos olhos. As reportagens oscilam entre afirmar que a greve não existe, reproduzindo o discurso do governo do estado de Geraldo Alckmin, ou que estaria atrapalhando o ano letivo. Duas afirmações absolutamente contraditórias, que atestam como a grande mídia manipula as informações.

Um dos editoriais de 25/03/15 do jornal Estado de S. Paulo (http://opiniao.estadao.com.br/noticias/geral,mais-uma-greve-da-apeoesp-imp-,1657405), aborda a greve dos professores da rede estadual de São Paulo como “mais uma greve da Apeoesp”. Sob esse título, o texto em questão busca defender que a greve dos professores seria uma mera manobra política do PT para desgastar o governo do estado, de Geraldo Alckmin. Chega a afirmar que seria parte de uma “operação Caça-Alckmin”, em todos os estados em que o PSDB governa.

Reproduzindo os argumentos dados anteriormente pelo próprio governador tucano, o artigo sugere ademais que as pautas da greve, como a equiparação salarial dos professores com o restante do funcionalismo público de nível superior seriam “irrealistas”. Também se enquadrariam nessa categoria criada pelo Estadão de demandas impossíveis, a reversão do fechamento de salas de aulas, que em 2015 atingiu extinguiu cerca de 3 mil salas e gerou uma superlotação das que seguiram funcionando. Outra causa impossível seria a reivindicação apresentada pelos professores sobre o limite de 25 alunos por sala de aula.

O que os autores do editorial parecem desconhecer é que o limite de 25 alunos por sala de aula é uma resolução estabelecida pelo próprio governo do estado. Amplamente desrespeitada pelo governo, a Resolução C-86, de 28/08/2008 da Secretaria Estadual de Educação de São Paulo orienta claramente a que não se ultrapasse esse limite. Porém, crescentemente a situação das escolas paulistas é absolutamente oposta. Nesse início de ano, foram diversas as denúncias de salas contendo até 90 alunos. Algo que até quem não é professor poderia deduzir que é um impeditivo para que exerça a tarefa de educar, sobretudo com alguma qualidade.

Já a questão da equiparação salarial dos professores com os demais funcionários públicos de ensino superior é sequer discutida em profundidade. A única alegação existente seria a de que o professor da rede estadual paulista seria 26% do piso nacional. Esse dado indica apenas que se a Educação paulista está em bancarrota, a nacional está cursando esse caminho de maneira acelerada. Isso porque para atingir um piso salarial ainda muito inferior ao mínimo estabelecido pelo DIEESE, de R$ 3.182,81, o professorado de São Paulo deve submeter-se a uma jornada de 65 horas de trabalho semanal, ou seja, 25 horas a mais que a normalmente aplicada a outros setores. Não há como ignorar que os professores compõem atualmente uma das categorias mais atacadas pelos governos, sejam estes estaduais, ou o federal petista, também responsável pelo corte de 7 bilhões de reais para a Educação.

Ademais, dizer que o governo do estado estaria valorizando os professores concedendo bônus, em detrimento do aumento salarial, consiste em uma tentativa de engano ainda mais difícil de sustentar. Em primeiro lugar, porque todos sabem que não há bônus para os mais de 230 mil professores da rede estadual. E também porque esta é uma medida para aprofundar a divisão existente no interior da categoria.

A política de “divide e reinarás” vem sendo a prática do governo do estado contra os professores. Separando professores efetivos daqueles com contratos precários dos mais diversos tipos, concedendo bônus a alguns em detrimento de outros, e negando aumento salarial para todos, o governo tucano de Alckmin buscou impedir que essa imensa força de trabalhadores em potencial, composta por 230 mil professores, se unisse e lutasse pela Educação pública, gratuita e de qualidade. E quem perde com isso não são apenas os professores, mas os alunos, e toda a comunidade, que amargam uma Educação em franca deterioração.

Portanto, se a atual greve é política, é por motivos distintos do que pretende o Estadão em sua indisfarçada defesa do governo tucano de Alckmin. Essa greve pode assumir um caráter político porque nasce do questionamento das condições inadmissíveis da educação paulista, e nacional, enquanto o país assiste aos políticos dos partidos dominantes aumentarem seus próprios salários, e aos escândalos de corrupção. E esse questionamento não pode se restringir apenas ao governo do estado, como inclusive avançar para abarcar também o governo federal petista.

Inclusive retomar a direção da Apeoesp, um dos maiores sindicados da América Latina, das mãos da burocracia petista, cuja política faz com que muitos professores acreditem que sua direção majoritária seria também tucana. Há mais unidade para atacar a Educação entre o PSDB e o PT do que quer nos fazer crer a grande mídia.
Dessa forma, o nascimento do Esquerda Diário vem suprir uma necessidade urgente.

A de ser um canal de expressão dos professores em luta, e repercutir as ações dos que realmente buscam lutar para acabar com essa prática dos governos que transforma a má educação como política de estado.




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