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O TENENTE E A ESCOLA DA MORDAÇA | A “democracia” do Tenente Santini e a “lavagem celebral” (sic) do Escola Sem Partido

O ex-comandante da assassina ROTA, membro orgulhoso da “bancada da bala”, policial-vereador Santini proferiu seu discurso cheio de ódio, lixo ideológico reacionário e mentiras para defender a aprovação do absurdo projeto Escola Sem Partido na cidade de Campinas. Veja mais.

quarta-feira 6 de setembro de 2017 | Edição do dia

Falamos um pouco sobre a trajetória de Santini a frente de algumas das mais assassinas tropas da monstruosa instituição da Polícia Militar. Ontem, em um dia marcado pelo retrocesso e o monstruoso ataque à educação e a liberdade de pensamento em Campinas, no qual a Câmara dos vereadores aprovou a primeira fase da aprovação do projeto Escola Sem Partido, Santini proferiu esse discurso, em que afirmou ser “um debate ideológico” e falou que o Escola Sem Partido é para proteger contra a “lavagem celebral” (sic) feita por algumas escolas e professores. Veja se for capaz:

Chega a impressionar que um ser humano seja capaz de falar tanta besteira em apenas seis minutos. Impossível responder cada absurdo que sai da boca de Santini, desde os clichês mais batidos repetidos por robôs de Facebook em comentários de postagem, como “vai pra Venezuela”, até as acusações bizarras de que os governos do PT que encheram os bolsos de tantos capitalistas seriam “comunistas”, ou seja todo o lixo que a doutrinação militar e de direita fez caber no pequeno espaço de seu cérebro de policial. Vamos ficar só com algumas de suas “pérolas” sobre o projeto que quer instaurar a censura nas salas de aula dos colégios de Campinas e cuja votação será na segunda (com ato marcado para repudiar o projeto).

Em um país em que a educação não recebe nem metade do dinheiro que vai para bolsos de banqueiros e especuladores com o pagamento da dívida pública, com escolas que amontoam até mais de 40 alunos por sala de aula, que obrigam os professores a cargas horárias de dois e até três turnos de aula por dia, entre tantas outras barbáries praticadas cotidianamente contra alunos e professores, Santini afirma que os alunos não aprendem a ler e escrever por causa dos professores que “praticam sua militância” dentro das salas de aula. Pelos cálculos de Santini, portanto, devem haver algumas dezenas de milhares de professores comunistas ocupando todas as escolas do país, já que o problema educacional é de escala nacional e apontado inclusive por agências internacionais de avaliação da educação.

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A hipocrisa de Santini é imensa, pois enquanto acusa os professores comunistas e “doutrinadores” pelos problemas da escola, ele presta seu “apoio” aos professores “honestos e idealistas” que mesmo tendo – como ele mesmo admite – péssimos salários e condições de trabalho, mantém seu “amor” pelo ensino e a “construção de uma sociedade pensante”.

Sem dúvida o termo “pensante”, na visão do tenente, possui um valor bastante distinto daquele que um professor “honesto e idealista” poderá ter. Santini diz que a “doutrinação” nas escolas impede que pais e avós eduquem as crianças de acordo com “os preceitos de suas famílias”. Pretende o tenente que para manter os preceitos conservadores de direita que ele mesmo defende (porque certamente não está aqui falando, por exemplo de que uma família com preceitos de esquerda ou comunista tenha o direito de educar suas crianças de acordo com esses preceitos) as crianças não tenham acesso na escola a nenhum tipo de reflexão crítica sobre a sociedade. Não poderão, certamente, ter aulas de história, de filosofia, de sociologia, pois ali serão “contaminadas” pelo ensino de que há na sociedade humana o contraditório, a disputa, a luta entre classes, as guerras e – talvez o tenente prefira não acreditar – as revoluções. “Pensante”, para o tenente, portanto, exclui todos aqueles que pensem sobre isso.

Santini compara a falta de reconhecimento do Estado em relação ao trabalho dos professores com a falta de reconhecimento em relação aos policiais. Mas que comparação poderia haver entre profissionais que educam as crianças e os que matam e encarceram a juventude negra e das periferias? Entre os que formam e promovem a reflexão e o amadurecimento intelectual e aqueles que usam seus cassetetes e bombas para calar as vozes dos protestos de trabalhadores e da juventude quando esses se levantam contra governos e patrões.

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A comparação é a mesma que se deu ali, no dia da votação: os professores presentes, como os do movimento Nossa Classe Educação, tinham um lado claro. Seu objetivo era defender a liberdade de ensino, de crítica, de discussão e debate, de formação intelectual de seus alunos. Uma escola para a criação de pessoas capazes de olhar para a sociedade e pensar sua transformação. Santini, por sua vez, cumpria o papel que sempre teve em sua vida: de calar, com violência, repressão e truculência. De trancafiar o pensamento, de reprimir as vozes que se levantam contra a injustiça. Encher as prisões e cemitérios não foi para ele suficiente. Quer enterrar também as ideias, os debates, a liberdade de expressão.

Santini, em nome de sua mordaça, apelou às bancadas religiosas para que “defendessem suas igrejas” e não se intimidassem diante da “minoria militante”. Fica claro que a doutrinação não é um problema para Santini. Se for para impor aos alunos os valores de uma religião, está tudo bem. Santini afirma que os professores não podem “impor suas convicções políticas” nas escolas. Parte do pressuposto, bastante pertinente a um policial, que as crianças não podem pensar com suas próprias cabeças, mas sim que são “baldes vazios” prontos a serem “preenchidos” com as “verdades” de seus professores. Mas quanto às convicções políticas de empresas como as igrejas evangélicas que tem negócios milionários, que possuem seus próprios partidos, suas bancadas de políticos, suas doutrinas morais, sua ética, sua disciplina estritamente regulada pelos pastores, essas podem ser impostas livremente.

Ele afirma que defenderá “nosso município, nossos valores, princípios e instituições”. Partirá ele do pressuposto de que todos os habitantes de Campinas defendem os mesmos valores? Certamente não, pois se assim fosse não seria necessário aprovar uma “mordaça” aos professores. Os valores de Santini, então, são vistos por ele como os únicos legítimos e cabíveis de serem apresentados aos alunos nas escolas. Que seja enquadrado como caso de polícia quem ouse discordar do que ele pense. Essa é sua suposta “liberdade” contra a “doutrinação” dos profesores que ousarem dizer em suas salas de aula que há mais do que uma forma de pensar no mundo.

Mas não contente em defender a ditadura do pensamento de direita e policialesco nas escolas, Santini precisa recorrer às suas criações fantasiosas, afirmando que há um domínio há mais de 30 anos da “visão marxista” na educação brasileira, que impõe a linha política da esquerda, a “ideologia de gênero” e o “politicamente correto” nas escolas. Isso demonstra um pouco o que é a “visão marxista” para Santini: no país em que há níveis recordes de violência contra mulheres e LGBTs, em que a expectativa de vida da população trans é de apenas 35 anos e 90% dela está na prostituição, uma educação que combata o machismo e a LGBTfobia é a “doutrinação comunista” que Santini procura combater. Por “politicamente correto”, na boca de Santini, podemos facilmente inferir que se trata de uma educação que trate de preconceitos e opressões, como o racismo ou a xenofobia, como temas a serem abordados para que a escola cumpra um papel ativo no combate às opressões.

Sim, nós marxistas defendemos tudo isso que Santini. Mas não é necessário ser marxista para acreditar que a intolerância a opressão não devem ter lugar na escola e devem ser combatidos no processo educacional. A “doutrinação” aqui pregada por Santini é para que as escolas continuem perpetuando os valores defendidos por corporações assassinas como a polícia militar e todos os que recebem os agradecimentos de Santini em seu discurso: MBL, movimentos de direita, militares, policiais, guardas municipais. São esses os idealizadores e defensores da educação “livre” de Santini.




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