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TRIBUNA ABERTA | A crise política de 2016 nas telas de cinema

Não seria novidade afirmar a relação importante que existe entre História e Cinema, e como este no decorrer dos últimos anos tornou-se um campo de interesse dos historiadores, os quais não estão apenas preocupados em estudar os processos e as dinâmicas histórias da sétima arte, mas analisar os filmes considerando-os documentos históricos. O pioneiro desse campo de pesquisa é o francês Marc Ferro.

Cleonice Elias da SilvaDoutoranda em História Social

segunda-feira 23 de janeiro de 2017 | Edição do dia

Foto: Dida Sampaio/Estadão

Filmes do Cinema Novo e do Cinema Marginal são estudados e subsidiam análises não apenas de correntes cinematográficas e estéticas do nosso cinema, mas também dos contextos sociais e históricos do país. Os filmes de ficção e documentários sobre a ditadura civil-militar nos auxiliam perceber os embates que existem em torno da memória da repressão política, esses filmes na sua maioria trazem como enfoque a resistência ao governo dos militares e as violações dos Direitos Humanos cometidas pelos mesmos.

Provavelmente, os filmes que estão sendo realizados sobre a crise política de 2016, que cominou no impeachment de Dilma Rousseff também despertarão interesses futuros não apenas de historiadores, como também de pesquisadores de outras áreas das humanas. Adirley Queirós, Anna Muylaert, Lô Politi, César Charlone, Douglas Duarte, Maria Augusta Ramos e Petra Costa estão envolvidos com projetos de documentários sobre o cenário político de 2016.

Adirley Queirós, que conquistou o devido reconhecimento com o filme Branco Sai, Preto Fica (2014), dirigiu também A Cidade é uma Só (2012). Com o seu filme mais recente Era Uma Vez Brasília (2017) realizou entrevistas com pessoas comuns no Distrito Federal com o intuito de perceber qual eram as percepções políticas desses sujeitos na conjuntura correspondente ao processo de impeachment de Dilma Rousseff. O cineasta conseguiu financiamento público para realizar o seu filme.

Anna Muylaert diretora e roteirista, entre outros filmes, de Mãe Só Há Uma (2016) e Que Horas Ela Volta? (2015) em pareceria com Lô Politi e César Charlone está envolvida em um projeto de documentário cujo enfoque é a presidenta deposta Dilma Rousseff. Eles acompanharam a rotina de Dilma enquanto ela esteve afastada. A diretora, roteirista e produtora Lô Politi trabalhou na companha de 2014 do PT. Para realizarem as filmagens do documentário Muylaert, Politi e Charlone não contaram com financiamento público.

Petra Costa responsável pela direção de Elena (2012) e Olmo e a Gaivota (2014) também acompanhou a rotina de Dilma Rousseff e, entre outros momentos, a votação na Câmara dos Deputados. As filmagens do seu documentário também não foram financiadas por fundos de um edital público, e sim pela sua produtora Busca Vida Filmes. Os filmes realizados pela cineasta até momento estão centrados nos conflitos e sensibilidades da esfera privada, o seu documentário sobre a crise política destoa de seus demais filmes pelo carácter público e político das temáticas abordadas.

Maria Augusta Ramos diretora, entre outros, dos documentários Futuro Junho (2015), Morro dos Prazeres (2013), Juízo (2007) e Justiça (2004) acompanhou o desdobramentos da crise política e realizou entrevistas com diferentes parlamentares. O processo de filmagens de seu documentário, assim como os de Muylaert e Costa, não contou com financiamento público. A cineasta afirma que pretende com o filme apresentar um retrato apartidário da crise política de 2016.

Douglas Duarte diretor de Personal Che (2007) inicialmente tinha como pretensão acompanhar o funcionamento do Congresso Nacional, todavia, diante das circunstâncias políticas, optou por, assim como os demais cineastas mencionados, acompanhar os desdobramentos do processo que cassou o mandato de Dilma Rousseff. Excelentíssimo, da mesma maneira que Era Uma Vez Brasília, foi financiado por dinheiro público.

Cabe agora esperar por esses filmes nas salas de cinema do Brasil. Confesso que estou ansiosa para saber quais caminhos escolhidos pelos cineastas para traçarem as narrativas de seus filmes. Por mais que alguns afirmem que seus filmes são apartidários, eles expressarão pontos de vistas políticos de seus diretores, sabemos que uma imparcialidade completa é impossível. O processo de edição de um filme é marcado por escolhas do cineasta.

É possível que os filmes gerem debates acalorados independentes da leitura que os cineastas escolham para contar a história da nossa recente e ainda sentida crise política. Seja através de um posicionamento que defenda que o impeachment de Dilma Rousseff foi expressão de uma ação democrática e resultado dos crimes de responsabilidade cometidos por ela; ou um outro que expresse como a nossa democracia está ameaçada e como os conchavos políticos acentuam ainda mais essa situação, e que o impeachment de Dilma Rousseff tratou-se de um golpe, que disfarçou-se de uma legalidade.


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