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I CONGRESSO MRT | A conjuntura econômica nacional frente a crise na indústria e os ajustes do governo

Frente aos debates que toda esquerda anti-governista está realizando frente aos ajustes realizados pelo PT e a direita, neste artigo buscamos contribuir com a perspectiva de apontar algumas tendências da economia nacional cujo desenvolvimento depende dos rumos da luta de classes no Brasil.

Flávia SilvaCampinas @FFerreiraFlavia

terça-feira 21 de julho de 2015 | 23:51

Economia e luta de classes

Vemos hoje uma continuidade de uma crise profunda do capitalismo que se irradia das potências imperialistas para os países dependentes (China e Rússia) e chegando às semi-colônias como Brasil e Argentina. As principais vias de impacto hoje são: fuga de capitais estrangeiros, desvalorização do real e queda na quantidade das exportações e nos preços das principais commodities (matérias-primas com preço global, como petróleo e soja).

O desenvolvimento que a crise mundial terá no Brasil dependerá de como o PT e a burocracia sindical estarão dispostos a abrir caminho para os ajustes neoliberais que a patronal clama e que as alas direitas (como Cunha e PSDB) estarão negociando, na medida em que o PT perde forças. Nesse sentido, temos fatores que podem retardar, conter, absorver os impactos catastróficos da crise econômica, colocando como consequência o distanciamento nos tempos de preparação para a construção de partido revolucionário organizado pelos próprios trabalhadores, na medida em que as rupturas podem se alongar, ao mesmo tempo, vemos que as tarefas para a construção deste partido só aumentam através das experiências da classe operária com suas direções, que podem culminar em vitórias/derrotas ou impasses.

Podemos pegar como exemplos duas greves fundamentais no último período com categorias relativamente pequenas organizadas em sindicatos localizadas em polos opostos: a luta dos garis do RJ com a direção da UGT e a greve da USP dirigida pela esquerda e pelos comandos de base. Ambas demonstram como as tarefas de construção de um polo anti-burocrático para que as rupturas dos setores precarizados possam culminar em militância orgânica, passa por medidas de diálogo político e anti-governista, ou seja, a construção de alternativas reais no seio da classe operária.

Os exemplos colocados ainda não tem um peso econômico nacional fundamental (como teria uma greve do setor metalúrgico), mas nos permite ilustrar que as crises políticas e os ritmos da luta de classes (por exemplo as traições das direções sindicais) são capazes de alterar, de reforçar ou de contra restar tendências da economia, sendo que o contrário também é válido, ou seja, a dinâmica da economia pode influenciar nas crises políticas e impactar no ânimo das massas. O mesmo se coloca a nível da economia mundial, no qual o Brasil se insere como exportador de primários e um grande mercado importador de mercadorias manufaturadas. Destacamos como é chave ligar a análise de conjuntura da economia, com a vida real e as condições de vida candentes dos trabalhadores, e como este movimento, busca relacionar o geral (o quadro da economia mundial) com o particular (a partir de quais são as especificidades da economia, política no país e como os fenômenos da economia afetam os trabalhadores no país, como estes estão organizados ou não para resistirem aos ataques – daí que, em nossa análise, é fundamental entendermos o papel das burocracias sindicais e dos partidos, como o PT, assim como a necessidade da construção de uma alternativa revolucionária, na luta de classes).

Impactos da crise na Petrobrás, inflação e desemprego

A crise política da Lava Jato é uma crise ligada a própria crise do projeto do PT, por outro lado, é uma crise política que aprofunda a crise econômica e o baixo crescimento e a insegurança da burguesia em novos investimentos (devido aos efeitos das investigações da Lava-Jato nas construtoras, a baixa popularidade de Dilma com a corrupção e os ajustes geram uma grande incerteza para as decisões futuras dos capitalistas, se eles irão ou não no médio prazo conseguirem realizar seus lucros).

A crise na Petrobrás gerada pela Lava-Jato se acelera e se aprofunda com a crise econômica e com a recente queda nos preços do petróleo (que ainda não atingiram o patamar de inviabilização da exploração do Pré-sal, cerca de US$ 40,00, a queda no preço do petróleo reduz o preços de nossas importações de combustível e petróleo, mas também reduz os preços de nossas exportações de petróleo que correspondem a 10% do total de exportações do país e se destinam principalmente à China), somado a isto, a Petrobrás tem adotado políticas de desinvestimento (privatizações), veja mais no dossiê especial do Esquerda Diário no link.

Outra tendência, além da causada pela crise na Petrobrás, que pode puxar ainda mais o PIB pra baixo, temos a tendência ao aumento do estoque da dívida pública com um possível e próximo aumento dos juros dos EUA que valorizaria, encareceria ainda mais o dólar aqui no Brasil, levando ao governo Dilma a aumentar os juros ainda mais (os juros no Brasil já são um dos maiores do mundo, ou seja, estes juros remuneram muito bem os capitalistas “investidores” em reais), com estes aumentos nos juros, a dívida pública do Brasil ficaria mais cara, em 2014, o estoque da dívida já ultrapassara 78% do PIB com 3 trilhões de reais (segundo dados da Auditoria Cidadã da dívida). De janeiro a março, os gastos do governo com os juros nominais somam R$ 74,4 bilhões, diante de R$ 42 bilhões no mesmo período do ano anterior, um crescimento de 56%.

Com relação à inflação poderíamos pensar numa continuidade da tendência ao aumento dos preços dos produtos básicos, como o pãozinho, pois tudo que está sendo importado está ficando encarecido com a valorização do dólar, no caso do pão, importamos o trigo. Além disso, há o fato do aumento do preço da gasolina que acaba encarecendo os transportes dos produtos como um todo, e consequentemente os preços no supermercado. Também importamos insumos para a produção interna de máquinas e outras matérias-primas, assim o efeito de encarecimento é generalizado para vários produtos. A carne, por exemplo, também deve continuar a ficar mais cara com a redução da oferta interna de carne (fechamento de frigoríficos, por uma queda na demanda interna por carne devido à queda na renda da população com o aumento do custo de vida que faz a população substituir a carne vermelha por outras proteínas).

Dados recentes do emprego mostram algumas tendências interessantes (veja mais aqui), como a de aumento do número de pessoas que buscam emprego a partir de 14 anos). Quando se trata de emprego, vemos como a crise afeta mais fortemente a juventude (e também a população pobre em idade para aposentar – muitos trabalhadores já idosos, com a crise, tendem a querer voltar a trabalhar para complementar a renda frente as dificuldades que estão por vir e ao aumento do custo de vida, que já é perceptível no dia-a-dia dos trabalhadores e que desvaloriza a renda dos aposentados que recebem o salário mínimo) que tende a querer entrar mais cedo no mercado de trabalho para complementar a renda familiar.

Junto a esta tendência no mercado de trabalho, é preciso combinar os efeitos da precarização do trabalho e da precarização o da vida da juventude, com a criminalização da vida desta mesma juventude negra e pobre, com a redução da maioridade penal e o aumento do prazo de encarceramento da juventude, daí também podemos entender como a burguesia e o Estado se preparam para maiores enfrentamentos sociais, aumentando a criminalização da juventude e a militarização da vida e de toda população nos grandes centros (basta vermos o “efeito Copa e Olimpíadas” - que são estratégicos para a burguesia conter o potencial explosivo da revolta da classe trabalhadora e da juventude pobre e negra das periferias).

Cenário de ajuste na indústria

Os relatórios de entidades ligadas ao governo e a patronal mostram que a indústria tem apresentado uma queda na produção, e podemos observar como o fenômeno é generalizado em todos os setores (exceto setor extrativo mineral) e é um fenômeno nacional (não está concentrado em algumas regiões, como em outros momentos) e está mais profundo e forte do que em 2009, quando a indústria brasileira foi fortemente impactada pela crise econômica mundial (ano em que a produção industrial em todo o mundo teve forte queda, inclusive com queda no fluxo de comércio mundial - dados UNCTAD). Veja pesquisa aqui.

A crise na indústria hoje é puxada inclusive por setores que antes, 2012-13, estavam em crescimento como a indústria farmacêutica, de eletroeletrônicos e de alimentos (a indústria de alimentos é uma das que mais emprega no país - mão de obra intensiva-, e que no caso da indústria da carne, passa por um começo de crise importante como fechamento de dezenas de frigoríficos com centenas de demissões na região do Mato Grosso do Sul somente neste ano).

Exportações e a relação Brasil-China: saídas para a crise?

As demissões na indústria, neste momento não se caracterizam como “de massa”, num cenário catastrófico para o emprego, porque (para além de outros recursos que atacam aos trabalhadores, como o banco de horas e a redução nos salários) também podem estar sendo “maquiadas”, absorvidas pela alta rotatividade com os trabalhadores terceirizados que estão vinculados ou diretamente estão nas linhas de produção industrial. Outro destaque, é o fenômeno das falências de industrias menores vinculadas à indústria automobilística, por exemplo (alto endividamento, queda na demanda). O que se vê é um aprofundamento da tendência à flexibilização, à reestruturação produtiva para atender à necessidade patronal de escoar mercadorias (que não são absorvidas pelo mercado interno brasileiro que está em queda na demanda e com nível de endividamento crescente) para fora, para o mercado externo - aumento das exportações (ai cabe a questão até que ponto esta saída burguesa é viável, até que ponto os países centrais e dos BRICS tem interesse em absorver a demanda interna excedente ao adquirirem os produtos brasileiros?). Neste ponto, vale destacarmos, a importância da “agenda positiva” de Dilma junto aos empresários, como o recente Plano de incentivo às exportações e os acordos bilaterais de comércio entre Brasil e EUA e México.

A relação Brasil-China, é uma das vias de impacto da crise mundial no país. A queda no ritmo de crescimento econômico da China (que mesmo assim cresceu 7% no último trimestre) atinge a indústria e o agronegócio por meio da relação de comércio de mercadorias entre os dois países. O Brasil é um grande exportador de produtos básicos (quase metade de tudo que o país exporta), as exportações e as importações representam 20% de todo PIB do país – o Brasil é um grande exportador de soja (14%), minérios (12,6% - é um produto que está em queda nos preços de exportação, com a queda no preço do minério de ferro), petróleo e combustível (11%) e carnes (7,5%). China, EUA, Argentina e Alemanha são os maiores fornecedores de produtos manufaturados do Brasil (principal pauta de importação do Brasil) e a China (Ásia representa 32% do total das exportações do Brasil que são em boa parte, de produtos primários, como soja e petróleo), seguida pela América Latina (20%), União Europeia (18%) e os EUA ( 12,1% – os EUA importam do Brasil principalmente produtos manufaturados, industriais, diferentemente da China, por isso, a patronal, personificada na CNI – Confederação Nacional da Indústria – tanto incentiva o livre comércio entre Brasil e EUA, os resultados da viagem de Dilma aos EUA e a recente Cúpula das Américas, vão no sentido de reaproximação inclusive comercial, entre Brasil e EUA, tendência que vai de encontro as ambições imperialistas dos EUA na América Latina como resposta à crise e indiretamente ao aumento da influência chinesa na região).

A burguesia mostra pessimismo

As previsões dos bancos para o crescimento/estagnação do PIB do brasil, ou seja, das riquezas que serão produzidas neste ano no país, apontam para uma continuidade da recessão, com crescimento quase 0% em 2016 e neste ano, uma queda no PIB de 2,2%. Segundo o Itaú: “Uma recuperação moderada ao longo do próximo ano não deve ser suficiente para compensar a queda já ocorrida na atividade (herança estatística) no crescimento médio de 2016. Os custos de produção seguem pressionados, limitando o crescimento no médio prazo”, informou o relatório do banco divulgado pelo jornal Estadão. Com os investimentos públicos contidos devido ao ajuste fiscal e a iniciativa privada insegura com os rumos da crise política e as medidas contraditórias adotadas pelas autoridades econômicas, há poucas esperanças de recuperação no curto prazo. Após crescer quase zero (0,1%) em 2014, os resultados do primeiro trimestre indicam que 2015 deverá se encerrar com queda do PIB em cerca de 1%. Conforme relatório de conjuntura do DIEESE, em 2014, a taxa per capita – a divisão do total de riqueza produzida no país pelo número de habitantes - registrou retração de 0,7%, indicando empobrecimento da população no período.

Com relação à renda da população, o DIEESE mostrou uma queda na massa de rendimentos da população em grandes regiões metropolitanas do país: Porto Alegre (-8,5%), São Paulo (-3,3%), Fortaleza (-2,7%) e Recife (-1,9%), essa queda é reflexo do aumento do custo de vida, do aumento da inflação e tarifas, e de menores ajustes nos salários (um ajuste no salário que não acompanha o aumento do custo de vida).

Como apontado em pesquisa realizada pela CNI (Sondagem Especial - Emprego), metade das empresas já demitiram nos últimos seis meses, a tendência é que essa tendência cresça. Entre as medidas frente à crise mais citadas pelas empresas estão a redução do número de turnos (31%), a promoção do uso do banco de horas (31%), a não renovação de contratos por prazo determinado (28%) e as férias coletivas não programadas (28%). Além disso, o PPE (programa de proteção ao emprego) é uma medida que já ganha visibilidade entre os empresários, que já consideram sua adoção. Na prática o PPE reduziria 15% do salário bruto dos trabalhadores.

Passamos por duros ataques à classe trabalhadora, que já enfrenta uma inflação de 10%, e que agora prevê uma redução em 15% do salário. Segundo o CEO da Maxion (fábrica de autopeças), em entrevista ao IEDI, o Brasil tem excedente de mão de obra na indústria automobilística e precisa reduzir isto ao nível de outros países, seria um excedente de 1 para 5, ou seja, a cada 5 trabalhadores empregados na indústria automobilística, haveria uma margem para a demissão de 4, isto combinado com um relativo aumento da automação na indústria automobilística. Os relatórios da ANFAVEA, por exemplo, mostram como a patronal, mesmo com a crise atual na indústria automobilística, não estão deixando de investir em máquinas, como mostra o caso da Volkswagen, nem de inaugurar novas unidades produtivas, apostando ainda numa recuperação do mercado no próximo período puxado por exportações e recuperação do consumo interno (revelando o otimismo da burguesia com a capacidade de recuperação do capitalismo).

Sendo assim, o caminho dos capitalistas (com o apoio das burocracias sindicais) e dos governos, para contornar a crise, é joga-la em cima dos trabalhadores por meio da precarização do trabalho com o PPE, o PL 4330 as MP’s e os cortes nos gastos sociais. Nesse sentido, os governos do PT e da direita, junto com as burocracias sindicais cumprem um papel importante para aplicar esses ajustes. Precisamos de uma resposta rápida e organizada dos setores atingidos, em direção a romper com seus sindicatos patronais e governistas, numa luta contra os cortes e ajustes que tanto os afetam.

Na foto, Dilma em reunião com centrais sindicais e empresários, assina o PPE, Plano de Proteção ao Emprego, que permite aos empresários reduzir em 15% o salário dos trabalhadores com financiamento pelo governo federal.




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