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TRABALHADORES EM LUTA | A classe trabalhadora se levanta na América do Sul

Em meio a fortes planos de ajustes contra os trabalhadores e o povo pobre, começamos a ver importantes ações e processos de luta em países-chave da região.

terça-feira 4 de abril de 2017 | Edição do dia

Em meio a fortes planos de ajustes contra os trabalhadores e o povo pobre, começamos a ver importantes ações e processos de luta em países-chave da região, como na Argentina, com grandes marchas durante o mês de março; no Brasil, que realizou uma massiva e unificada jornada de luta no dia 15M; ou o proletariado minerador, que tanto no Chile quanto no Peru está protagonizando importantes processos de resistência. A jornada internacional de 8 de Março foi outro destaque do novo cenário que se abre.

Logo que os primeiros embates da crise econômica demonstraram o completo fracasso dos governos "progressistas", a ascensão ao poder da direita neoliberal na Argentina (através de eleições) e no Brasil (através de um golpe institucional) e a generalização de ataques patronais e planos de ajuste da região estão abrindo o caminho para a intervenção do movimento de trabalhadores, assalariados e demais setores explorados e oprimidos.

A burocracia sindical concedeu-lhes muitos meses de inação, mas paga um custo político cada vez maior para conter a pressão da base, e se vê obrigada a chamar uma ação unificada. Tais são as razões da paralisação de 6 de abril na Argentina ou a jornada do dia em 15 de março no Brasil. Suas convocações foram feitas pelas burocracias sindicais da maneira menos nociva possível para os governos e as patronais, e colocando em o norte em falsas saídas eleitorais a favor do kirchnerismo na Argentina ou Lula no Brasil. Mas estão vindo à tona os confrontos mais diretos entre as classes e contra os governos servis aos monopólios e o imperialismo. As organizações que impulsionamos a Fração Trotskista e a Rede Internacional do Esquerda Diário estamos a serviço destas lutas, no caminho para derrotar os ajustes e impor uma saída operária e popular para a crise capitalista.

Jornada de paralisação e mobilização no Brasil

No 15M setores importantes da classe trabalhadora brasileira saíram em luta em uma ação unificada para enfrentar o ataque à previdência. Realizando paralisações em parte dos transportes, dos serviços e da produção, mobilizou dezenas de milhares nas ruas em diferentes capitais, onde os trabalhadores mostraram a enorme força social que são capazes de levantar.

Apesar das direções burocráticas da CUT e CTB terem feito todos os esforços para conter as manifestações e greves para "não incendiar o país" e evitarem chamar uma greve geral, o dia de 15 de março foi uma contundente e massiva ação de luta contra o governo de Michel Temer.

As organizações de trabalhadores dirigidas pelo PT de Lula e Dilma já haviam se recusado a enfrentar o golpe institucional de 2016, orquestrado pela grande patronal e os monopólios. Agora, frente ao governo golpista, ajustador e repressor Temer, vinham evitando a todo custo uma ação de protesto unificada, semelhante à situação do sindicalismo argentino.

Mas a pressão desde a base crescia todos os dias, motivada especialmente pelo ataque contra a aposentadoria, que se transformou na grande batalha do governo e dos capitalistas contra os trabalhadores. A burocracia não teve outra escolha que convocar a jornada de protesto.

A ampla simpatia popular, com paralisações e mobilizações, foi um dos elementos mais notórios da jornada, apesar da tentativa por parte da mídia burguesa para esconder a força dos trabalhadores. Isso mostra que a classe trabalhadora pode ganhar o apoio das grandes maiorias exploradas e oprimidas, dos pobres nas favelas e no campo, dos negros, das mulheres e dos jovens. Para isso, os trabalhadores devem superar a burocracia que acaba de dar uma nova trégua ao governo, adiando uma greve geral que estava convocada para 31 março para somente o dia 28 abril.

O Movimento Revolucionário de Trabalhadores – que vêm de um sucesso ao realizar o seu segundo congresso sob o tema de enfrentar ataques Temer e construir uma esquerda anticapitalista na luta de classes – participou das ações e deu grande publicidade para o dia no Esquerda Diário, na perspectiva de que essa mobilização seja o pontapé inicial de um verdadeiro plano de lutas para derrotar o governo golpista e ajustador de Temer.

Histórica greve mineira comoveu o Chile

Após 43 dias de greve ininterrupta, os trabalhadores mineiros da mina Escondida colocaram fim à medida de luta, amparando-se no Código do Trabalho, adiando por um ano e meio as negociações pelo contrato de trabalho.

Com acampamento permanente na entrada da mina, grandes marchas e campanha de solidariedade a nível nacional, foi uma luta histórica que paralisou a principal mineradora do país.

A multinacional BHP Billiton, uma das maiores mineradoras do mundo, pretendia precarizar os contratos de trabalho dos funcionários. Para isso, contava com o apoio ativo de todos os chefes de mineração (Conselho Mineirador), o governo da Nova Maioria, liderado por Michelle Bachelet (do Partido Socialista), e os meios de comunicação de massa. Esta "santa aliança" contra os trabalhadores montou uma grande campanha para desacreditar a luta, acusando os trabalhadores de "privilegiados", culpando-lhes por prejudicar a economia nacional, e serem "intransigentes", causando prejuízos.

No entanto, graças à determinação dos trabalhadores e o amplo apoio popular, em meio ao descontentamento com os políticos capitalistas e a grandes mobilizações contra as Administradoras de Fundos de Pensão, a luta histórica dos mineiros se manteve e conseguiu parar momentaneamente a ofensiva patronal, ainda que não tenha conseguido impor as principais reivindicações. Este não era só um ataque ao setor mais concentrado da classe trabalhadora chilena, pois estabeleceria um precedente nefasto para todos os trabalhadores no país, descarregando a situação económica desfavorável sobre as costas da população para garantir os lucros capitalistas.

Semelhante luta desencadeou a solidariedade operária e popular, tanto na região de Antofagasta como em dezenas de vilas e cidades, onde milhares de pessoas se mobilizaram em apoio. O grupo irmão do MRT, Partido dos Trabalhadores Revolucionário (PTR), apoiou com todas as suas forças a luta, criando comitês de solidariedade, difundindo e contrainformando diariamente através do ED Chile e participando ativamente de todas as ações pró-trabalhadores.

As reivindicações dos trabalhadores também incluíam um aumento salarial e a extensão dos direitos trabalhistas aos contratados, que são a maioria da mão de obra. Inclusive se abriu a discussão sobre a recuperação do patrimônio nacional, que é entregue ao capital estrangeiro desde a ditadura de Pinochet.

A direção do conflito não teve uma política consistente para soldar a unidade entre permanentes e contratados, como teria sido, por exemplo, lutar pela efetivação para somar os trabalhadores mais precarizados na luta para vencer. Mas os trabalhadores conseguiram parar o ataque patronal e estabelecer um ano e meio de ’trégua’, que pode ser usado para tirar conclusões e se preparar para batalhas futuras.

Mineiros peruanos, terceira semana de dura greve

Trabalhadores da mina Cerro Verde (Arequipa, Peru), a maior mineradora de cobre do Peru, continuam em greve por tempo indeterminado e caminham para a terceira semana consecutiva de produção paralisada. Em 23 de março, após 14 dias de greve, o governo ilegalizou a medida de força tentando quebrar a luta mediante a judicialização e possíveis sanções aos trabalhadores. Mas o sindicato voltou a decretar greve por tempo indeterminado a partir de 24.

A empresa Freeport-McMoRan que controla Cerro Verde disse que a produção não foi afetada, mas os grevistas asseguram que a mina trabalha a 50%. Apesar dos dias de greve, a empresa continua intransigente e não houve progresso nas negociações.

As reivindicações dos trabalhadores são baseadas na rejeição ao declínio na participação nos lucros, que a empresa justifica com um suposto aumento dos custos de produção. Além da dura luta que estão levando adiante, os trabalhadores têm se solidarizado com as vítimas das grandes enchentes nas últimas semanas, entregando mantimentos e dinheiro em diversos bairros.

Tradução: Barbara Molnar




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