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Opinião | A classe operária de volta ao centro da cena das lutas internacionais?

Nos últimos meses, temos vistos novos conflitos da luta de classes internacional que trazem um novo aspecto importante: a classe operária, como sujeito organizado, esteve no centro da cena.

sábado 4 de dezembro de 2021 | Edição do dia

A ofensiva neoliberal, também chamada restauração burguesa, foi uma imensa derrota da classe operária internacional. Após a onda de processos de luta e revoluções de 68 a 81 ser derrotada, vimos também a restauração do capitalismo nos antigos Estados Operários burocratizados. O fato de que muitas dessas derrotas e restaurações fossem lideradas pelas burocracias oriundas da própria classe operária coloca elementos específicos à derrota, de forma que suas consequências imensas ainda perduraram até hoje.

Por um lado, isso permitiu que a burguesia avançasse com sua política de precarização do trabalho em níveis inauditos. No entanto, não foi apenas no sentido objetivo que essa derrota se plasmou. Apesar de uma superioridade numérica nunca antes vista na história, a fragmentação da classe operária também alcançou níveis sem precedentes. Além disso, a burguesia também avançou no ataque às organizações tradicionais da classe trabalhadora como os sindicatos – ainda que ainda existam importantes batalhões da classes operária sindicalizados, muitas vezes sob o comando de fortes burocracias que atuam como verdadeiras polícias políticas da burguesia no movimento operário.

Com a crise de 2008, porém, a situação começa a mudar. Pouco depois ocorre o que chamamos do primeiro ciclo da luta de classes internacional, com processos importantes como a Primavera Árabe e como os processos de luta na Grécia e no Estado Espanhol.

No entanto, esses processos contaram com importantes limitações. Em grande parte deles, foram marcados por revoltas em que o que primou foi o elemento “popular” em que a classe operária atuou não como classe organizada, com seus métodos como greves e ocupações de fábrica, mas dissolvida na revolta (ainda que no Egito e nas greves gerais da Grécia houve um importante protagonismo operário).

Com isso, não queremos dizer que não ocorreram greves e lutas operárias. Mesmo antes de 2008, ocorreram importantes processos, como por exemplo as ondas de ocupações de fábrica na Argentina em 2002. No entanto, a classe operária não foi capaz de hegemonizar esses processos.

O segundo ciclo da luta de classes pós 2008 começa no final de 2018 com a revolta dos Coletes Amarelos na França e em alguma medida segue até os dias de hoje, ainda que a pandemia tenha imposto uma pausa momentânea e tenha mudado seu ritmo.

Nos primeiros processos desse ciclo iniciado em 2018, essa dinâmica onde a classe operária atuava como sujeito diluído se repete. No caso chileno, após a demonstração de força da classe operária nas greves gerais dos dias 12 e 13 de novembro de 2019, as burocracias sindicais, os partidos reformistas e o PC stalinista - em aliança com os setores de direita do regime - rapidamente se movimentaram para impedir esse protagonismo operário e desviar o processo. No entanto, foi apenas com a entrada da classe operária em cena que o regime teve de ceder e aceitar a convenção constituinte.

No entanto, mais recentemente a situação pode estar mudando. Já no final de 2019/início de 2020, vimos a greve dos trabalhadores dos transportes de Paris, que conseguiram paralisar a circulação de pessoas na capital francesa e atraiu imenso apoio popular. Ainda que concentrado em poucas categorias, essa greve deu um importante exemplo da potência da classe operária, estando no centro das posições estratégicas da economia capitalista, consegue hegemonizar o conjunto das lutas e das reivindicações sociais e de atrair grande simpatia popular.

Com a pandemia, vimos uma certa ondas de greves de trabalhadores da saúde e também de trabalhadores não essenciais pelo direito ao isolamento, ainda no marco de serem muito defensivas. Entretanto, o primeiro grande processo da luta de classes que estourou foi a luta negra nos EUA. Ainda que tenha assumido uma forma de revolta popular, causou importantes mudanças na subjetividade da classe trabalhadora. Ainda em 2020, os EUA já experimentou um aumento significativo do número de greves operárias.

Mas foi nesse ano de 2021 que os processos mais significativos ocorreram. No início do ano começou o processo de sindicalização da Amazon no Alabama, que ainda que tenha sido derrotado após uma intensa campanha anti-sindical da empresa, foi um marco, atraindo a atenção e a simpatia de trabalhadores do país inteiro e do mundo, incentivando muitas categorias dos EUA a se sindicalizar também.

Também no início do ano vimos a resistência ao golpe de Estado em Mianmar, em que rapidamente se transformou em várias greves gerais, com elementos de autodefesa. Na França, também ocorreu a greve na refinaria da Petroleira Total em Grandpuits, onde se expressou a capacidade dos operários darem uma resposta também a questão climática.

Mais recentemente vimos a onda de greves nos EUA com o Striketober, assim como também das pessoas deixando os empregos. Em outubro também ocorreu uma greve de metalúrgicos em toda a África do Sul, que paralisou o país. E no fim de novembro ocorreu no Estado Espanhol a greve dos trabalhadores da Metalúrgica de Cádiz.. Essa greve se inseriu no contexto de uma onda de conflitos operários no país e foi marcada por ter sido uma das mais longas e que mais se enfrentou com a repressão. Além disso, atraiu imensa simpatia de toda a população e ocupou a capa dos principais jornais durante dias.

Os motivos para essa nova onda de lutas operárias são vários. Primeiro, após o ápice da crise econômica durante os períodos de maiores fechamento da economia, agora se inicia um processo de recuperação. Se esse processo de recuperação diminui as taxas de desemprego e tira um pouco do medo dos trabalhadores quanto a isso, é fato que os níveis de vida, de salários, de direitos e condições trabalhistas ainda são muito inferiores aos patamares pré-pandemia – que já eram baixos marcadas por uma estagnação da economia mundial pós 2008. Além disso, durante a pandemia, as restrições impostas deixaram expostas a olho nu que eram os trabalhadores que realmente faziam a economia girar, além de também ressaltar o papel dos trabalhadores chamados “essenciais”. Por outro lado, mostrou que os capitalistas não dão a menor importância para a vida dos trabalhadores.

Por mais que ainda sejam poucos exemplos, eles já mostraram a força que a classe operária tem. Além disso, essa recomposição é de extrema importância estratégica para a esquerda revolucionário e pode dar o tom dos próximos grandes processos de luta.




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