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NELSON MANDELA | A cem anos do nascimento de Nelson Mandela

As homenagens pelo centenário do nascimento do líder sul-africano se tornaram um ato de extremo cinismo, a reivindicação de Mandela por parte dos representantes dos governos imperialistas busca esconder o papel que cumpriram durante o Apartheid ao apoiar durante décadas o regime racista que lhes garantia lucros fabulosos.

quarta-feira 18 de julho de 2018 | Edição do dia

Nesta quarta-feira, dentro e fora da África do Sul, foram prestados tributos à memória de Nelson Mandela, no dia em que ele completaria 100 anos de idade. O líder e primeiro presidente negro da África do Sul, morreu aos 95 anos, em dezembro de 2013.

Na África do Sul, vários eventos foram realizados, lembrando quem foi uma das maiores figuras do século 20 e a quem os sul-africanos identificam como um dos pilares da luta contra o Apartheid. Mandela representou para milhões a luta dos negros contra o regime racista que governou o país por quase cinquenta anos. Os 27 anos nas prisões do regime deram a ele autoridade sobre milhões que foram mobilizados.

Alguns atos, porém, foram carregados de cinismo, com as saudações dos principais governos imperialistas, incluindo o britânico de Theresa May, que foram os principais responsáveis pelo brutal regime segregacionista do Apartheid e que lucraram e fizeram negócios sob esse governo.

Mas o objetivo das celebrações não é apenas que esses presidentes ou ex-presidentes, como no caso de Barack Obama, deixem seus países livres da culpa sobre a responsabilidade do Apartheid, mas também o de reivindicar o Mandela da reconciliação.

A figura de Mandela é usada para afirmar que ele assinou o pacto com o último governo branco de Frederik de Klerk (e com o endosso do imperialismo), que impôs um fim ordenado e pacífico ao Apartheid. Aquele que buscou "paz e unidade nacional" e pôs em prática (durante seu mandato como presidente) a Comissão da Verdade e Reconciliação, que garantiu a impunidade dos autores dos crimes racistas e a violação dos direitos humanos, deixando-os livres de culpa e responsabilidade simplesmente pelo reconhecimento de seus atos, como forma de alcançar a "pacificação nacional". Utilizam esse acordo para mostrar a milhões de pessoas oprimidas que o caminho é a reconciliação, a busca de reformas dentro do regime que oprime e explora milhões.

Sua eleição como primeiro presidente negro na África do Sul representando o Congresso Nacional Africano (CNA) e a Tríplice Aliança (aliança entre o CNA, o Partido Comunista [PCSA] e o centro sindical [COSATU]) foi a culminação de sua luta e ao mesmo tempo permitiu, que na África do Sul, a queda do Apartheid, já enfraquecido pelas mobilizações operárias e populares, não ocorresse de forma revolucionária.

Mandela lutou pela queda do Apartheid para alcançar a igualdade de oportunidade para negros e brancos, para alcançar a "liberdade" dentro do marco do capitalismo. Para Mandela e para os dirigentes da Tríplice Aliança, a construção da democracia na África do Sul daria a oportunidade de acabar com a pobreza e a exploração sofridas pela maioria da população. Em seus discursos, eles disseram que a queda do Apartheid incluiria a nacionalização das minas nas mãos de empresas imperialistas, a garantia de serviços básicos para a maioria da população pobre e a resposta às demandas democráticas da maioria trabalhadora e popular.

Longe disso, o governo da Tríplice Aliança foi o que garantiu a estabilidade capitalista e, sobre tudo desde a segunda presidência do CNA (Thabo Mbeki), a aplicação dos planos neoliberais, as privatizações e a entrega da riqueza nacional ao imperialismo.

Isto permitiu o surgimento de um setor minoritário da população negra (que inclui os próprios burocratas sindicais, controlando empresas terceirizadas, como no setor de mineração), que se beneficiou com o fim do regime do Apartheid e deu lugar a uma nova elite e burguesia negra, enquanto para a maioria negra (80% da população) as condições sociais continuavam as mesmas, vivendo em cidades super populosas, com o desemprego atingindo 25% e condições de trabalho exploradoras.

A liderança do CNA que estava à frente das homenagens nesta quarta-feira é tão corrupta e ligada aos negócios dos empresários que no final do ano passado teve que projetar um golpe para derrubar o presidente Jacob Zuma, envolvido em múltiplos escândalos de corrupção. Seu substituto, Cyril Ramaphosa, não é muito melhor. Tendo sido um líder sindical no passado, ele escalou como sócio das empresas de mineração até se tornar um dos homens mais ricos do país e é acusado de colaborar no massacre de trabalhadores mineiros em Marikana em 2012.

Cem anos depois do seu nascimento, o que poucos gostam é que Mandela representou para milhões de trabalhadores explorados na África do Sul o questionamento e a luta para acabar com a exploração capitalista da burguesia branca e do imperialismo sobre as grandes maiorias na África do Sul, embora este não tenha sido o objetivo de sua luta.

Esse "sonho" de milhões ainda está para ser cumprido e será das próprias mãos dos trabalhadores e do povo pobre que poderá se cumprir.




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